Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Eyes wide shut

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No imediato, o problema que se me coloca é tentar, simultaneamente, entender a Nicole do Kubrick, que se vai despindo ali pela televisão, e a Esmeraldina do Benitez, que se vai despindo, menos, no Finotti.

Tendo em conta que o epílogo palavreado de Kidman é bastante mais assertivo, torna-se claro que a relação entre aquilo que vemos e aquilo que não vemos da Esmeraldina implica interpretações bem mais abrangentes. Facto esse que ainda assim não menoriza o Kubrick; até porque é nestas pequenas coisas que se consegue perceber a distância entre a probabilidade da arquitectura e a possibilidade do cinema.

Massad por Augé

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Era disto que Massad falava, quando falava na obrigação de mudar a forma das coisas: de Ordos, por exemplo. Alega Massad que a aceitação cega da cenoura (à frente do burro) equivaleria à própria destruição do significado da arquitectura - isto dito por mim.

Não se trata obviamente de um problema de consciência, até porque seria uma hipocrisia pensar-se em alguém que tem como única ambição fazer arquitectura fosse capaz de desprezar uma encomenda como a de Ordos - e aqui a minha posição é de que não há nenhum trabalho que mereça a recusa. E no entanto a questão não reside tanto na recusa ou no seu contrário, mas antes na capacidade em agir criticamente sobre ela. Ou seja: ser capaz de inverter as regras do jogo.

O problema aqui é que não acredito que alguém tenha já vontade de mudar qualquer tipo de regras.

Doctor Pangloss

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Ao contrário da previsível concentração disciplinar da próxima Biennale, Lisboa parece apostada na variabilidade. Isto, claro, se concordámos com a ideia que Gordon Matta-Clark não era de facto arquitecto; facto nem sempre evidente.

Portugal fora de Portugal

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Central Dallas Community Development Corporation (Central Dallas CDC) announced today that it has selected the architectural firms MOOV and Atelier Data as the design architects for the Re:Vision Dallas project, which will turn a parking lot immediately south of Dallas City Hall into the first truly sustainable city block in the world. MOOV and Atelier Data, both located in Lisbon, Portugal, jointly submitted the Forwarding Dallas proposal that was named one of the three winners of the Re:Vision Dallas international design competition last May.

A queda de um império

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Fai Chi Kei, Macau, Manuel Vicente

O Manuel Vicente de quem julgo saber rir-se-ia - julgo - de tudo isto. Piscaria os olhos, encolheria os ombros, para logo a seguir assumir aquele esgar que lhe é tão próprio - um misto de raiva, fina ironia e algum cinismo- e chamar-nos-ia, em voz alta, estúpidos. Estúpidos por nos preocuparmos com questões de somenos importância. Como se o fim das coisas não fizesse parte da ordem natural do mundo; diria. Logo a seguir explicaria que sim: que as coisas acabam, e que não há mal nenhum nisso; até porque tudo aquilo que interessa não existe propriamente à nossa volta, e ainda assim somos capazes de as convocar, às coisas que nos interessam, sempre que precisamos. Concluído-se, portanto, que o significado das coisas não passa pela sua existência, nem mesmo pela sua manutenção.
A nossa obrigação - diria Vicente - enquanto arquitectos seria preocuparmo-nos com as coisas que estão por fazer, e nunca com aquelas que estão feitas. Acusar-nos-ia, não sem alguma violência, de atentar revivalismos ocos. De sermos românticos; daqueles: decadentes, incapazes do desprendimento. E por fim falava das coisas que lhe eram significativas. Entre elas aquela frase do filme do Visconti onde se diz que tudo tem de mudar para as coisas ficarem mais ou menos na mesma. Da importância da história apenas de lhe ouviria um murmúrio longínquo, marcado pelo desprezo.

Teria, em tudo, razão, esse Manuel Vicente de quem julgo saber. Afinal todos os dias as coisas mudam. Destroem-se. E nada de basilar nos acontece.
E no entanto há coisas que nos serram ai meio. Podem ser apenas fruto do apego à nossa própria memória. Mas esses desassossegos são, ainda assim, aquilo que nos vincula ao outro. Que é o mesmo que dizer: a nós próprios.

Pode ser, por isso, que demolir o Fai Chi Kei seja pouco mais que uma irrelevância. No entanto aprendi, julgo que com esse Manuel Vicente de quem julgo saber, que não é por serem irrelevantes que os factos dispensam a nossa maior atenção.

Da simplicidade das questões

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Não é que Figueira não tenha razão. Tem. Sobretudo quando afirma que a coisa é rudemente pop, inconveniente. Ou que, na igreja, não há nada que se aproveite. Evidentemente.

No entanto, caso se mantenha este discurso de tentativa de desmontagem ideológica do projecto de Troufa Real, corre-se o risco de dar-lhe, a Troufa Real, um estatuto que ele não tem: o de autor.
Na verdade é Troufa Real quem ganha, sempre que se alimentar a polémica em torno do gosto; dando espaço à eterna exigência pela liberdade criativa.
Dever-se-ia antes tentar-se explicar que o exercício de criatividade implica o exercício da responsabilidade. E a responsabilidade de um arquitecto passa pela ambição em fazer um bom trabalho. Que no caso de Troufa Real nunca existiu. Sublinhe-se: não se trata aqui de uma questão de gosto, nem mesmo de ideologia ou de posicionamento estético. Mas antes de pura incompetência arquitectónica.

Da efemeridade da beleza e da fama

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Britney Spears, 2003, por James White, Esquire Nov. '03

Para quem estava à espera de uma espécie de Mike Tyson a puxar orelhas à dentada, a noite não foi propriamente espectacular .
Ainda assim Massad é criterioso na crítica que faz: não tanto ao starsystem mas sobretudo aos seus subprodutos que vão despontando como cogumelos aqui e ali. E isso é, na verdade, uma análise clara da produção arquitectónica na última década. Para lá dos lugares comuns - ainda assim uteis, sobretudo se pensarmos na composição da plateia- sobre a efemeridade da beleza e da fama que trespassa o discurso vagamente romântico e moralista de Massad, a pergunta, simples e directa, que o argentino lança não perde validade alguma: afinal esta arquitectura serve o quê?

No fundo Massad quer passar a ideia de que a instrumentalização da imagem não serve a arquitectura. Quer dizer: transfere o desejo, e torna-o em simples e banal objecto de trabalho da pornografia. O problema aqui é que a noite não terá sido suficientemente longa para percebermos qual será de facto a alternativa; isso se retirarmos as sugestões vagamente ecológicas ou neo-regionalistas - o típico erro dos românticos que me deixa arrepios na espinha- timidamente alinhavadas no seu discurso.

Bem sei que a responsabilidade da crítica pára nesse exacto momento em que a arquitectura começa. Embora Massad tenha procurado pôr o dedo na sua própria ferida, quando clama que as revistas devem assumir a sua quota-parte de culpa na desmoralização da arquitectura - ou seja, na transformação do objecto de desejo em pornografia -, ficou a ideia de não-retorno. Facto esse que nos torna a todos numa espécie de público-alvo da Hustler.

Always look on the bright side of life

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Why do we waste so much time trying to complete things that can't be realistically completed?


We like lists because we don't want to die: Entrevista a Umberto Eco, Susanne Beyer e Lothar Gorris, Spiegel, 11 Nov. '09

Dancing days

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Hollywood
Palladium, Los Angeles, 1940, Gordon B. Kaufmann [foto: Ralph Crane, 1946; via El Pais]

Adenda à entrada anterior

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E no entanto, nessa prática, reside de facto um problema, que se deve à aparente impossibilidade de se negar a procura do desejo.

Diga-se o que se disser: se as práticas artísticas se libertassem dessa inesgotável demanda do desejo, talvez fosse possível exercitar, com toda a lucidez, essa reflexão que tanto parece confundir aquela teoria que se diz - erradamente, já se vê - autónoma.
Face a isso, admito de facto a confusão: a ambição, desmesurada, em prol do desejo, implica a redução da capacidade de se ser lúcido. E no entanto é o potencial desse fenómeno que tem vindo a alimentar os melhores momentos da história da arquitectura. Pelo menos daquela que me consigo ir lembrando.

Cisão (a frio)

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Admitir que o distanciamento da prática possibilita uma mais profunda reflexão disciplinar implica, obviamente, a negação da própria arquitectura enquanto instrumento que estrutura o pensamento disciplinar.

O que é o mesmo que dizer: acreditar que a prática - e, com ela, quem a pratica - é incapaz de reflectir sobre determinado fenómeno é por si só um paradoxo. Também é um erro.

Nota (crítica)

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Sexta-Feira, dia 20: Fredy Massad em Lisboa.

Um lugar no mundo

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Homebody. The Wittgenstein House, 2003-2004, Paulo Mendes com a.s*; na foto: Schizolife systems, 2004, CAP, Coimbra (fonte: Paulo Mendes)

Na verdade foi Paulo Mendes quem trouxe, debaixo do braço, a ideia: fazer a chamada Casa Wittgeinstein. Que não: não é (só) da autoria de Wittgeinstein. Também não é a casa onde Wittgeinstein habitou: na verdade o filósofo era dado a ambientes bem menos modernos. E que dá pelo nome oficial de Casa Stonborough.

Tentámos primeiro faze-la à escala real. Parte dela: os salões e a tal entrada com as escadas. E aquelas outras escadas que dobram a meio. Tudo dentro da FIL. Desenhamos a coisa toda. Salas e Saletas. Degraus. Portas. Frisos. Até o puxador que vinha numa imagem publicada no livro que Paulo Mendes trazia, sempre, debaixo do outro braço.
Depois, como fazem todos os arquitectos falhados quando tudo falha, apostámos em fazê-la à escala 1:20. Toda. Mas em pequenino. A maquete deve andar por aí, num armazém qualquer.

Um dia destes ainda pego em Paulo Mendes, ponho-o debaixo do braço, e levo-o comigo a Viena, nem que seja só para confirmar se é verdadeira a tese que diz: a unica coisa que Wittgeinstein fez foi pegar no projecto original de Paul Engelmann, e alterar-lhe as proporções, na medida exacta da sua irmã Margarethe - que chegou a ser retratado por Klimt -: dizia-se, era um bocadinho - um bocadinho apenas - mais pequena que o normal. Como à maquete.

As coisas já foram melhores

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É no mínimo curioso constatar que desta mão cheia de filmes, os dispensáveis são exactamente os mais recente. Pode ser que Of Time and the City seja uma boa surpresa - assim o espero; mas o que é certo é que se vai notando um certo declínio à medida que o tempo passa. E olhem que isso não é só um fenómeno cinematográfico. Digo eu: um optimista convicto.

Fachadas lisas e mulheres

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Pode até ser coincidência, mas a única fotografia em que Mies aparece acompanhado por uma mulher que não a Lilly Reich é também a única fotografia em que Mies mostra um emotivo e rasgado sorriso. Riso.

A obra de arte na época da sua reprodutibilidade técnica

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Guggenheim, Las Vegas, 2001, OMA

Facto

em meados do mês passado, Salgado adiantou que, afinal, o número de processos desses [2] autores somava perto de 1200 no triénio em causa.
Explicação n.º 1
Temos muitos processos porque somos jovens e modestos e fazemos de tudo [...]
Pergunta
E o facto de o seu pai ter trabalhado no Urbanismo da câmara até há cinco anos e ter lá familiares não lhe facilita a angariação de clientes e a aprovação dos projectos?
Explicação n.º 2
De modo algum, basta ver as propostas de indeferimento que existem em muitos dos nossos projectos [...]
Conclusão
[...] até há três anos assinava muitos projectos de restaurantes e bares [...] que eram feitos por técnicos da CML que não os podiam assinar
Acção
[...] todos têm direito ao bom-nome.

Ps

Não é totalmente esclarecedora a notícia do público em relação à posição da Ordem dos Arquitectos sobre este assunto. Uma coisa é certa: nem todos têm direito ao bom-nome; sob pena de o bom-nome ir de encontro àquilo que são as regras deontológicas de qualquer cidadão.
Ou então a coisa pode ser vista de outro ângulo: fazer um projecto de 3 em 3 dias - isto se aceitarmos como verdadeiro o tal número de projectos [500] dado como certo pelo Público - equivale a uma invejável eficácia produtiva. Afinal tinha razão o Walter Benjamin.

Prima Donna

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Teatro del Mondo, 1979, Aldo Rossi

Ia para dizer que desde 1986 - o último ano em que Rossi coordenou Veneza - não se via nada assim: entregar da Biennale a um arquitecto. Ia dizer, mas não digo. Até porque, ou muito me engano ou o lugar ocupado por Rossi se deveu, na altura, muito mais ao que ele dizia (escrevia), do que àquilo que fazia; mesmo que fosse mais ou menos nessa época (mais precisamente em '79) que Rossi tivesse construído a sua obra maior. O mesmo aconteceu com Gregotti,e também, de uma outra forma, com Portoghesi - e deixo propositadamente Fuksas de fora. Parece que Veneza esteve sempre mais interessada na moldura do que no quadro. Quer dizer: na escolha dos quadros pelas molduras disponíveis lá por casa.

Nesse sentido, dir-se-ia: temos uma estreia absoluta: um arquitecto que não escreve. Daqueles que fazem casas e tudo. A ver.


ps. Para regozijo de quem cultiva distinções de géneros: uma dupla estreia, já se vê.

Adenda à entrada anterior

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Enfim. Retiro o que disse.

Manguito do Mangado

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Museu de Arqueologia de Alava, Victória, Francisco Mangado, 2009 (via Archdaily)

Um equívoco. Admito. Mas para mim a obra de Mangado fazia parte daquele grupo de projectos onde incluo, entre outros, (edifícios de) autores como Moneo ou Byrne. Não é que este grupo qualifique algo. Não se trata sequer de um medidor que possibilite equiparências. Não. É antes uma daquelas arrumações mentais, sempre levianas mas ainda assim confortáveis, que nos permitem engavetar modos ou sensibilidades.

Neste caso Mangado lá ia ficando esquecido nesse tal armário dos tipos que fazem coisas grandes, amorfas, arrastadas, menos elegantes, garantindo no entanto um ar qualquer, uma parecença - nebulosa, já se vê - com alguma coisa. Se necessário fosse ilustrar, assim de repente, aquilo que o define, ao grupo, talvez pudéssemos relembrar a embaraçosa Faculdade de Informática e Electrotécnia da Universidade de Coimbra, com suas longínquas e ingénuas citações a obras de outra craveira. Mas isso seria algo injusto, até porque a maior parte das obras ou dos autores que cabem nesse armário são competentes.

Bom: tudo isto estaria pacificamente catalogado nesta minha estante preconceituosa, não fosse Mangado dar a volta ao texto, e andar para aí a mostrar (belas) imagens do Museu de Arqueologia de Alava.

Chama-se a isto engolir sapos. E não é que os sapos afinal não sabem assim tão mal?

North by Northwest

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Vandamm House [MGM: Boyle, Hornign, Pye, Grace, McKelvey], North By Northwest, A. Hitchcock, 1959

Das três razões que nos prendem ao sofá sempre que passa o North by Northwest, a mais racional deve-se àquela casa do Monte Rushmore. Desconfiavamos, claro, que a casa não ficava propriamente no Monte Rushmore; mas isso seria, quanto muito, um incómodo menor, face à curiosidade de saber a origem da coisa.
Descubro agora que a casa é falsa. quer dizer: nunca existiu realmente. Ou antes: nunca ninguém a habitou. Facto este que só confirma a suas qualidades arquitectónicas.

O que os edifícios provocam

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E não é só por ter construído pouco que a sua obra constutui uma raridade, mas pela extraordinária comoção que os seus edifícios provocam.

A morte de um arquitecto hiper-realista (obituário a Paulo Gouveia), Ana Vaz Milheiros, Público, 7 Nov. '09

Descuido crítico

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5 Áfricas 5 Escolas; representação nacional na Bienal de S. Paulo, Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Br.; 2009 [via DG Artes]

Estava para aqui a pensar por que razão é que ainda não li nenhuma crítica oficial às 5 Áfricas 5 Escolas. Mas logo percebi que todos os críticos de serviço estão de uma ou outra forma ligados ao projecto de Graça Dias.
Ora aqui está uma maneira fácil de acabar de vez com a crítica: vertê-la em arquitectura.

Adenda à entrada anterior

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Por outro lado não posso deixar de pensar na acusação, curiosa, que me fizeram num desses Verões que nos vão salvando: a de que desprezava a Teoria. Não é que a autora de tão precioso mimo tivesse precisado com suficiente exactidão o significado de Teoria. Mas não me pareceu, durante um momento sequer, que se estivesse a falar realmente de arquitectura.

Petit Cabanon

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Da série I Konw Where the Summer Goes, Ryan McGinley, 2007.

O Verão é que nos vai salvando: dizem-me simpaticamente. Verdade: o Verão é que nos salva. A nós e à teoria. E no entanto às vezes merecemos não ser salvos. Nem que seja por estarmos fartos. Do Verão.

1989

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Berlin: Hans Conrad Schumann em Bernauerstraße, 15 de Agosto de 1961; Peter Leibing (via Iconicphotos)

Não há especial grandeza estética nas imagens que Patrick Rotman nos oferece no seu Un mur à Berlin. Na sua maior parte são cenas filmadas por amadores. Um por câmaras de televisão daquelas que se usam nos noticiários. E no entanto, neste documentário residem das mais belas sequências humanas dos últimos 20 anos. Contrapostas que estão a algumas das mais trágicas sequências humanas do último século.

Princípios de Novembro

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Museu do Vinho, Pico, 1999, Paulo Gouveia

Nunca tive propriamente oportunidade de me cruzar com Paulo Gouveia. De lhe falar. Ou de lhe tentar dizer o como admirava as obras que lhe conheço. Se até agora isso era apenas uma condição, a partir de hoje a situação tornou-se irreversível. Facto que é demais lamentável.

Novembro não começa bem.

(ps: para o mensageiro, dir-se-ia não haver palavras para evitar o inevitável. Sad news indeed)

Beyond vs. Behind

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One Step Beyond, 1979, Madness (via Odp)

Assistia, com entusiasmo, à resenha do percurso de Pedro Gadanho, apresentada pelo próprio a um grupo de estudantes da Elisava: Post Rotterdam, Space Invaders e Pancho Guedes, intervalados pela Ellipse Foundation ou por aquela casa com ares de poder ser capa da Frame, finalizando com a Beyond. A propósito da variedade e variabilidade dos trabalhos que se nos deparavam, consciente da sua aparente heterodoxia, Gadanho avançou com a tese na qual o exercício do pensamento arquitectónico apenas poderá ser eficaz se distanciado da prática quotidiana de atelier. Quer dizer: a teoria da arquitectura só se torna uma evidência para aqueles que, como o autor, não se obrigam a passar os seus dias embrulhados nos normais constrangimentos de quem faz projecto. Sendo esse desfasamento que permite questionar a prática, e alterá-la.

Quando chegou a minha vez de falar, só pensava que se algum dia tivesse, como Gadanho, a minha própria revista de arquitectura em inglês, chamar-lhe-ia, certamente, Behind. Entenda-se: não seria propriamente uma revista de história - tema esse que para Gadanho, como para qualquer progressista - parece ser de somenos importância - mas uma coisa dedicada exactamente a explicar de que forma é que nos projectos de arquitectura se estabelece o significado da própria disciplina.

O mais curioso no entanto é o (aparente?) paradoxo: entre as coisas que Gadanho apresentou e os poucos projectos que explicámos, contabilizei seis trabalhos partilhados; todos eles pouco dados a discórdias.
O que me faz concluir que a forma das coisas não estará propriamente limitada aos seus conteúdos. Muito menos à forma de os comunicar.

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In Heaven. Everything is fine. Sem imagens. Claro.



Som da frente

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Pensar que as pessoas morrem no momento que deixam de respirar é um erro. Na verdade as pessoas, tal como as gerações, começam a morrer muito antes, quando as suas referências falecem.

Na verdade o termo geração nunca se refere apenas ao percurso de vida de um indivíduo, ou de todos os outros que partilham a sua idade. Não. Porque Geração implica sempre alguém a montante e alguém a jusante: aqueles com quem aprendemos, e aqueles que havemos de ensinar.

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