Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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dois mil e dez

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Ter obra há dez anos

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A Casa do Tractor, 1999, a.s* (foto Sérgio Mah)

Faz por estes dias uma década que (não) acabámos a nossa primeira obra: na época um editor qualquer recusou publicar A Casa do Tractor, com o argumento que a sua revista não publicava edifícios em obra. Pareceu-me, obviamente, uma resposta sensata.

Dez anos depois a Casa do Tractor abriga umas quantas galinhas. Está suja e desarrumada. Os tijolos tem verdete, e o betão escureceu. Está bem assim A Casa do Tractor.

Coisas sobre o fim do mês de Dezembro

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Aleluia, excerto de O Messias, 1741, Händel [imagem da partitura original via The Guardian, disponível na Brithish Library]

Dois textos

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Dois texto de Garcia Barba, do blog Islas y Territorio: o Talento, e Retaguarda Crítica. Para fechar o ano.

Arábico

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De certa forma a Casa das Artes constitui um momento relevante na história recente da arquitectura nacional, sobretudo se pensarmos no contexto disciplinar de então, muito mais próximo que estava de intentar as prolíficas manifestações cosmopolitas que iriam marcar a década de oitenta.
Aos de Lisboa, a cidade parecia-lhes, nessa época, o lugar mais próximo da Europa.
Taveira fazia as Olaias, e ganhava estatuto de promissor. Luís Cunha desistia definitivamente do modernismo, optando por aquilo que lhe parecia a verdade na história. Graça Dias estava de regresso à capital depois da sua experiência macaense com Manuel Vicente, para fazer parte dessa Idade da Prata que encheu durante um bom punhado de anos as noites do Frágil e as páginas dos jornais mundanos que despontavam aqui e ali. De Carrilho - um autor da geração de Souto de Moura -, com atelier montado desde 1977, não se lhe conhece qualquer obra antes dos anos 90, entregue que estaria ao ensino. Byrne andaria às voltas com a Pantera Cor-de-Rosa. Hestnes e Figueiredo andariam à procura, mais um que outro, do seu tom; enquanto Teotónio abrandava o ritmo, depois de ter feito as suas obras-primas.

Tirando o eterno Siza, os tempos eram de alguma confusão: se Lisboa parecia mais próxima de mergulhar a fundo no pós-modernismo diletante, num aparente desejo de um outro país, o Porto, esse, agarrava-se, com afinco, como num beco sem saída, a fundamentos mais dados à resistência do que à persuasão.
Nesse contexto, mais do que o Mercado de Braga - onde aparecem colunas inacabadas e pedras soltas - , é o Concurso da Casa das Artes que inaugura Souto de Moura como autor, abrindo um caminho até então pouco dado a especulações por terras lusas.

Se é verdade que herança da Casa das Artes só viria ganhar importância uma década depois, muito por contraponto aos desvarios pós-modernos lisboetas, sendo sobretudo digerida pelas gerações que a Escola do Porto ia pondo cá fora; Souto de Moura não se desviaria, senão já nos finais dos 90's, do seu próprio paradigma. Esse paradigma que, feliz ou infelizmente, se tornaria, anos depois, o maior dos lugares comuns pela qual a arquitectura portuguesa tem vindo a falecer.

Se é verdade que Souto de Moura se tornou num dos mais influentes autores em Portugal - procurando, é certo, livrar-se dos seus próprios fantasmas - , ganhando notoriedade e conquistando o seu espaço, não deixa de ser curioso constatar que a Casa das Artes (1981) foi o único concurso ganho nos seus quase 30 anos de carreira profissional; isto se excluirmos o projecto para o Hotel de Salzburgo (1987), cuja obra nunca viu a luz do dia.
E no entanto é a reboque desse projecto que Souto de Moura iria ganhar alguma visibilidade internacional, fazendo-o envolver-se com aqueles que seriam na altura os seus pares mais naturais - Herzog ou Chipperfield.
Embora a produção de Souto de Moura tenha desde então vindo a ser regularmente acompanhada pela crítica lá de fora, tornando-o num dos poucos autores portugueses recorrentemente citados fora-de-portas, certo é que por uma ou outra razão o autor não terá grangeado o mediatismo que lhe permitiria acompanhá-los, ao suíço e ao inglês, na desmultiplicação prolífica de obras um pouco por todo o mundo; fenómeno aliás semelhante ao que se passou com outros autores ditos periféricos, como por exemplo no caso do galego César Portela.

Aparentemente o final de 2009 vem acabar com tudo isso: o facto Souto de Moura ter ganho apenas um concurso (excluindo-se o tal de Salzburgo, claro). E de ser considerado um autor local, ou periférico.
Quem sabe, poderemos, um dia destes, dizer da Escola em Abu Dhabi o mesmo que acabámos de dizer da Casa das Artes: que ela constituiu um momento de viragem na arquitectura portuguesa; ajudando a (re)criar um autor.

Schulman

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Nota

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Edifício Montepio Geral, Porto, 1960, Agostinho Ricca [via o Guia de Arquitectura do Porto do Fio de Prumo]


Embora seja há muito objecto de atenção, só agora percebemos a nossa desatenção sobre o responsável por aquele edifício que lá vai ajudando quem sobe a Júlio Dinis: Agostinho Ricca.

Dos credos ecuménicos

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Centro de Congressos de Córdoba, 2002/..., OMA

Nuestra incapacidad para modernizar nuestro propio concepto de lo urbano nos ha
conducido a un terrible urbanismo loco, que aparece por todos lados, que nos rodea, con su mediocridad, con un simbolismo sostenible de la peor calaña, con un cinismo verde, una nulidad del espacio público que se ha convertido en un espacio de exclusión cada vez más radical. Nuestra agencia ha intentado escapar de todo esto. Por eso es por lo que hemos lanzado hace algún tiempo la idea de una arquitectura genérica, inspirada en Erasmo, Lutero y Calvino, asumiendo así nuestro calvinismo

Vivimos un urbanismo loco, entrevista a R. Koolhaas por Javier Mozas / Aurora Per, Babélia, 19 Dez. 09

Tendo em conta que uma das doutrinas básicas do calvinismo refere a caridade como o vínculo da perfeição, o risco de o cinismo poder vir a tornar-se, daqui a uns anos, o elemento pelo qual a arquitectura desta primeira década do Séc. XXI será reconhecida, começa a ganhar contornos de inevitabilidade.

Da realidade vista sobre um certo ângulo recto

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Foi publicada a convocatória à Bienal Ibero-Americana de Arquitectura, que decorrerá em Medellín, em Outubro próximo.
A delegação portuguesa é uma vez mais composta por Ana Tostões (Comité de Acessoria, com trabalho anterior para as Bienais de Madrid, México ou Chile) e Gonçalo Byrne (Júri Nacional para o Prémio de Arquitectura, repetindo dessa forma o papel desempenhado em Lima, em 2004), sendo a maior novidade a escolha de José Adrião (Delegado Nacional), a quem caberá a responsabilidade de seleccionar as 10 obras nacionais a serem expostas.

Tendo em conta a anterior história das representações nacionais na BIAU (ver aqui e, depois, ali), não se prevêem alterações significativas no modo como a arquitectura nacional tem vindo aí a ser representada.

Nota sobre a magnitude

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A possibilidade da terra tremer não deveria implicar necessariamente a sua transposição para o real

Vernacular Footnote

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Sandálias Bernard, 1949-1964, Bernard Rudofsky (via Artland)

Adenda à entrada anterior

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Adenda às entradas anteriores

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Não há qualquer tipo de dúvida em afirmar a superioridade do Insel Hobrich de Siza em relação ao Insel Hombrish de Siza. Não sendo um e outro obras maiores (só um milagre permitiria atingir, ao de leve, a elevada fasquia de Siza) há ainda assim, em ambos, aquele misto de ascetismo e de requinte clássicos que lhes garante o embrincado próprio da intemporalidade. Mais num do que noutro, é certo.

Insel Hombroich

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Museu Insel Hombroich, Düsserdorf, 2009, Álvaro Siza [Fotografias de Fernando Guerra]

Insel Hombroich

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Museu Insel Hombroich, Düsserdorf, 2009, Alvaro Siza [Fotografias de Duccio Malagamba]

Factos incontornáveis

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Casa Aalto, Muuratsalo, 1952, A. Aalto


O frio. Esse factor civilizacional.

Sobre o desejo da nidificação de cegonhas

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Alguém deixou, nas paredes do atelier, um recorte com uma entrevista. Quer dizer: não é bem uma entrevista. É mais uma daquelas páginas publicitarias travestida de notícia ou, neste caso, de entrevista. Daquelas. Que saem nos suplementos imobiliários.
Dizia: alguém a deixou na parede, ao recorte com a entrevista. O entrevistado: José Quintela, o arquitecto-chefe da Sonae, responsável por grande parte dos centros comerciais que populam um pouco por todo o lado. Nela, Quintela lá vai falando; dizendo-se orgulhoso do facto das casas de banho de um shopping por ele desenhado terem sido consideradas as melhores do mundo ou, ainda melhor, confessando a sua angustia por nunca ter conseguido construir uma cegonha de 40 metros na esquina de qualquer centro comercial.

Ocorre-me uma explicação para o facto da entrevista de Quintela estar lá pelas paredes do Atelier. Será certamente uma espécie de última reserva de auto-confiança: mesmo quando as coisas não correm bem e os projectos parecem um disparate, basta olhar para a parede para dar de caras com um tipo cuja obra será sempre bastante pior que a nossa. Rir de Quintela (como aliás já se fez por aqui) é uma forma, fácil, de exorcizar as nossas próprias limitações.
Pode ser que seja verdade: que a obra de Quintela seja bastante pior do que a nossa pior obra. Até porque, olhando para aquilo que Quintela faz, dificilmente acreditaríamos que a arquitectura fosse coisa considerada por este arquitecto.
O problema é que isso não é verdade. Trata-se, simplesmente de um fenómeno dado a antagonismos: Quintela nunca será minimamente considerado por nenhum autor nem por nenhum crítico de arquitectura, e vice-versa. Para estes o trabalho de Quintela nunca será catalogado como arquitectura, e sua obra nem sequer terá direito a ser apelidada enquanto tal. Por outro lado essa gente será apelidada, por Quintela, de diletante e inconsequente: gente pretenciosa, cujo pensamento ou a obra diverge do bem comum.
Não é que não possa concordar com esse eventual ponto de vista de Quintela, até porque se o diletantismo serve para alguma coisa, é exactamente para constatar que a maior parte daquilo que levamos o dia a pensar é inútil e inconsequente. Como o é a maior parte do trabalho feito por esses arquitectos que consideramos, independente de gostarmos ou não da sua obra.

O curioso no entanto é descobrir que afinal o pensamento de Quintela não está assim tão distante de qualquer outro arquitecto: afinal todos gostariam que a nossa obra - casa de banho ou outra coisa qualquer - fosse considerada a melhor do mundo. E cegonhas de 40 metros? Apresentem-me um arquitecto que não ambicione fazer, por uma vez na vida que seja, uma cegonha com 40 metros? De altura?
Concluo: Quintela somos nós. Todos.

Dos fraudes da década.

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Sabendo que estas listas que por aí se vão publicando são, no fundo, disparatadas, confesso alguma agonia em constatar que o único arquitecto considerado pela Times, na década que passou, foi Hadid. Mas lá vamos ficando mais descansado quando, logo abaixo, lemos o nome de Madoff.

A Barriga do Arquitecto

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Claudia Schiffer, Nov. 2008 [Vogue], amorosamente fotografada por Erwin Wurm [segundo o sugerido por jac]

O resultado é, por isso, tanto mais confrangedor quanto mais se procura revestir de realismo. Evidentemente.

Dir-se-ia no entanto que a explicação é simples: é como um homem que decide casar e anda à procura da mulher mais bonita de todas. É um esteta, sacrifica tudo à beleza e depois os edifícios ficam todos lindíssimos mas é como almoçar com a Cláudia Schiffer. É bonita e pronto.

Adenda à entrada anterior

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Pergunto-me: qual o exacto momento em que um autor toma consciência que à ambição da sua obra se interpõe, como que incomodamente, a sua própria. Ou antes: se esse momento chega a tempo de poder ser redimido, e não o fazer refém desse pequeno mas ainda assim acusativo erro, que é o de esquecer que o mundo continua a existir. Como se nada fosse.

Da tendência para a reclinação e o seu desejo

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Por causa do que aqui foi escrito, temos vindo a ser regularmente visitados por leitores d'Os Cidadãos por Abrantes; um blog inteiramente dedicado a contrariar a Câmara de Abrantes no que diz respeito à decisão que tomou em encomendar a Carrilho da Graça o projecto para o Museu Ibérico.

Sendo claro, razoável até, o objectivo do Cidadãos por Abrantes - sustentado na ilegitimidade da adjudicação directa do projecto a Carrilho , e cuja saída legal terá sido a criação, em data posterior ao projecto, de uma Fundação que permitisse escapar aos contrangimentos próprios da encomenda pública -, o Blog sofre no entanto dessa ingenuidade que habitualmente rodeia este tipo de movimentos populares. Ali se vão esgrimindo argumentos escatológicos, com mais ou com menos apuro técnico, sobre o projecto de Carrilho, ao mesmo tempo que se permitem especulações pessoais e revelações sobre relações menos claras entre os vários envolvidos no processo, não se dispensando, aqui e ali, o delicado exercício da maledicência, facilitada que está a escrita pelo confortável e sempre errado anonimato que vai dispensando os seus autores de outros aborrecimentos.























Museu Ibérico, Abrantes, Carrilho da Graça, 2009 (imagem via Circo Natureza)

Não se sabendo ao certo o verdadeiro leitmotiv d'Os Cidadãos por Abrantes, uma coisa é certa: aquilo que dá pretexto ao seu esforço - dos seus autores e dos muitos outros bloggers que vão sendo ali citados por defenderem o fim do projecto do Museu tal como ele é hoje - revela-se, afinal, uma questão de gosto; facto esse que em muito vai explicando os recorrentes epítetos com que o edifício tendo vindo a ser nomeado: Pedregulho, Mamarracho, Caixote Horrendo, Bunquer Faraónico, Mastadonte, e todas os já habitais impropérios de cada vez que aparece alguém a propôr um projecto para um edifício com mais de três andares e com um aspecto mais ou menos esquisito. O problema de toda esta gente não é tanto a qualidade da proposta de Carrilho, mas a interpretação que dela fazem, nomeadamente do seu suposto impacto da paisagem.
Não é que seja de facto exigivel a um comum cidadão ter noções, por mínimas que sejam, daquilo que subjaz à ideia de paisagem; nem mesmo a capacidade de interpretar as ideias subjacentes a uma proposta arquitectónica. E no entanto, sendo embora um lugar comum, não deixa de ser estranho que a capacidade crítica em relação a um projecto se revele inexistente para tudo o resto; neste caso Abrantes e tudo aquilo que por lá tem sido feito nos últimos anos.
Evidentemente que as manifestações procuram um objecto simbólico; mas ainda assim seria expectável que estes movimentos de cidadania operassem sobretudo sobre o quotidiano, e não sobre um edifício que, pela sua própria natureza, será sempre uma excepção.

Do lado oposto os apoios são de peso: Pinto Ribeiro, ex-ministro da cultura, considerando-o um projecto de interesse nacional, e a Câmara Municipal de Abrantes - que, já agora, pretende que seja o mesmo arquitecto a desenhar as suas novas instalações - sublinha o nível internacional da equipa liderada por Carrilho; sem explicar porque razão é que a dispensou, a essa suposta equipa de nivel internacional, de trocar argumentos com seus pares num concurso aberto.

Evidentemente o que está em causa para a Câmara Municipal de Abrantes não é o projecto do Museu, mas antes ter - vá lá saber-se por que razão - um (dois, a contar com o edifício da Câmara) projecto(s) de Carrilho. E Carrilho, como qualquer outro arquitecto, serve-se desse pretexto para lá ir fazendo aquilo que quer, que pode ou que gosta.






















Museu Ibérico, Abrantes, Carrilho da Graça, 2009 (imagem de Luís Morgado)

E no entanto não há muito ainda a dizer sobre a suposta genialidade do projecto de Carrilho. Trata-se basicamente de um museu em altura - modelo já experimentado, não sem pontual sucesso, mas que condiciona fortemente a sua estrutura funcional -, cuja única explicação se deve - julgo - à ambição de alterar o skyline da cidade, criando-lhe um landmark que servirá principalmente o ego dos seus instigadores, mais do que os habitantes de Abrantes.
A maqueta é relativamente esclarecedora acerca do ortodoxismo da proposta, cujo maior interesse reside num vazio central que percorre os vários pisos do edifício. Resta saber se o generoso Edil viabilizará tal solução, que aparentemente colide com o cada vez mais apertado pacote legislativo que por aí anda.
Aparentemente o projecto pouco acrescenta à obra de Carrilho, apontado que está, cada vez mais, à contenção formal; dispensando-se, a proposta, de uma reflexão mais consequente e enriquecedora da natureza da sua própria arquitectura, como alías tem vindo a ser constante nos últimos projectos do autor, nomeadamente em Poitiers ou em Nancy - apenas para citar os franceses.

Se é verdade que os Cidadãos por Abrantes clamam, com legitimidade, a realização de um concurso público para o projecto do Museu de Abrantes, o curioso, aqui, é que a proposta de Carrilho tem grande probabilidade de ser o melhor projecto para Abrantes das últimas (largas) décadas. Facto esse que só vem confirmar alguma inépcia da cidade em se compreender a ela própria.

Da resistência ao enamoramento

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Printemps (também conhecido como Hino de Amor, ou Duo d'Amour), 1925, Ernesto Canto da Maia (original no Museu do Chiado, com reprodução pelo autor no Museu Carlos Machado)

Seria pura especulação afirmar que o projecto para o Museu Carlos Machado ficará afinal fechado numa gaveta qualquer da Direcção Regional de Cultura dos Açores, trancado pela sua ex-directora. Isto, claro, se fôssemos muito dados a especulações adminstrativas. Coisa que não somos.

Diz: colagem

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Curioso constatar que as obras, por dentro, são todas iguais.
Ou será por fora?

Nota sobre os desenganados

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Released, 1989, John de Andreas

Os arquitectos: não é assim tão evidente quem é que andam a tentar enganar: se às pessoas que lhes habitam as obras ou a eles próprios. É esse permanente estado de dúvida que os separa, em difinitivo, não sem alguma violência, da classe dos artistas. Esses, que há muito sabem qual é de facto o seu alvo principal.

Deitar fora o bébé com a água do banho

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Aparentemente tudo está já escrito sobre Le Corbusier: desde as múltiplas e extensas monografias críticas à análise minuciosa de cada uma das suas obras. Se é verdade que a maior parte da revisão crítica da sua vida e obra foi elaborada por confessos admiradores seus - facto esse que porventura explicará a pouca relavância dada por essas obras aos seus detractores mais directos (isso, claro, se excluirmos a resposta da arquitectura ela própria, nomeadamente as gentes dos últimos CIAM's, dos Team X e similares, ou um texto ou outro esparsamente publicados junto a revisões da obra de Corbusier, como aqueles - do Pallasmaa, julgo - que aparecem no número especial da Architecture d'Aujoud'Hui logo depois da morte de LC), julgo, ainda assim, que passados quase 50 anos da morte, seria mais que evidente que a relevância cultural de Le Corbusier vai muito para além daquilo que seriam as suas posições ideológicas, ou das tabulas rasas urbanas (Plano Voisin e etc.) que supostamente intentava. Uso o termo seria porque não tenho assim tanta certeza do vínculo do autor a tais radicalismos: LC é acima de tudo arquitecto, o que faz com que tenhamos de encarar Voisin como puro marketing ou, no máximo, como pura especulação narcisista; num ou noutro casos actos inócuos ou, pelo menos, inofensivos.

Se é verdade que a obra de Le Corbusier levanta(va) questões socialmente relevantes; facto é que não há hoje ninguém que não tenha consciência desse facto, e que não consiga separar essas (só) aparentes manifestações de radicalidade social de tudo o resto; que é aquilo que de facto é relevante em LC: a sua arquitectura.

Bem sei que com isso posso ser outra vez acusado de desprezar a teoria; separando-a da produção. E no entanto parece-me que o exercício teórico desligado da capacidade de entender aquilo que se tem em mãos equivale ao simples exercício diletante da ignorância. Como é o caso deste texto, absurdo, de Theodore Dalrymple.

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