Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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A(i) 10

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Já não sei a que propósito nos lembrámos de organizar uma conferência com o Hans Ibelings.
Quer dizer: gostavamos do Hans Ibelings, ou pelo menos da ideia que dele tinhamos, toda ela baseada nessa tese maravilhosamente anti-regionalista-crítica descrita no Supermodernism.

Não é que julgassemos Supermordernism um livro particularmente bem escrito, nem particularmente bem informado, mas ainda assim aspirávamos ler nessa espécie de mapear do regresso do International Style uma vontade da arquitectura deixar se (querer) explicar através de coisas que lhe são externas, para se (re)centrar nessa cultura própria d'onde afinal nunca devia ter saído - mesmo sendo óbvio que, na maior parte das vezes, esse interesse (atento, generoso) para com o que está para lá dela não mais é do que pura demagogia.
Mas enfim, lá fizémos o que têm de fazer as pessoas que querem organizar uma conferência com o Hans Ibelings (ou, julgo, com outro autor qualquer): pedimos de empréstimo o auditório à Ordem, contratámos um (violento q.b.) agent provocateur estrategicamente dissimulado entre o público anónimo, fizémos uma daquelas introduções simpáticas, e lá nos sentámos à espera de ver Ibelings a arrasar a fuga (para debaixo da cama) da arquitectura portuguesa. Esperámos. Esperámos. E nada: nada de arquitectura portuguesa debaixo da cama, nem sequer laivo algum do heróico regresso do International Style; mas apenas uma bem construida (mas ainda assim descarada) publicidade à A10 - que, culminou com a angariação de assinaturas pelo próprio Ibelings.

Não é que tenhamos qualquer tipo de desprezo pela A10. Pelo contrário: o pasquim é simpático quanto baste, e sempre se vão lendo umas coisas sobre a croácia ou a bulgária. Quer dizer: há um lado intrinsecamente generoso em fazer passar toda aquela arquitectura (europeia) que não enche as medidas às Av's ou às GA's, ou às 2G's, mas cuja regularidade (digamos assim) merece ainda assim (com certeza que sim) a atenção. Simpático o modelo editorial da A10, que espalha a responsabilidade de escrever e editar a revista por correspondentes nacionais de perfil heterodoxo (de Portugal seguem textos de Gadanho, de Jordão ou de Carlos Santana, entre outros), o que faria adivinhar não apenas uma base de informação credível, mas também (sobretudo) a ausência de uma definição ideológica nas mostrar de cada um dos países que lá vão contruindo a herança da A10.

E no entanto, é exactamente nessa generosidade que assenta o grande problema da A10; que a leva, em limite, a não ter qualquer tipo de critério em relação à qualidade dos objectos que publica. Não tendo um corpo editorial residente, a A10 está à mercê dos pontos de vista de quem com ela vai esporadicamente colaborando, sendo evidente a impossibilidade do editor (neste caso o próprio Ibelings) validar o trabalho dos seus correspondentes, sob o risco de pôr em causa esse princípio de abrangência que está na origem da revista.

Vem tudo isto a propósito de um artigo (publicado na A10 n.º 35, de Setembro) chamado de Seven Zones, Seven-Day Journey (A seven-day architectural tour of Portugal), onde Carlos Guimarães (à semelhança de todos ou outros correspondentes nacionais da A10, também autor d'um blog que gosto de ler) propõe aos Croatas e aos Bulgaros ocupar 7 dias a ver obras menores como as Casas Brancas de Adalberto Dias, a recuperação do Grande Hotel do Porto (Cremascoli, Okumura, Rodrigues), um estádio (?) em Matosinhos (Machado Vaz), ou a Adega do Carlos Castanheira (que, d'entre as obras do autor, é a menos interessante).
Guimarães sustenta a sua escolha na tese (de Gadanho, que escreve o pequeno texto introdutório do Tour) de que a arquitectura (portuguesa) já não é mais caracterizada por uma abstracta e distante relação formal, mas antes um modelo de abertura, troca, e multiplicidade (tradução evidentemente livre), o que o leva a deitar fora tudo aquilo que de facto importa conhecer, propondo aos Croatas a aos Bulgaros irem passear por cima da relva (artificial) das Piscinas da Povoação (realmente um óptimo exemplo de abertura, troca e multiplicidade) ou andar não sei quantas horas de carro entre pedras e pedragulhos para ver um deselegante museu - tema a explorar num Post perto de si - vagamente parecido com as coisas que nem o Herzog procura repetir.
Desconfia-se até que Guimarães ele próprio desconhecerá metade das obras que mapeia (porventura por ter estado lá por fora nos últimos tempos), escolhendo-as por d'entre os ficheiros do Habitar Portugal ou das Ultimas Reportagens; facto esse que nos dá - pelo menos - o benefício da dúvida em relação à sensibilidade e bom gosto que o cronista ainda possa manter.

Quanto à jornada dos sete dias, a esperança é que entretanto os Croatas se percam nas ruas do Porto, restando, no fim, um Búlgaro, sozinho, à procura da entrada da Gruta das Torres, esquecendo-se de ver as obras maiores (não abstractas, muito menos distantes) de Paulo Gouveia, de Maia Macedo ou de Correia Rebelo.

Adenda à entrada anterior: Fósforos e Gasolina

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The first rule of Fight Club is, you do not talk about Fight Club

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Também nós receberiamos um cartaz como esse.
Um cartaz quase igual e muitos outros que recebemos no atelier todos os dias. Daqueles que vêm pelo correio, a anunciar um evento qualquer num sítio qualquer.
E no entanto, no meio dos 48 autores que figuravam nesse cartaz, liamos, não sem alguma surpresa, o nosso próprio nome. O nosso nome, portanto, confirmado num evento para o qual nem sequer tinha havido convite. Uma espécie de chantagem, portanto; de coação: ou aparecemos, ou nunca passaremos de uns cobardolas de 2ª classe.

Dizia assim, esse cartaz:
A arquitectura em Portugal vive tempos de paz morna. O Torneio Escada 2010 vem agitar essas águas. Desde os encontros de Serpa, em 1997, que os jovens arquitectos portugueses têm vindo a apresentar os seus trabalhos e ideias. Depoios desse mítico combate, outros aconteceram: Influx, Wonderland, Pecha Kucha, Geração Z, etc. Com argumentos oportunos e temáticas estimulantes o clima tem sido de amena cavaqueira. O Torneio Escada 2010 é precisamente o contrário de tudo isso. No encalço dos momentos mágicos das grandes provas desportivas, será uma oportunidade única para demonstrar convicções, confrontar argumentos, aferir a bondade e a maldade dos participantes. No Torneio Escada 2010 não há lugar a alianças perversas, nem se espelha a esperança vã de consolidar um movimento de renovação da arquitectura.
O Torneio Escada 2010 é um combate violento.

O Torneio Escada 2010 organiza-se por eliminatórias sucessivas, partindo de um grupo inicial de 32 arquitectos. A cada arquitecto é oferecida a oportunidade única de fazer uma apresentação contundente e explosiva de 5 minutos, confrontando-se com uma outra apresentação que será igualmente contundente e explosiva.
O Campeão terá como prémio um depósito de gasolina e uma caixa de fósforos.

Depois disto, nada seria o mesmo. Evidentemente.

E, depois: depois houve sangue. Suor e lágrimas também. Gentes acobardadas, ou simplesmente humilhadas. Esgares e cuspidelas. Derrotados espezinhados, traidores ludibriados, vencedores a prazo, volte-faces surpreendentes. Risos e gritos, e choros e berros; entre gentes cujos nomes nunca poderão ser referidos, numa noite que jamais será registada. Cumprindo-se, aliás, a primeira regra, tal como ela é.

Nuno Brandão Costa, José Capela, Luís Tavares Pereira, Carlos Santana, Luís Santiago Baptista, Pedro Machado Costa, Pedro Campos Costa, Inês Vieira da Silva, Tiago Correia, Inês Moreira, Ricardo Carvalho, Camilo Rebelo, Fernando Guerra, Tiago Mota Saraiva, Paulo Moreira, Eduardo Carvalho, Ricardo Aboím Inglêz, Carlos Maia, António Louro, Carlos Veloso, Nuno Abrantes, Ivo Poças Martins, Nuno Merino Rocha, Pedro Barata Castro, Miguel Figueira, Teresa Novais, Jorge Carvalho, Pedro Barreto, Marcos Cruz, Pedro Maurício Borges, Pedro Gadanho, André Tavares, Pedro Bandeira, Bernardo Rodrigues, Diogo Seixas Lopes, Ana Vaz Milheiro, Godofredo Pereira, Jorge Figueira, Nuno Grande, José Adrião, Paula Santos, Carlos Antunes, Cláudio Vilarinho, Pedro Baía, Diogo Burnay, Filipa Guerreiro, João Afonso, Rui Mendes, Pedro Pacheco, Sérgio Antunes, Daniel Carrapa, Filipe Afonso

Sobre a evidência da utilidade de perseguir baleias

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Ripplingly withdrawing from his prey, Moby Dick now lay at a little distance, vertically thrusting his oblong white head up and down in the billows; and at the same time slowly revolving his whole spindled body; so that when his vast wrinkled forehead rose- some twenty or more feet out of the water- the now rising swells, with all their confluent waves, dazzlingly broke against it; vindictively tossing their shivered spray still higher into the air. So, in a gale, the but half baffled Channel billows only recoil from the base of the Eddystone, triumphantly to overleap its summit with their scud.


















But soon resuming his horizontal attitude, Moby Dick swam swiftly round and round the wrecked crew; sideways churning the water in his vengeful wake, as if lashing himself up to still another and more deadly assault. The sight of the splintered boat seemed to madden him, as the blood of grapes and mulberries cast before Antiochus's elephants in the book of Maccabees. Meanwhile Ahab half smothered in the foam of the whale's insolent tail, and too much of a cripple to swim,- though he could still keep afloat, even in the heart of such a whirlpool as that; helpless Ahab's head was seen, like a tossed bubble which the least chance shock might burst. From the boat's fragmentary stern, Fedallah incuriously and mildly eved him; the clinging crew, at the other drifting end, could not succor him; more than enough was it for them to look to themselves. For so revolvingly appalling was the White Whale's aspect, and so planetarily swift the ever-contracting circles he made, that he seemed horizontally swooping upon them. And though the other boats, unharmed, still hovered hard by; still they dared not pull into the eddy to strike, lest that should be the signal for the instant destruction of the jeopardized castaways, Ahab and all; nor in that case could they themselves hope to escape. With straining eyes, then, they remained on the outer edge of the direful zone, whose centre had now become the old man's head.























Meantime, from the beginning all this had been descried from the ship's mast heads; and squaring her yards, she had borne down upon the scene; and was now so nigh, that Ahab in the water hailed her!- "Sail on the"- but that moment a breaking sea dashed on him from Moby Dick, and whelmed him for the time. But struggling out of it again, and chancing to rise on a towering crest, he shouted,- "Sail on the whale!- Drive him off!"



















The Pequod's prows were pointed-, and breaking up the charmed circle, she effectually parted the white whale from his victim. As he sullenly swam off, the boats flew to the rescue.

Dragged into Stubb's boat with blood-shot, blinded eyes, the white brine caking in his wrinkles; the long tension of Ahab's bodily strength did crack, and helplessly he yielded to his body's doom for a time, lying all crushed in the bottom of Stubb's boat, like one trodden under foot of herds of elephants. Far inland, nameless wails came from him, as desolate sounds from out ravines.

















But this intensity of his physical prostration did but so much the more abbreviate it. In an instant's compass, great hearts sometimes condense to one deep pang, the sum total of those shallow pains kindly diffused through feebler men's whole lives. And so, such hearts, though summary in each one suffering; still, if the gods decree it, in their life-time aggregate a whole age of woe, wholly made up of instantaneous intensities; for even in their pointless centres, those noble natures contain the entire circumferences of inferior souls.

"The harpoon," said Ahab.

Melville, Moby Dick: capitulo 133: the Chase, First Day (excerto)


















imagens: Casa do Vôo dos Pássaros, S. Miguel, Bernardo Rodrigues, 2010

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