Torna-se-me evidente que a coincidência é o desígnio mais próximo do estado de graça quando alguém que não conhece Pynchon de lado nenhum se chega à montanha de livros lá de casa, tira de uma prateleleira alta e desarrrumada o V, abrindo logo a seguir uma página ao acaso e, sem querer, começa a ler:
[...] um menino que nascera com um parafuso de ouro no sítio do umbigo. Durante vinte anos consultou médicos e especialistas em todo o mundo, para ver se conseguia livrar-se do tal parafuso, mas sem êxito. Finalmente, no Haiti, encontrou um feiticeiro de vudu que lhe deu a beber um líquido malcheiroso. Bebe, dorme e sonha. No sonho, vê-se numa rua iluminada por lâmpadas verdes. Seguindo as instruções do feiticeiro, vira duas vezes à direita e uma à esquerda, a partir do ponto de origem, encontra uma árvore junto do sétimo poste de iluminação, toda coberta de balões coloridos. No quarto ramo de baixo para cima há um balão vermelho; rebenta-o e encontra lá dentro uma chave de parafusos com cabo de plástico amarelo. Com essa chave desaperta o parafuso da barriga e assim que isso acontece acorda do sonho. É de manhã. Olha para o umbigo e o parafuso já não está lá. A maldição de vinte anos foi por fim quebrada. Delirante de alegria, salta da cama e o cu cai-lhe ao chão.
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