Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Método a.s* de avaliação da Casa da Música #1

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Nota inicial: a proposta faz parte de um projecto do a.s*, encomendado pela Casa da Música em 2007, no contexto do programa ONP à sexta - que juntou, entre 2007 e 2008, intervenções de autores a determinado concertos da Orquestra Nacional do Porto. A proposta não foi aceite pela instituição.

De cada vez que há uma estreia no Scala de Milão, um grupo de melómanos junta-se no balcão popular, mesmo lá em cima, nos piores lugares; daqueles que antigamente nem cadeiras tinham.
Impecáveis, estes melómanos vestem os seus melhores smokings. Preparam-se, ávida e devidamente, munindo-se dos respectivos libretti, que arrumam debaixo do braço enquanto sobem, empolgados, as escadarias do edifício.

A única coisa que distingue este grupo de todos os outros que em Milão acompanham as estreias d'ópera é ele ser formado, provavelmente, pelo público mais exigente que a ópera conhece. Desde sempre acompanham la stagione. Assistiram à Aida dezenas de vezes. Sabem o Don Carlo de trás para a frente. Preferem, sempre, a Lucrezia Borgia, só porque estreou no Scala.
Alguns elementos deste grupo são mesmo capazes de jurar que assistiram ao Francesco Pedrazzi a fazer de Gennaro; e todos, sem excepção, acham Callas a mulher mais bela de sempre.
Para além disso, uma pequena particularidade: todos eles transportam, nos bolsos da casaca, ovos e tomates. De preferência podres.
E depois, de lá de cima, da bancada popular, ficam a admirar, apaixonadamente , as árias. Deleitam-se. Aplaudem silenciosamente cada respingar do coro. Os movimentos perpendiculares do soprano ou o belcanto dos tenores. E no fim de cada acto, satisfeitos, aplaudem outra vez, agora de forma ruidosa.

No entanto se algo de errado acontecer. Se uma nota da orquestra falha o tom. Se o cenário for um equívoco. Se a soprano falhar a tessitura. Ou se o timbre for afectado por um clarinete mais distraído.
Nesses casos, e apenas nesses casos, o grupo lança os libretti para a plateia, e os ovos, e os tomates, podres de preferência, para o fosso, ou para o palco; dependendo esta última decisão do responsável pela falha.

Trata-se, claro, da mais exigente das críticas: uma espécie de teste de qualidade. Passar pela estreia do Scala incólume equivale a dobrar o cabo das tormentas sem que um pingo sequer nos molhe a casaca.

Nesse mesmo sentido, como proposta #1 para um método de avaliação a casa da música, e à falta desse exigentíssimo público arquitecto-melómano, propomos substituir os bilhetes dos espectáculos da instituição por pequenos, esféricos e manuseáveis cartuchos de tinta. De várias cores, dependendo do tipo de espectáculo.
Aos espectadores é pedido que, à saída dos espectáculos, devolvam os bilhetinhos intactos. Isto é: apenas se estiverem agradados com a perfomance da obra de Koolhaas.
Caso contrário, é-lhes dada a possibilidade de arremessar a tinta contra as paredes d'A Casa da Música.

O aspecto do edifício dependerá dessa forma do seu sucesso popular: mantendo-se branco, incólume, se tudo estiver de acordo com o exigente público portuense; ou, pelo contrário, uma mancha informe de cor, se porventura algo correr mal.





























































Na inauguração da temporada serão enviados convites a várias personalidades arquitectónicas do Porto, que farão as honras da casa.

Prevê-se (in)sucesso imediato.

8 comentários:

AM disse...

pintarolas...
ficava gira, com sarampo :)

AM disse...

e um bolimetro :) com qualquer coisa de expressionismo abstracto... :)))

do outro lado disse...

chissa por o efeito zapataro o pedro escreveu librettos mas queria escrever libretti, e las stagiones ma queria escrever la stagione, nada tem a ver com o facto de ser o blog que leio com mais prazer.

Pedro Machado Costa disse...

Stefano: tudo o que vem da Itália merece de facto rigor. E não posso, claro, ser desmancha-prazeres. Obrigado pela alerta, e pelas respectivas correcções; de imediato transcritas para o original.

JFC disse...

Caro amigo, como amante de ópera, e Música (com M grande), não posso estar mais em desacordo com o teor deste teu post. Quantas vezes, pergunto eu, os punitivos ovos e tomates, ou as violentas pateadas, não tiveram por alvo obras maiores de compositores maiores? Quantas vezes, manifestações desse teor, não representaram mais que a alarvidade e as curtas vistas de públicos ditos exigentes e conhecedores? (Dispenso-me de desenrolar aqui o rol). Como amante de ópera, frequentador de Viena de Bayreuth e do Scala, gosto do espectáculo e não só: gosto também de ver senhoras elegantes, descendo escadas elegantes de vestido comprido e salto alto - coisa inimaginável no 'escadote' vesgo (espelho=cobertor) dessa casa da música onde entrei por engano num dia aziago com a minha avó (que também gosta de música e vestidos compridos).
É claro que abomino tudo aquilo, que nunca mais lá pus os pés (nem eu nem a minha avó).Mas daí a sugerir que deviamos transformar a casa da musica num alvo de paintball para arquitectos que gostam de ópera e senhoras de idade que precisam de corrimão e alcatifa vai uma grande distância!
Criticar sim, atirar tinta não!
JFC (Inertes em Tempo Real)

AM disse...

ah, ah, JFC (o autêntico) em modo "haute couture" (alta koltura, pá!)
vamos lá a pintalgar o meteo
a arquitectura é coisa... genérica
e o tag é quando um jovem arquitecto hip-hop (er) quiser!
e a prima, o que achou!?
preferia em vidro, pois...

JFC disse...

Em modo "haute couture"? Isso é piada ao vestido da minha avó? Já ouviste falar no Código Dentológico? Ficas avisado: metes-te outra vez com a minha avó e levas um processo disciplinar em cima!
JFC (Neto em Tempo Real)

AM disse...

sim... o código deontológico da grande ordem das costureirinhas... :)

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