Nota inicial: a proposta faz parte de um projecto do a.s*, encomendado pela Casa da Música em 2007, no contexto do programa ONP à sexta - que juntou, entre 2007 e 2008, intervenções de autores a determinado concertos da Orquestra Nacional do Porto. A proposta não foi aceite pela instituição.
De cada vez que há uma estreia no Scala de Milão, um grupo de melómanos junta-se no balcão popular, mesmo lá em cima, nos piores lugares; daqueles que antigamente nem cadeiras tinham.
Impecáveis, estes melómanos vestem os seus melhores smokings. Preparam-se, ávida e devidamente, munindo-se dos respectivos libretti, que arrumam debaixo do braço enquanto sobem, empolgados, as escadarias do edifício.
A única coisa que distingue este grupo de todos os outros que em Milão acompanham as estreias d'ópera é ele ser formado, provavelmente, pelo público mais exigente que a ópera conhece. Desde sempre acompanham la stagione. Assistiram à Aida dezenas de vezes. Sabem o Don Carlo de trás para a frente. Preferem, sempre, a Lucrezia Borgia, só porque estreou no Scala.
Alguns elementos deste grupo são mesmo capazes de jurar que assistiram ao Francesco Pedrazzi a fazer de Gennaro; e todos, sem excepção, acham Callas a mulher mais bela de sempre.
Para além disso, uma pequena particularidade: todos eles transportam, nos bolsos da casaca, ovos e tomates. De preferência podres.
E depois, de lá de cima, da bancada popular, ficam a admirar, apaixonadamente , as árias. Deleitam-se. Aplaudem silenciosamente cada respingar do coro. Os movimentos perpendiculares do soprano ou o belcanto dos tenores. E no fim de cada acto, satisfeitos, aplaudem outra vez, agora de forma ruidosa.
No entanto se algo de errado acontecer. Se uma nota da orquestra falha o tom. Se o cenário for um equívoco. Se a soprano falhar a tessitura. Ou se o timbre for afectado por um clarinete mais distraído.
Nesses casos, e apenas nesses casos, o grupo lança os libretti para a plateia, e os ovos, e os tomates, podres de preferência, para o fosso, ou para o palco; dependendo esta última decisão do responsável pela falha.
Trata-se, claro, da mais exigente das críticas: uma espécie de teste de qualidade. Passar pela estreia do Scala incólume equivale a dobrar o cabo das tormentas sem que um pingo sequer nos molhe a casaca.
Nesse mesmo sentido, como proposta #1 para um método de avaliação a casa da música, e à falta desse exigentíssimo público arquitecto-melómano, propomos substituir os bilhetes dos espectáculos da instituição por pequenos, esféricos e manuseáveis cartuchos de tinta. De várias cores, dependendo do tipo de espectáculo.
Aos espectadores é pedido que, à saída dos espectáculos, devolvam os bilhetinhos intactos. Isto é: apenas se estiverem agradados com a perfomance da obra de Koolhaas.
Caso contrário, é-lhes dada a possibilidade de arremessar a tinta contra as paredes d'A Casa da Música.
O aspecto do edifício dependerá dessa forma do seu sucesso popular: mantendo-se branco, incólume, se tudo estiver de acordo com o exigente público portuense; ou, pelo contrário, uma mancha informe de cor, se porventura algo correr mal.
Na inauguração da temporada serão enviados convites a várias personalidades arquitectónicas do Porto, que farão as honras da casa.
Prevê-se (in)sucesso imediato.
Método a.s* de avaliação da Casa da Música #1
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8 comentários:
pintarolas...
ficava gira, com sarampo :)
e um bolimetro :) com qualquer coisa de expressionismo abstracto... :)))
chissa por o efeito zapataro o pedro escreveu librettos mas queria escrever libretti, e las stagiones ma queria escrever la stagione, nada tem a ver com o facto de ser o blog que leio com mais prazer.
Stefano: tudo o que vem da Itália merece de facto rigor. E não posso, claro, ser desmancha-prazeres. Obrigado pela alerta, e pelas respectivas correcções; de imediato transcritas para o original.
Caro amigo, como amante de ópera, e Música (com M grande), não posso estar mais em desacordo com o teor deste teu post. Quantas vezes, pergunto eu, os punitivos ovos e tomates, ou as violentas pateadas, não tiveram por alvo obras maiores de compositores maiores? Quantas vezes, manifestações desse teor, não representaram mais que a alarvidade e as curtas vistas de públicos ditos exigentes e conhecedores? (Dispenso-me de desenrolar aqui o rol). Como amante de ópera, frequentador de Viena de Bayreuth e do Scala, gosto do espectáculo e não só: gosto também de ver senhoras elegantes, descendo escadas elegantes de vestido comprido e salto alto - coisa inimaginável no 'escadote' vesgo (espelho=cobertor) dessa casa da música onde entrei por engano num dia aziago com a minha avó (que também gosta de música e vestidos compridos).
É claro que abomino tudo aquilo, que nunca mais lá pus os pés (nem eu nem a minha avó).Mas daí a sugerir que deviamos transformar a casa da musica num alvo de paintball para arquitectos que gostam de ópera e senhoras de idade que precisam de corrimão e alcatifa vai uma grande distância!
Criticar sim, atirar tinta não!
JFC (Inertes em Tempo Real)
ah, ah, JFC (o autêntico) em modo "haute couture" (alta koltura, pá!)
vamos lá a pintalgar o meteo
a arquitectura é coisa... genérica
e o tag é quando um jovem arquitecto hip-hop (er) quiser!
e a prima, o que achou!?
preferia em vidro, pois...
Em modo "haute couture"? Isso é piada ao vestido da minha avó? Já ouviste falar no Código Dentológico? Ficas avisado: metes-te outra vez com a minha avó e levas um processo disciplinar em cima!
JFC (Neto em Tempo Real)
sim... o código deontológico da grande ordem das costureirinhas... :)
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