Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

| Subscrever via RSS

Da Alegoria do Triunfo (de uma geração)

| |





















A Alegoria do Triunfo de Vênus, 1545, Agnolo Bronzino.

Em relação ao (profícuo) diálogo entre Guimarães e As Catedrais (aqui, depois ali, seguido de resposta aqui, e contra-resposta além) registe-se:

1. Sobre a Beleza e Consolação creio ser clara a propensão comum para a primeira; sendo, claro, a Consolação, o purgatório da maioria. Mas já que nos destinamos, todos, à consolação, mais vale dela tirar bom partido . Afinal o purgatório não deve ser um lugar assim tão mau.

2. Quanto aos trejeitos intelectuais superiores, bem sei que o seu uso é (moralmente) indevido. E no entanto esse é, vá lá, o maior paradoxo: querem, os arquitectos, ser percebidos. Anseiam pela clareza. Desejam a compreensão e a aceitação. E no entanto aquilo que, nos arquitectos, pode ser útil a essa sociedade reside exactamente no que dominam, e no modo como o fazem. Pode chamar-lhe, ao domínio disciplinar, de trejeito intelectual superior ou, se quiser, simplesmente, e sem preconceito, conhecimento e responsabilidade no seu uso.
Mas não queira, nunca, fazer coincidir a obra prima do mestre com a prima do mestre de obras. Podem ser ambas belas, é certo. Mas, creio, diversas.

3. Do Programa Inov-Art faço contas rápidas, e concluo, pelos números que Guimarães refere, que a generosidade política é, finalmente, um facto: a cada um dos formandos nacionais caberá o uso, directo ou indirecto de 24.000,00 €.
Discordando embora do aparente desvio operativo do fundo - que serviria mais para pagar o ganho de experiência e know-how de autores nacionais em instituições culturais e artísticas de referencia (leio: museus, fundações, teatros, instituições, residências artistas, etc.) e menos para sustentar estágios profissionais em empresas a operar no mercado, por parte de arquitectos que tentam, desesperadamente, escapar à falta de oportunidades oferecidas neste pequeno país - devo no entanto sublinhar os seus aspectos positivos: a crença na formação e na educação, e a confiança que isso trará, mais cedo ou mais tarde, retorno.
Caberá, aparentemente, a Guimarães, por vontade própria, a responsabilidade de demonstrar que a (minha) geração tira o melhor partido dessa aposta.
Já o dissemos, e voltamos a afirmar: cá estaremos para apoiar o projecto; embora pareça que a reduzida adesão venha a ser um farto demasiado pesado, ou não fosse a temida ausência de participação observável à priori, na caixa de comentários d'Os Lugar[es] da Mente.

4. De FreshLatino, bem sei que é um projecto pessoal de Ariadna. De longa data.
Individual? Talvez. Solitário? Nem tanto. Consequente? Veremos.
A questão é saber se alguma coisa, por cá, mesmo que individual ou solitária, possa ser tão consequente como o é o trabalho de Ariadna Cantis.

5. Por fim regressemos ao início: o desejo, natural, de nos confrontarmos com o trabalho de toda uma geração, até aqui, aparentemente, distraída. Veremos, Guimarães, veremos.

5 comentários:

Carlos M Guimaraes disse...

1. talvez pela idade, a camisola da consolaçao ainda nao me serve...

2. na prática, o saber técnico é aquilo que nos distingue, porque a tal "visao" necessita de concretizaçao. pois há que trabalhar para a concretizar, ir para além do triste fado nacional...

3. (entre) 1/2 e 3/4 desse valor é para uso directo.
veremos se o farto (ou o dinheiro) será pesado...

4. desde o país vizinho, acompanhei (desde fora) a Ariadna na crítica, nas revistas, na curadoria, no Freshmadrid. Bem-hajam estas vontades férreas! este meu grito nunca a atingirá...

5. a palavra desejo é interessante neste contexto. mas eu prefiro usar as expressoes: intencionalidade e vontade.

espero ter noticias em breve.
por aqui nos encontraremos...

Pedro Machado Costa disse...

De um leitor devidamente identificado, avesso a Caixas de Comentários, ficam aqui excertos da sua reacção:

E no entanto esse é, vá lá, o maior paradoxo: querem, os arquitectos, ser percebidos. Anseiam pela clareza. Desejam a compreensão e a aceitação. E no entanto aquilo que, nos arquitectos, pode ser útil a essa sociedade reside exactamente no que dominam, e no modo como o fazem. [citação, em itálico no original]

Pedro: Não me quero estender muito pois não tenho paciência para Caixas de Comentários em blogues, mas algumas das tuas frases me deixaram mal disposto, não pelo que dizes ou como dizes (...) mas pela realidade que oculta ou distorce (...)

Na realidade vivemos (...) num mundo saido do Matrix, onde nos recusamos a tomar aquela pastilha para conhecer a realidade real. Hoje em dia ninguém consegue distinguir Arquitectura de Construção, e os tais anseios pela clareza do discurso reside apenas na necessidade de nos fazermos entender ao mestre de obras que é apenas um interessado na coisa. Não tem estudos, não tem cultura, não sabe fazer as coisas e vai desenrascando a obra ao ver as instruções de montagem nas caixas dos azulejos ou das torneiras do chinês.

Não somos EM NADA úteis à sociedade porque escolhemos abdicar da nossa capacidade de ter um olhar critico sobre tudo e consequente visão estratégica… Costumo citar uma frase adaptada do Buckminster Fuller para melhor ilustrar… “Architects are always realistically maneuvering for the next comission. They are obsolete as fundamental problem-solvers.”

Não pensamos cidade, não construímos cidade. Não queremos entender nem aceitar que somos cidadãos antes de ser arquitectos, e que por isso devíamos ser mais íntegros e dedicados a fazer bem as coisas.

Tudo o resto é BULL SHIT!!!

Pedro Machado Costa disse...

Carlos Guimarães:

de notícias em breve esperemos portanto. Quanto à camisola da consolação: é uma xxl: serve a todos aqueles que a quiserem vestir.

Em breve, portanto

Leitor devidamente identificado:

tomei, como observa, liberdades de publicar e editar o texto; esperando que não se tenha perdido nada de essencial.

Em relação às suas palavras cabe-me apenas referir a minha impressão que a maioria dos arquitectos trabalha exactamente nessa realidade real que afirma não se enquadrar no seu quotidiano.
E até desconfio que ninguém abdica do seu olhar crítico. O problema é que o olhar crítico e difícil. E, por vezes, essa realidade real é um pouco avessa à arquitectura.

Haverá, certamente, outro lugar ou outra oportunidade para ser (mos) mais claros.

Até lá

alma disse...

CG,
obrigada pela parte II :)
optimismo é comigo :)

se o objectivo é a beleza!
a consolação é uma meta:)

olhar critico existe :)
o que falta numa grande maioria é a estratégia de projectar a pensar no essencial.

maria

AM disse...

Augusta, graças a deus,
Graças a deus,
Entre você e a angélica
Eu encontrei a consolação


Tom Zé

:)

Tags