Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Diz-se: não há crítica de arquitectura em Portugal. Pode ser que sim. Que não haja gente a escrever crítica. E no entanto esta afirmação expressa mais um lugar comum do que propriamente vontade que ela exista. Há poucos dias, para os lados da Antena 2, Alberto Carneiro queixava-se exactamente disso: de não haver crítica. Ou - interpretei eu - de não haver gente que a compreendesse, à obra escultórica de Alberto Carneiro, pondo-se o autor a desdizer todos aqueles que procuram desmontar o seu discurso; coisa particularmente difícil de se fazer, diga-se, dada a total incapacidade do autor em articular uma frase inteligivel do princípio ao fim.
Na verdade a questão não reside assim tanto nessa ideia de existir, ou não, crítica de arquitectura em Portugal; mas antes se os autores estão disponíveis em deixar que a crítica lhes entre pelo atelier a dentro. E não: não estão. Facto esse que torna a actividade crítica numa inutilidade, não tanto por ela ser inexistente, mas por aquilo que está na sua origem (os factos, as obras ou as gentes sobre os quais se dedica) a acharem irrelevante ou, pior ainda, maldizente.

Dito isto, refira-se não ser intencional o facto de se pôr em causa a existência de um blog cuja autoria reflecte exactamente sobre a noção de crítica. Aliás: trata-se exactamente do oposto: da necessidade de o tornar consequente para aqueles que o lêem. Mais, portanto. E nunca menos.

20 comentários:

Zé Maria disse...

Leio habitualmente o seu blog, mas não sabia (ou não me lembrava) que fazia parte do Atelier de Santos.
Aproveito para divulgar um post onde fiz alguma "critica" de arquitectura, embora eu não esteja habilitado para tal.
http://arrumario.blogspot.com/2010/05/universidade-dos-acores.html
Cumprimentos.

Marta Andrade disse...

A crítica de arquitetura em Portugal é cada vez mais feita através de blogs.
É claro que essa não conta.
Ergo, cada vez menos existe crítica de arquitectura em Portugal.

ines moreira disse...

Todos os abanões que façam re-situar são sempre bem vindos. Há na reflexão e na produção uma certa endurance e resilência... Sendo que os ecos vêm muitas vezes de onde menos se espera... :)

AM disse...

mas qual crítica qual carapuça!?...
ninguém (ou quase ninguém) crítica nada!
o que há muito, o que há mais agora, são uns pseudo-teóricos da treta que escrevem umas chachadas muito herméticas (gramaticalmente mal armadas e maioritariamente ilegíveis) na esperança de com isso "assustarem" os "leitores" e assim entrarem para os pequenos círculos (para os "petit circule") dos "influentes" e dos LOL "intelectu-ais" (não me piques!) da LOL capital...
parece que ajuda imenso, por exemplo, (saber) escrever em "estrangeiro"...
e dar-se a ares, pelas g(r)utas...
uma cegada de uma ponta à outra...
veja-se este comentário da Inês Moreira aqui em cima...
mas que borrão de "abanão" é este!?...
um bom abanão dava eu na "listinha" dos "autores" LOL do surtido fino de jovens arquitectos da arquitectura 21...
tens razão quando falas que ninguém (ou quase ninguém) deseja a crítica...
os "textos críticos" (da praxe) são panegíricos dos amiguinhos quando não (endogomia, helás!) da própria família...
uma coisa pouco higiénica, anti-sanitária mesmo! :)))
pela minha parte gosto imenso que a crítica entre pelo meu blogue a dentro... :)
os teus (vossos) comentários é que – por rarearem… - não os tenho lido...
ora se nem a blogo se crítica barra comenta entre si, como é que queres que a "situação"... mude!?...
as ilusões perdem-se com o conhecimento da história...
o Eça, a seu tempo, também pensou que...
grossen mistake, meu caro Pedro MC, confundir (Reininho) "a arca do dilúvio com uma pipa apocalíptica", confundir as estalactites e estalagmites das cavernosas cavernas com as colunas e botaréus das luminosas catedrais, confundir as teias de aranha da "crítica" com as iluminuras dos magníficos vitrais...
melhor desistir, ou continuar, mas sem auto-ilusões...

ines moreira disse...

e porque alguém entrou a meio de uma conversa alheia e começou a espingardar em quantas direcções existiam... e pumba e pumba e pumba... num estilo um tanto ou quanto violento, no qual o próprio argumento se perde, isto é, do meio de tanta pancadaria e esbofeteação, fica apenas a moca, os cacos partidos e as eventuais endorfinas libertadas na emoção de tamanha destruição. Do mal o menos, deve dar algum prazer individual. Ufa...

E o teu blog, Pedro, afinal tem um uso...! A sua box é um megafone amplificador de vozes que algures do interior profundo estão a precisar de companhia...

beijos e espero ver-te nas tais férias prometidas.

Dioniso disse...

AH AH AH... Inês Moreira arrasa!

É difícil não concordar...

Quando as Catedrais eram elementares disse...

Mas, meu caro AM, falava não tanto da existência ou inexistência de crítica, mas mais sobre se ela é de facto desejável do ponto de vista do autor. Concorde-se: há pouca crítica; até porque é díficil escrever crítica. Mas julgo, enfim, que a sua consequência é reduzida no contexto de quem a produz.
Há ainda uma coisa a referir: se é verdade que no ODP corre, vá lá, uma veia crítica, também não deixa de o ser, verdade, que o estilo e a argumentação, não sendo propositadamente elitistas no seu discurso (por vezes até são), correm seriamente o risco de afastar os tais autores. Um exemplo: ... cagadas pseudo-artísticas, que não têm outro nome, mais valiam oferecer-se em sacrificial ritual, na foz do trancão.(continua)

Anónimo disse...

Mas quem são os destinatários da crítica, afinal? Ditas as coisas assim («desejável do ponto de vista do autor», «afastar os tais autores»), quase somos levados a crer que são os próprios autores, como se a crítica não pudesse ser feita à sua margem. Admito que se discuta se a crítica se destina a públicos mais ou menos especializados (em certa medida, a natureza do meio de publicação/difusão da crítica ditará a resposta, parece-me), mas os autores não deveriam ter qualquer voto nesta matéria.

Anónimo disse...

dizia um crítico gastronómico há pouco tempo que não perdia o seu tempo e espaço de jornal a escrever sobre restaurantes maus.
aparentemente o senhor AM gosta de comer merda todos os dias e falar disso em público. pena é que a suas opiniões masturbatórias infectem blogs como este em que a crítica é inteligente, criativa e estimulante. Da minha parte, e na qualidade de arquitecto, confesso que a crítica que verdadeiramente me interessa é a dos meus clintes. Parabéns às Catedrais pelo nível que asseguram.

eupalinos disse...

Esse AM é um palhaço que só sabe dizer mal por dizer. Para ele tudo está mal ou é mau. E trata tudo e todos com desprezo , sem sequer saber o que está por trás das coisas.

AM disse...

"conversa alheia"... gira, essa da "conversa alheia... olha Pedro, da próxima vez que almoçares com a Inês :) explica-lhe, por favor (podes dizer que vais da minha parte) que um blogue, e dele, uma caixa de comentários, não é (não será) o melhor local para conversas privadas e/ou "exclusivas"...

já agora, e como pedido lá no meu blogue, se puderes precisar a "falha" do meu argumento e a importância, para o caso, da origem, geográfica, da voz, também ficava muito agradecido...

eu por crítica entendo uma coisa totalmente diferente daquilo que nós fazemos por aqui… (critica para mim é o Colquhoun…) aquilo que nós fazemos por aqui não vejo como mais que meras opiniões mais ou menos bem (ou mal) fundamentadas... mas isso será outro, ou uma extensão do mesmo, "debate"…

um mergulho, colectivo, no trancão, continua a parecer-me a melhor solução para a "nova crítica" aí da origem (e fim) do mundo

o dioniso agora veio para aqui com o rabinho encolhido esconder-se atrás da menina, foi!?

anónimo das 10:15

a crítica que lhe interessa é a dos seus clientes... mas que prato... de...

eupalinos

os palhaços, os verdadeiros, não os que se escondem atrás de "nick's" clássicos, merecem todo a minha estima e consideração
são profissionais que procuram, como o AM/ODP, no seu (meu) blogue, fazer rir (os outros)
nesse sentido, e apenas nesse, o seu triste comentário de chacal (e de quem vem para dar mais um pontapé em quem imagina - queria... - no chão) é absolutamente certeiro
o AM é um palhaço
quando ao AM ser o resto daquilo que dele o “eupalinos” diz, não me resta senão convidar todos os que por aqui pararem, a irem ler, em primeira mão, no meu blogue
veremos então quem é que só sabe "dizer mal"...

tiago borges disse...

Caro Pedro,
crê mesmo que a crítica será sempre uma inutilidade se "os autores não a deixarem entrar pelo atelier dentro"? E os autores não a deixam?
Apesar de não estar a par dos factos que suportam a sua afirmação, essa perspectiva parece deixar a crítica em maus lençóis ao conceder aos autores uma espécie de poder de des-legitimação de qualquer tipo de análise externa do seu trabalho...
Ainda que uma certa bruma dificulte o acompanhamento do raciocínio exposto, o que inquieta não é a questão do aval dos autores.
Preocupante é se a crítica fica sem saber para o que é que serve; situação que certamente colocará em causa a sua capacidade de inscrição.

Apesar de se ter alienado ao problema da existência ou não da crítica, é curioso que um texto recente do Frampton reconhece de uma forma geral um "apagamento progressivo da crítica", não apenas na arquitectura, mas em vários sectores da sociedade.

(No des-conexo escrevi o que me assomou as ideias sobre o último trabalho da Inês Moreira.)

AM disse...

o Pedro podia/devia era oferecer (se) à crítica com a sua (deles) casa para os novos-ricos (ou lá o que era, pá!) :)

Dioniso disse...

AH AH AH...

Dioniso não se esconde! Dioniso está em todo o lado.

Agora confesso que gostei da posta da Inês, e é tudo. Resta-lhe conformar-se com o meu sentido de humor.

Já agora, a Arquitectura 21 ou XXI ou vinte e um, tal como diz, merecia "um bom abanão" na "listinha" dos "autores". De facto, questiona-se a pertinência de mais de metade dos escolhidos sobretudo se pensarmos no tema.

Mas como ainda não percebe a necessecidade da retórica, depois leva ensaboadelas por misturar frontalidade e crítica com inconveniência e maledicência.

AM disse...

dioniso

tá "respondido" na posta do meu blogue

C Russe disse...

No NYT, crítica de teatro com aparente travo a crítica de arquitectura (ou será antes «crítica de arquitectos»?). Ah, quem nos dera.

António Sérgio disse...

Marco Pierre White, chef inglês (o primeiro chef inglês a conseguir 3 estrelas Michelin). Numa entrevista nos anos 80, quando lhe perguntaram porque mandava clientes e críticos para fora do restaurante, a resposta foi simples, e mais ou menos assim:

"Passo 18 horas por dia nesta cozinha. Portanto isto é a minha casa. Se eu fosse a tua casa para jantar, chegasse uma hora atrasado, e depois criticasse toda a tua mobília e o corte de cabelo da tua mulher e dissesse que todas as tuas opiniões são estúpidas, corrias-me da tua casa, não era? As pessoas ainda cá vêem e esperam um jantar de 3 pratos em menos de uma hora. O que é que pensam que eu faço - tiro coelhos de uma put.. de uma cartola? Não sou um mágico"

Talvez ajude a explicar porque a crítica nunca é bem vinda a um escritório.

Um aparte, para a Inês Moreira. Não consigo comentar no seu/teu blog (não percebo nada destas modernices), mas fiquei curioso sobre a "nova abordagem de pensamento sobre o conflito" do autor Nuno Coelho no post "Nuno Coelho, livro sobre a Palestina". Queria perguntar onde poderia encontrar mais informação, e é inútil dizer para lá ir porque não estou em Portugal e com certeza não vou comprar viagem, ou, se tempo e disposição tiver, se em breves palavras me pudesse elucidar.

AM disse...

acontece, António Sérgio, que um restaurante, como a arquitectura, NÃO são a "nossa casa"
são, por assim dizer, a casa de todos e de cada um
não lembra, realmente, ao mais mal educado dos mal educados, cuspir no prato da sopa (por pior que possa estar a comida...) de quem quer que nos convide para comer em sua casa, mas para comer num restaurante, ou ter que "papar" com as mais diversas arquitecturas não é necessário convite...
é isso, a natureza pública da coisa, que legitima a crítica (por mais absurda ou cruel que seja)
quem não quiser ser criticado tem sempre a hipótese de trabalhar para o baú e aguardar pela glória póstuma...
para um arquitecto, não sei, é capaz de ser pouco, mas é o que há...
isso, ou o lugar de arquitecto da corte num regime tipo Coreia da Norte (ou Alemanha nazi)
alguns, se pudessem, não queriam outra coisa...

C Russe disse...

«It is a guilty secret of the fraternity of architecture critics that we spend much of our time reviewing unfinished buildings or buildings that are not yet performing their intended use. This is like theatre critics writing only about rehearsals or restaurant writers scoffing their grub in the kitchen, before the chef has quite finished adding the last artistic dabs of goo and green stuff to the composition on the plates.

But buildings are slow to build. Impatient writers, with an immature desire to be the first to cover this or that new monument, like to rush in. It suits architects, too, if critics jump in before their creations are disturbed by the mess of use and occupation. If there are still dustsheets in the corners and men fixing up the last details, it only adds to the aura of promise.
»

Só singularidades. Tão giro, isto.

Anónimo disse...

"eu até vos explicava que se não fosse a sombra não havia a luz, mas não iam perceber" eram assim as minhas aulas com o Carneiro. Depois avaliava as obras sobre o ponto de vista de "quão" importantes eram para a-parição do projecto (2º ano). Claro que quem tinha submetido à obrigação do desenho no 1º ano, e deixado de desenhar, sabia muito bem o que tinha de fazer de conta, afinal "o corte é o desenho do arquitecto", o resto já se sabe: "eu não trabalho com a arvore, mas com a floresta, não são pedra é a montanha".

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