Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Adenda à entrada anterior: proposta para a representação portuguesa na próxima expo, seja ela qual for.

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Para a próxima mais vale dar os 10 milhões de euros aos espanhóis, em troca de nos deixarem lá pôr, por um dia que seja, um daqueles trapos da Joana Vasconcelos, uma curta do Manoel de Oliveira sobre a vida e obra de Cristiano Ronaldo, um retrato de Saramago esquissado por Siza, e aquela música da Amália em que se diz, cantando: tudo isto é triste, tudo isto é fado, declamado por José Gil, com orquestração de Emanuel Nunes.

O problema Filipino

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Pavilhão de Espanha, Shangai, 2009, Miralles/Tagliabu (via El País)

Engana-se o El País quando se refere ao Pavilhão Espanhol de Shanghai como um banho de ADN Ibérico. Isto tendo em conta, claro, a tese que a Peninsula Ibérica não é apenas Espanha; coisa que ainda não foi capaz de ser confirmada.
Iberismos à parte, defronte esta soberba que levanta desconfianças sobre a veracidade da notícia que dá Miralles como morto, só nos resta agradecer aos Deuses, que nos confirmam que a arquitectura é a mais perfeita e sublime das acções que visam a inutilidade.

Ora...

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coming'home

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House of cards

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Embora a ideia de construir um castelo de cartas seja um evidente disparate, nada nos garante que não seja exactamente isso que passamos o dia a fazer.

Resta-nos pois esperar que ninguém abra a janela.

O Clube dos Poetas Mortos

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O júri da secção portuguesa da associação internacional de críticos de arte decidiu premiar Paulo Gouveia com o prémio AICA 2009 na área de arquitectura, confirmando-se essa tendência generalizada em incentivar o trabalho daqueles que já não precisam, dar visibilidade áqueles que nunca a quiseram, e celebrar fins de carreira.

Enfim, tudo aquilo para que a crítica d'arte não serve.

Telescola do Porto

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A Última Aula de Alexandre Alves Costa, A cidade dos equipamentos de ensino de Gonçalo Canto Moniz, do Teatro S. João à Casa da Música de Luís Soares Carneiro, A avenida na evolução das cidades de André Tavares, a Intervenção da arquitectura do movimento moderno como um problema antigo de José Miguel Rodrigues, Objectos vivos, da dupla Mansilla Toñón, sobre reabilitação urbana de Francisco Barata, Marques da Silva e a construção da cidade de José António Cardoso, a Busca da modernidade de Carlos Sambricio, outra vez Alves Costa, agora com Leituras de Serralves, entre outros.
No sítio do costume.

ps. o canal Tv da Universidade do Porto chegou a disponibilizar on line um dos tais videos das Conferências de '90, nesse caso a de P. Zumthor; mas infelizmente a conferência foi retirada. Espera-se que provisóriamente.

Catálogo de Materiais

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Dune Tiles, Urbanproducts

Ou: coisas que havemos de copiar um destes dias.

Sobre os naturais constrangimentos do Zeitgeist

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Sei: é aparentemente generalista. Ou ainda pior: chauvinista. Essa afirmação que não há nada mais humilhante para uma mulher do que encontrar outra mulher com um vestido igual. Não é que as mulheres não tenham, em termos puramente estatísticos, vestidos iguais. Toda a gente tem roupa igual a outra gente. Compramos roupa nos mesmos sítios. E até ouvimos, em tom de conversa informal, vozes curiosas elevarem-se sobre o lugar onde adquirimos determinado casaco castanho de corte impecável, ou essa camisola mais afável que o habitual; adivinhando-se, claro, a ambição em também os donos dessas vozes serem proprietários das magnificas roupagens que tão bem nos caem; ou, pelo menos, sentindo-nos vaidosos pela sageja que nos é acertadamente atríbuida à capacidade de sermos elegantes.


E no entanto, sabendo-se da probabilidade de a determinado momento nos podermos passar com alguém que usa roupa igual à nossa, nada se torna mais insuportável do que ver o semblante de uma mulher no exacto momento em que se cruza com alguém que usa exactamente esse mesmo vestido que lhe terá custado os olhos da cara; deitando por terra esse intimo prazer feminino que é o exercício da unicidade.
Pensamos nas horas que terá passado em frente à montra da loja demasiado cara a acarinhá-lo; ao vestido. Depois nos pequenos acertos da costureira, que com subtileza lá vai ocultando as formas anatómicas julgadas indesejáveis, aliviando o cós ou descendo a bainha; ao mesmo tempo que procura sublinhar todos aqueles equivocos do imaginário, onde os corpos se tornam puros objectos de desejo. Por fim imaginamos esse preciso momento de pura felicidade espectável em que essa mulher se olha ao espelho pela última vez antes de sair de casa; de frente primeiro, depois de lado, empinando a anca subida pelo esforço de uns saltos altos, bamboleando a vestimenta, sorrindo, com a confiança depositada nessa roupa que a tornará única.
Nesse momento confirmamos a ideia que a necessidade da singularidade é uma invenção feminina.

É precisamente aqui, nesta parte do texto, que todos afirmamos para nós próprios não sermos assim. Confiamos na nossa própria confiança em não depender da exclusividade; acreditando cada um de nós que, se confrontados com tal situação, usariamos o nossa alto grau de civilidade para brincar com aquilo que não mais é do que uma simples coincidência. Afinal uma repetição é apenas isso.













Pavilhão do Canadá, Shanghai, 2010; SNC-Lavalin

Não querendo deixar de acreditar nessa possibilidade optimista, teremos no entanto de admitir que o caso se torna verdadeiramente humilhante quando ao fenómeno de repetição se sobrepõe um outro, de natureza mais violenta: o da confirmação que o vestido que usamos não só é semelhante ao vestido da mulher que temos pela frente, mas também uma simples reprodução barata (da H&M?) dess'outro Hermès que se nos defronta.

É nesse preciso momento que tomamos consciência que os nossos esforços não são mais do que uma repetição banal, boçal, das nossas próprias limitações, restando-nos desaparecer da festa, e tentar que mais ninguém tenha reparado nesse nosso feminino descuido.


(Com um agradecimento a Dupond)

Poder, controlo, omnipotência

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Se o principio da história se explica pelo desejo de se aprender com os outros, é de certa forma angustiante perceber que os historiadores se vão afastando mais e mais dessa suposta utilidade da disciplina que operam, distraídos que vão estando com as suas próprias ficções. Não é, entenda-se, uma questão de opção - de escolha; mas somente a incapacidade que todos nós temos em explicar grandes coisas por motivos que consideramos menores.
Quer dizer: ninguém ainda intentou com total sucesso explicar determinada decisão por um desses fundamentos ligados à personalidade do seu autor, à sua intimidade ou à sua disposição.

O arquitecto visto por quem não o é (parte I)

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Por iniciativa de João Belo Rodeia (...) agora Presidente da Ordem dos Arquitectos, houve um contra-documento de apoio ao projecto de Mendes da Rocha, subscrito por praticamente todos os “barões” da arquitectura. Rodeia disse que tomou a iniciativa a título individual e não como presidente, mas se não foi um documento da Ordem, enquanto instituição, foi com certeza outro lamentável exemplo da “ordem” dos arquitectos, do pensamento corporativo e auto-centrado que tanto se faz sentir no sector, ignorando o tal “terramoto” museológico e as prioridades, que são bem outras, do sector cultural português.

Museus, uma estratégia - enfim, Augusto Seabra, ArteCapital



Há festa na aldeia

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Capela, Netos, 2009, Pedro Maurício Borges

Try walking in my shoes

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Sem prejuizo de tudo o resto, haverá porventura uma definição, trivial, com que facilmente concordamos então: a que coloca a arquitectura como elemento participante em todos esses lugares onde nos sentimos bem.

No entanto a concordância acaba exactamente aqui: sentirmo-nos bem não é, entenda-se, comparável a ess'outro fenómeno, recorrente, extensível ao nosso quotidiano comum, que designamos por conforto. Simplesmente porque no conforto nada nos é exigido. Nele não somos postos em causa. Nem somos sequer obrigados a reflectir. O conforto é para estar; não é para ser.

Por essa razão torna-se aparentemente impossivel habitarmos arquitectura: no preciso momento em que ela se torna parte do nosso quotidiano, começamos a ocupá-la com o proveitoso desprezo com que costumamos tratar o que nos é banal, anulando-se aquilo que é a maior das suas capacidades: a de nos relembrar, constantemente, da nossa banalidade. Ora: dispensando-se a natureza questionável da arquitectura em prol dessa ideia de conforto, dispensa-se a sua própria génese; o que evidente a torna débil, dependente que fica (apenas) da sua desenhada elegância (essa elegância que, sabemos, muda ao sabor dos tempos).

Sendo a conforto um instrumento da matéria da utilidade, poder-se-ia portanto concluir não estarmos já em presença de um problema das qualidades do útil, nem mesmo de facilidades ou funcionalidades - até porque a nossa capacidade de invenção e de adaptação a um espaço, ou a um meio, ou a um objecto é tudo menos ínfima -, mas antes da forma de melhor propôr o desconforto. Se quisermos: de destruir o próprio conforto.

Não havendo qualquer tipo de desprezo pelo exercício prático da tese que lhe é oposta, deveremos no entanto abstermo-nos de tentar explicar a arquitectura pela suposta ética social que lhe é implicita. Ideia essa que evidentemente não se apoia em qualquer proposta que pugne pela ausência de ética na arquitectura, mas antes por se partir do pressuposto que essa ética está implicita a qualquer acto disciplinar, incorporando no entanto uma estrutura única, cujo sentido maior busca aspectos como a tentação e o desejo, o temor, a consciência da nossa grandeza ou da nossa pequenez; que nos fará, na melhor das hipóteses, sentirmo-nos acanhados.















da série Louboutin Shoes, 2007, David Lynch

Tenho por garantida a nossa concordância: quase sempre nos sentimos acanhados perante as obras que nos toldam os sentidos.
E esta é um das razões que explica a impossibilidade de a usarmos, à arquitectura, sem sapatos. A não ser que hajam brasas espalhadas pelo chão.

Saber ver a arquitectura

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Dessa noite, generosa, reserva-se a memória de um projecto que há muito deixou de o ser, transformado que está num longo e recíproco acto de amor. Mas também de um senhor que se desembaraçou definitivamente dos constrangimentos do desenho e tornou a (sua) arquitectura no mais puro dos instrumentos de reflexão. E de um jovem arquitecto cujo empenho faz prever dedicado grau de civilidade.

Mais importante ainda, para lá dos discursos - vagamente fenomenológicos, construtivos, pedagógicos - que nada mais explicam que não aquela necessidade básica que todos temos em argumentar as mais íntimas e indizíveis decisões; mesmo depois de todas esse entretenimento nocturno aparentemente confundido com diatribe; fica-nos esta ideia que dá corpo ao What Are You Doing: mostrar, não o que estamos a fazer, mas sobretudo como o estamos a fazer. Coisa inédita, entenda-se.

Por isso, para além da agradabilidade da sala, do sabor doce do vinho ou da generosidade e do empenho das pessoas, afirma-se da utilidade dessas noites, e nomeia-se o seu responsável: Nadir Bonaccorso.

What are we doing

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WAYD?, Auditório da Ordem dos Arquitectos, Lisboa, 4 de Março, 21:30; com Miguel Marcelino, Stefano Riva, a.s* e António Machado.

Portugal fora de Portugal

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Pavilhão de Portugal, Shanghai, 2009; Carlos Couto

De facto ainda se diz por cá que a arquitectura portuguesa é um dos factores de afirmação cultural do nosso país. Um destes dias porém, talvez se cumpra tal designio. Num futuro mais ou menos longínquo. Porventura.

Nota (de curiosidade)

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Manuel Graça Dias (moderador), João Vieira Caldas (Arquitectura Popular), Isabel Soares de Albergaria (Arquitectura Erudita) e José Manuel Fernandes (Arquitectura Contemporânea) constituem o painel de intervenientes do debate sobre “Os Açores e a Arquitectura” que decorre dia 3 de Março, às 18h30, no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz em Lisboa.

Inquerito à Arquitectura Popular em Portugal

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(via Pedro Baía)

Espelho meu, espelho meu, há alguém mais bela do que eu?

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Sem título (para a exposição Contemplating the Void, Guggenheim, NY), 2009, Alvaro Siza Vieira

É evidente que Siza repete o que sempre fez: reflectir arquitectura.
Se grande parte das suas obras se pode comparar àquelas salas de espelhos que existiam nas feiras populares, que nos alteram as proporções, e juntam coisas aparentemente sem nexo; desta vez, simplesmente, o acto é apenas um bocado mais literal.

ps 1. alguém devia ajudar a jornalista do público a compreender aquilo que descreve.
ps 2. é de certa forma irritante que a maior parte das notícias sobre esta coisa do Guggenheim se esqueçam de Paulo David. Não é uma questão de justiça, mas apenas de rigor informativo.

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