Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Fim de Junho

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Kontakthof mit Damen und Herren ab '65', Pina Bausch, 1978 [ Imagem via jochenviehoff]

Fresh Ariadna

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Depois de, durante anos, ter sido responsável pelas exposições Panorama Emergente, nas Bienais Ibero-Americanas de Arquitectura, Ariadna Cantis, uma Argentina a viver em Madrid, dedica-se cada vez mais a observar a emergência de uma arquitectura tendencialmente despojada do seu enquadramento disciplinar tradicional, mais interessada em procurar respostas concretas, sensatas, e mais consentâneas com as cidades onde (nós) vivemos.

Depois de Fresh Madrid - uma plataforma documental da arquitectura emergente em Madrid, que vai já na terceira edição - Ariadna faz agora uma incursão pela Ibero-américa, dando sequência, alías, aos conteúdos por ela desenvolvidos na 2G: Emerging Ibero-American Architecture, com FreshLatino:

Entre las nuevas generaciones el «arquitecto estrella» deja sitio al «profesional en la calle», más próximo a la sociedad, investigador y experimental. La novedad entre estos arquitectos se identifica en la incorporación al repertorio de herramientas que provienen de la sociología, la política, la antropología, la economía y la ecología, y que amplían y trascienden los limites de la multidisciplinariedad profesional planteados en la agenda moderna de los arquitectos iberoamericanos; para ellos, la arquitectura ya no es objetos sino sistemas de trabajo. Sus temas son: bajo presupuesto, necesidades básicas, preocupaciones políticas y sociales, movilidad, temporalidad, subversión conceptual. Transitan entre una gran gama de posibilidades: desde interiores temporales o proyectos de pequeña escala, desde la instalación a la ejecución. Muchos de ellos tienen verificación física, generan experiencias inmediatas, hacen emerger un nuevo patrón de realidades, actúan en la frontera disciplinar, cruzándose con el diseño de moda, de mobiliario, la acción urbana o la instalación.
FreshLatino inaugura brevemente em Frankfurt, Hamburgo, Rio de Janeiro, Lyon, Bucareste, e em Lisboa, no Instituto Cervantes; trazendo 14 autores, entre eles Pezo von Ellrichshausen (de quem já falámos aqui, e aqui) e Pedro Bandeira (aqui e ali).

A explicação dos pássaros

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Face a um projecto que sabe ser menor, Koolhaas diz-nos: We want to be liked; but even more: we want to be used. Di-lo de forma pouco convincente, talvez por cansaço ou desinteresse, enquanto vai caminhando por um auditório desinvestido, onde - diz - as janelas foram abertas para a paisagem.

No meio da entrevista há um momento em que Koolhaas esboça um sorriso genuíno, quando fala de um antigo screenwriter seu amigo, que provavelmente não vê há muito tempo. E é tudo.

Dir-se-ia que as coisas já foram mais intensas, lá para os lados do Oma.

Da Cidade e da Justiça

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Cidade da Justiça, David Chipperfield, Barcelona, 2009















Institut Français, Coderch, Barcelona, 1972 [via Norto Mendez]

Há sempre, claro, a probabilidade de David Chipperfield referir de facto o Institut Français, enquanto vai explicando a sua Cidade da Justiça.

E se assim for, trata-se somente de uma questão da mais elementar justiça.

[agradecimento especial a R. Balhana]

Arquivo reincidente

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A propósito dos revivalismos de Gadanho fico para aqui a pensar o que é que afinal terá sobrado do post Post.Rotterdam cá por casa.

Post.Rotterdam, na nossa ingenuidade, parecia, na altura, uma hipotética plausibilidade do exercício das coisas sem a necessária verificação desses constrangimentos que afinal iriam perdurar; que, com o tempo , foram ficando mais velhos, e menos parecidos com a possibilidade de uma saída airosa.
Ainda assim, dela sobrou o suficiente para que não seja necessário dispensar o passado, que é a mesma coisa que dizer que não há nada a evitar no futuro.

Ficam registos de Architecture and City after the Tabula Rasa, que esteve na Biblioteca do Palácio de Cristal durante a Porto 2001. Não sei já bem quem será o autor das imagens. Há umas outras fotografias (muito melhores) do Sérgio Mah, se bem que sobreexpostas; que não deixam perceber muito bem o ambiente da mesma.

























































O Síndrome de Viena

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Para aí há quatro ou cinco semanas alguém telefona lá para o atelier a perguntar o porquê da nossa ausência, na noite anterior, na inauguração de uma exposição onde, por sinal, estaria um trabalho nosso. De equívoco em equívoco, numa conversa algo absurda de parte a parte, lá se foi percebendo que o protocolo do Secil, concerteza atarefado com diligências importantes, e a Ordem dos Arquitectos, numa óbvia distracção de última hora, se tinham esquecido (ups!) de convidar, para a cerimónia de entrega dos seus prémios de arquitectura, alguém que por acaso até tinha a sua obra nomeada.

Hoje descubro, por um insuspeito twitter, não sem alguma surpresa, que há uma obra nossa numa exposição que inaugurou na semana passada, no Architekturzentrum de Viena.

Não é que não nunca me tenha passado pela cabeça seguir a atraente teoria daquele Irmão Marx. Aquele que nos filmes de fazia passar sempre pelo mais inteligente dos três. O de bigodes, sempre com um charuto aceso. E afirmar que não frequento exposições que mostrem obras minhas.

O problema é que, um dia destes, se isto continua assim, ainda consigo não estar presente numa conferência dada por mim.

ps. Bem sei que isto agora não é bem uma exposição - na verdade nem sequer tenho certezas sobre as outras duas - , mas a coisa serve, ao menos, para confirmar o ditado: não há duas sem três.

Concurso

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Seria suposto que o dia que passou tivesse sido o mais largo. Mas nem por isso todo esse tempo que vai de sol a sol chegou para aquilo tudo que tínhamos para fazer.
Pelo contrário, a noite, essa suposta noite pequena, cuja reduzida dimensão pode ser facilmente confirmada por qualquer desses astrónomos de trazer por casa - daqueles que têm, junto à janela da sala, um daqueles telescópios comprados na Fnac, e que dele se servem indiscriminadamente, para olhar para o céu ou para as janelas dos vizinhos da frente; essa noite pequena, dizia eu, revelou-se imensa.
Concluo: há uma espécie de impossibilidade pessoal em fazer cumprir o Solstício aqui pelo atelier. Ou então há uma constante necessidade de o contradizer, ao solstício. Até porque as noites curtas não são propriamente consentâneas com aquilo para que as noites servem, nos ateliers.

O observador

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Ainda relativamente ao tema Da tendência para a reclinação e do seu desejo, julgo (saber) que as ideias aí defendidas são, regra geral, partilhadas pela maioria dos arquitectos, como porventura pela maioria dos cidadãos.
Se não todas, pelo menos a mais importante: a tese pela qual o Concurso Público de Arquitectura é o instrumento que mais reflecte o comprometimento social de uma sociedade no modo de encontrar a melhor ideia para cada situação, para cada solução.

Não é, claro, um instrumento simples; nem fácil, o do Concurso Público. Como não é fácil, nem simples o total exercício de cidadania e de democracia.

E, claro, haverá sempre lugar a excepção. Casos em que um determinado problema requeira outro tipo de solução. Casos em que uma evidência ou uma felicidade nos permitam pensar em dispensar tal mecanismo. Casos em que possamos aceitar uma outra forma de ver as nossas cidades crescer, civilizadamente, com empenhamento de todos aqueles que a participam.
Para que esses casos sejam possíveis há, no entanto, uma exigência a se cumprir. Que é a exigência a que se obriga cada cidadão num contexto democrático: a de estar informado.

Seria, por isso, bom para todos nós saber das coisas que se passam, das decisões que se tomam, das escolhas que se fazem; só porque essas coisas e essas decisões e essas escolham influenciam o nosso quotidiano.
Saber dessas coisas, dessas decisões e dessas escolhas permite-nos enquadrar o nosso próprio modo de com elas nos relacionarmos e, claro, possibilita-nos delas gozar, ou discordar.
Seria bom, claro, saber dessas coisas pelo modo mais simples. Esse modo mais simples ao qual uma instituição como a Ordem dos Arquitectos poderia servir, se assim quisesse, se assim achasse útil.
Um dia destes talvez a Ordem dos Arquitectos o ache útil: saber informar. Saber informar-se. porque só assim a instituição poderá garantir o cumprimento dos objectivos para a qual foi criada.

Assim não sendo, por ora, há, ainda assim, quem se preocupe. Quem decida meter a mão no fogo, e ganhar tempo.
Luís Afonso, de quem pouco sei, é uma dessas gentes que ainda acha válido perder o seu tempo a fazer ganhar tempo aos outros. Que acredita que as regras sociais que nos regem podem ser melhores, e mais profícuas. E que as cidades que habitamos serão melhores por causa disso. Ainda bem.

Luís Afonso; esse mesmo que se achou um dia obrigado a fazer do seu Observatório um registo daquilo que é o quotidiano dos serviços que os arquitectos prestam ao estado; que é o mesmo que dizer: os serviços que os arquitectos prestam a todos nós.

Luís Afonso, que pensa assim:

Os concursos públicos de concepção deveriam ser o único instrumento que o Estado, as Regiões Autónomas, as Autarquias Locais, os Institutos e Empresas Públicas, e demais instituições públicas e/ou com participação pública têm ao seu dispor para a contratação de serviços de arquitectura e especialidades com vista à elaboração de estudos e projectos de construção, reconstrução, remodelação e planeamento urbano.

Não é concebível que ainda haja recurso a concursos públicos viciados e/ou com condicionantes de quase impossível cumprimento (só entre meados de Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009, já tive oportunidade de alertar os serviços de concursos das Secções Regionais Sul e Norte para 11 destes procedimentos suspeitos). Não é concebível que colegas nossos actuando como júri, o façam com displicência e sem o zelo e respeito necessários à função e acto de ajuizar.

Não é concebível que ainda haja recurso a adjudicações directas de duvidosa legalidade e/ou justificação. Não é concebível que se convidem arquitectos nacionais e estrangeiros, ditos de referência e renome nacional e internacional, para servir única e exclusivamente objectivos políticos e operações de marketing político apresentadas como comemorações da república, projectos de interesse nacional, autárquico, etc. Não é concebível que se entreguem projectos a arquitectos com base nos seus compadrios ou meras afinidades de gosto dos responsáveis decisores. Não é concebível que importantes obras do Estado e das Autarquias, como por exemplo a renovação e aumento do parque escolar, os equipamentos de saúde, os museus e equipamentos culturais, a recuperação do nosso mais precioso património edificado ou até mesmo o futuro aeroporto, sejam projectados sem uma consulta pública e apreciação por um júri qualificado. Não é concebível que colegas nossos aceitem estas adjudicações directas tendo consciência absoluta que não o deveriam fazer, pelo óbvio desequilíbrio que provocam na normal regulação e livre concorrência da classe, consagrados aliás no Regulamento de Deontologia. Não é concebível que a Ordem dos Arquitectos apoie alguns destes procedimentos sendo ingenuamente instrumentalizada pelo sistema político. Não é concebível que a Ordem dos Arquitectos não se pronuncie desfavoravelmente sobre este tipo de procedimentos; não se distancie clara, objectiva e publicamente destas manobras de bastidores e não actue disciplinarmente sobre quem prevarica.

Sobre a hesitação de Hans-Jürgen Commerell

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Um périplo pela última década de representações nacionais de arquitectura fora de Portugal (Parte I/II), na ArteCapital.

Huckleberry Finn

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Se há coisas para a qual a arquitectura existe, esta é certamente uma delas: sublinhar aquilo que de outra forma não nos era evidente. Mas, claro, para isso ser possível há uma condição prévia a cumprir, que é a do seu autor ser capaz de seleccionar, por d'entre infinitas possibilidades de logro, aquilo que se facto é relevante. A coisa sublinhável.

Depois há ainda uma outra coisa admirável, aqui. Que é a da capacidade que a arquitectura tem em não se parecer com ela própria.
















Aparentemente, a conjugação e um e outro factor, permite-nos, por exemplo, descobrir um ponto de vista singular sobre uma ponte; que de outra forma nos era mostrada da mesma, igual, forma que aprendemos a ver todas as outras pontes que existem.

E se essa forma de descoberta se parecer, nem que seja por réstia de memória longínqua, com o caminho, secreto, que Huckleberry Finn percorre, descalço, por entre os bosques em redor de uma imaginada São Petersburgo americana, atravessando troncos sobre riachos que desaguam no Mississipi, então, só então, podemos chamar a isso uma bela peça de arquitectura.





















Área de Estadia em Santa-Clara-a-Velha, Odemira, José Adrião, 2006

Do hábito

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Partindo do pressuposto que conhecemos arquitectura, nada nos diz que aquilo que nos é evidente não passa de um hábito, mais até do que um acto ou de um desejo de intenções.
O problema começa logo aí: é que a arquitectura só pode existir a partir de um acto ou de um desejo de intenções.
Os hábitos são o lastro. Pesado, já se vê.
Sobretudo quando dizem que a arquitectura depende de uma acto ou de um desejo de intenções.

O Museu Carlos Machado

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Publicam-se as oito propostas a concurso para a Recuperação e Ampliação do Museu Carlos Machado, em S. Miguel, Ponta Delgada.
O concurso foi elaborado em duas fases: a primeira de selecção curricular; a segunda por escolha de projecto.

O Júri da segunda fase do concurso foi composto por João Paulo Conceição (atelier 9H), Ângelo Regojo (Direcção Regional de Cultura dos Açores), um representante do Instituto Português dos Museus, um Museólogo do Museu da Presidência da Republica, e o Vice-Director Regional da Cultura dos Açores.

Não foi fornecida qualquer acta de Júri aos concorrentes.














































Paulo David, 1º Classificado














































Atelier 15: Alexandre Alves Costa, Sérvio Fernandez; 2.º Classificado














































FSMGN: Fernando Salvador, Margarida Grácio Nunes, 3.º Classificado














































João Mendes Ribeiro / Menos é Mais; 4º Classificado














































Gonçalo Byrne / ZT Arquitectos; 5º Classificado





























































a.s* / Pedro Maurício Borges; 6º Classificado































Susana Fernini, 7º Classificado














































Consulmar Açores: Kol de Carvalho / Vitor Mestre, 8º Classificado



[Nota: as imagens (com excepção das do a.s*) são tiradas directamente dos paíneis de concurso, em condições que não permitem a sua melhor reprodução e , claro, total compreensão dos projectos. Fica ainda assim uma ideia geral das oito propostas.]

O Rapto de Proserpina

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O Rapto de Proserpina [porm.], Bernini, 1622

Rumores dizem-nos que o Presidente da República se prepara para agraciar uma jovem, mas confirmada artista, com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique.

Os mesmos rumores dizem-nos que ainda vai sobrar imenso espaço para futuras condecorações.

Da organização e do poder segundo Malraux

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imagens: China, Michael Roulier, 2009


Quando, pouco depois da guerra, Gisors entrara em contacto com as potências económicas de Shangai, não ficara pouco admirado de ver que a ideia que ele tinha do capitalismo não correspondia, aqui a coisa alguma [...]. O capitalismo moderno é muito mais vontade de organização do que de poder.

La Condition Humaine, André Malraux, 1933.

Método a.s* de avaliação da Casa da Música #1

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Nota inicial: a proposta faz parte de um projecto do a.s*, encomendado pela Casa da Música em 2007, no contexto do programa ONP à sexta - que juntou, entre 2007 e 2008, intervenções de autores a determinado concertos da Orquestra Nacional do Porto. A proposta não foi aceite pela instituição.

De cada vez que há uma estreia no Scala de Milão, um grupo de melómanos junta-se no balcão popular, mesmo lá em cima, nos piores lugares; daqueles que antigamente nem cadeiras tinham.
Impecáveis, estes melómanos vestem os seus melhores smokings. Preparam-se, ávida e devidamente, munindo-se dos respectivos libretti, que arrumam debaixo do braço enquanto sobem, empolgados, as escadarias do edifício.

A única coisa que distingue este grupo de todos os outros que em Milão acompanham as estreias d'ópera é ele ser formado, provavelmente, pelo público mais exigente que a ópera conhece. Desde sempre acompanham la stagione. Assistiram à Aida dezenas de vezes. Sabem o Don Carlo de trás para a frente. Preferem, sempre, a Lucrezia Borgia, só porque estreou no Scala.
Alguns elementos deste grupo são mesmo capazes de jurar que assistiram ao Francesco Pedrazzi a fazer de Gennaro; e todos, sem excepção, acham Callas a mulher mais bela de sempre.
Para além disso, uma pequena particularidade: todos eles transportam, nos bolsos da casaca, ovos e tomates. De preferência podres.
E depois, de lá de cima, da bancada popular, ficam a admirar, apaixonadamente , as árias. Deleitam-se. Aplaudem silenciosamente cada respingar do coro. Os movimentos perpendiculares do soprano ou o belcanto dos tenores. E no fim de cada acto, satisfeitos, aplaudem outra vez, agora de forma ruidosa.

No entanto se algo de errado acontecer. Se uma nota da orquestra falha o tom. Se o cenário for um equívoco. Se a soprano falhar a tessitura. Ou se o timbre for afectado por um clarinete mais distraído.
Nesses casos, e apenas nesses casos, o grupo lança os libretti para a plateia, e os ovos, e os tomates, podres de preferência, para o fosso, ou para o palco; dependendo esta última decisão do responsável pela falha.

Trata-se, claro, da mais exigente das críticas: uma espécie de teste de qualidade. Passar pela estreia do Scala incólume equivale a dobrar o cabo das tormentas sem que um pingo sequer nos molhe a casaca.

Nesse mesmo sentido, como proposta #1 para um método de avaliação a casa da música, e à falta desse exigentíssimo público arquitecto-melómano, propomos substituir os bilhetes dos espectáculos da instituição por pequenos, esféricos e manuseáveis cartuchos de tinta. De várias cores, dependendo do tipo de espectáculo.
Aos espectadores é pedido que, à saída dos espectáculos, devolvam os bilhetinhos intactos. Isto é: apenas se estiverem agradados com a perfomance da obra de Koolhaas.
Caso contrário, é-lhes dada a possibilidade de arremessar a tinta contra as paredes d'A Casa da Música.

O aspecto do edifício dependerá dessa forma do seu sucesso popular: mantendo-se branco, incólume, se tudo estiver de acordo com o exigente público portuense; ou, pelo contrário, uma mancha informe de cor, se porventura algo correr mal.





























































Na inauguração da temporada serão enviados convites a várias personalidades arquitectónicas do Porto, que farão as honras da casa.

Prevê-se (in)sucesso imediato.

A confraria

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Não estamos numa sociedade que tenda para a decência ou para a honestidade.

Confirma-se: esta coisa de partilhar nomes não se fica apenas pela partilha do nome.
Desconfio, aliás, que o Pedro Costa concordará com esta (nossa) tese.

Portugal fora de Portugal

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Re:vision Dallas, Moov + Atelier Data, 2009 (primeiro classificado)

De há uns dias para cá tenho tido a oportunidade de confirmar a ideia que, ao contrário dos equívocos ou das aparências, a arquitectura que por cá se faz vai bem e recomenda-se.

Dos Moov e do Atelier Data fica-nos um óptimo exemplo do facto. E ainda bem.

Secção Imobiliário

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Vende-se T3, bom exposição solar, óptima exposição mediática. Motivo: mudança de ramo.
Informações e marcações de visitas aqui.

A arte da respiração

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Las Meninas, Velásquez, 1656

Mais Velásquez do que isto é, simplesmente, uma impossibilidade.

Entretanto, caso sintam vontade de respirar, eis um conselho: primeiro inspirem convenientemente. E só depois se sintam à vontade para expirar.

Regresso ao futuro

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O uso do termo retiro o que disse, mesmo quanto não dito, é exactamente o oposto ao acto de voltar atrás com a palavra.
Voltar atrás com a palavra implica, aparentemente, a distanciação do outro. Uma espécie de desligamento incómodo, que despreza sempre alguma coisa, mesmo que mínima. Um acto que agride a confiança. Uma pequena violação à normalidade.
Já o retiro o que disse faz adivinhar a capacidade de reflexão. É uma hipótese de injunção.
Não é um voltar atrás, portanto. Mas antes uma tentativa, quase sempre bem sucedida, de regresso à frente.

Serviço Público

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Serviço Público era haver alguém (quiçá a OA) que publicasse os resultados dos concursos de arquitectura, revelando os projectos participantes e as actas dos respectivos júris.

Sobre a acção e a reacção

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Ainda a propósito do exercício da crítica em Portugal recordo, não sem alguma apreensão, o único caso de um texto que, numa publicação generalista (o Público) manifestava frontal e inequivocamente sua discordância com o projecto em causa, encontrando-lhe contradições, soluções mal conseguidas, equívocos formais e materiais.
O texto crítico, de 2001 (salvo erro) versava a recém-inaugurada Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, da autoria de José Manuel Soares; colocando a hipótese do júri do respectivo concurso ter errado ao premiar a solução que haveria de ser construída (um pouco como o texto de C. Hawthorne faz).

Não me recordo, depois desse episódio, de ler mais nenhum texto de Pedro Barreto no jornal Público. E olhem que Barreto, para além do excepcional domínio da cultura disciplinar que o caracteriza, até escreve bem.

Adenda à entrada anterior

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E já que falávamos sobre crítica (d)e arquitectura, cite-se Christopher Hawthorne, num artigo do LA Times intitulado Pass/fail for L.A.'s new arts school:

(...) yet the speed with which the campus became a symbol of controversy and discord raises serious questions about whether Coop Himmelblau, known for bravura design gestures and terrifically complex form-making, was the right choice for this contentious obstacle course of a commission (...);
que vem pôr em causa não apenas uma obra de arquitectura, mas a escolha que se fez para os seus autores.
Ainda que sem atingir o objectivismo disciplinar da dupla Yeste/Massad, o ensaio crítico (publicado num jornal generalista) de Hawthorne revela, no mínimo, a relação descomplexada que ainda vamos podendo ter com a arquitectura.

Pode ser, de facto, que a arquitectura não deva ser objecto de escrutínio popular, como é afincadamente defendido no renovado JA de Manuel Graça Dias.
Pode ser que a arquitectura não se deva sujeitar a manifestações ingénuas, opiniões sem fundamento, preconceitos de pacotilha (recordo o artigo de Clara Ferreira Alves, no Expresso, a propósito da polémica do edifício do Largo do Rato, da dupla Aires Mateus/Valsassina).
Mas para que estas manifestações ingénuas, estas opiniões sem fundamento e estes preconceitos de pacotilha percam importância; seria necessário haver de facto crítica de arquitectura. Séria. Descomprometida. Informada. E com sentido ético.

É que a defesa da arquitectura feita da forma que conhecemos, hoje, nos jornais generalistas, só revela uma de duas hipóteses: corporativismo bacoco ou proteccionismo cego (recordo o artigo de Ricardo Carvalho, no Público, a propósito da polémica do edifício do Largo do Rato, da dupla Aires Mateus/Valsassina).

Estado crítico

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Podría decirse que Ingels padece pecados de juventud, que está desarrollando sus primeros proyectos, pero en esta exposición y con este libro desvela que tras su maquinaria de producción y el barniz de última tecnología y ‘coolness’ subyace un concepto totalmente anticuado de arquitecto. Donde subyace el verdadero problema con Ingels no es en la elementalidad intelectual, ni en su arquitectura de eslóganes sino en que él y muchos de sus coetáneos han inventado una trampa sobre la contemporaneidad, y detrás de su despliegue y uso de la tecnología se vislumbran todos los usos de los star-architects que impiden la verdadera innovación y no dan respuestas factibles a la sociedad actual. Su existencia únicamente sirve para persistir en ese estado de idiotización que elude la obligación de un debate real y ocultar la imposibilidad de la arquitectura para asumir los desarrollos tecnológicos como fundamento para un trabajo serio (...)
Uma (pequena) parte de um (pequeno) texto crítico da autoria de Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste, nesta caso (poderia ser outro qualquer) sobre a exposição Yes is More, originalmente publicado no suplemento cultural do ABC (que não é, propriamente, uma edição especializada).

Para nós, pouco habituados ao exercício de uma crítica de arquitectura escorreita, directa, clara - seja em suplementos culturais de fim-de-semana, seja em revistas (ditas) da especialidade -, as recensões de Fredy e Alicia (disponíveis no btbW Architecture, que passa a figurar na coluna da direita) tornam-se leitura obrigatória.
Independentemente das posições que defendem, e independentemente das ideias a que assistem, os textos do arquitecto argentino e da historiadora espanhola são informados, desinteressados, objectivos; como se toda a crítica de arquitectura pudesse um dia ser assim.

Sobre o bom senso e sensibilidade

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Se é certo que as coisas têm sempre uma explicação qualquer, também não deixa de ser verdade que às coisas não se lhes pode exigir que nos expliquem a sua intimidade.
A intimidade não se explica. No máximo, constata-se. Exactamente por essa razão: por ser uma questão do foro íntimo.

Se nas fotografias da Casa de Sofia, Sofia aparece nua, a dormir ou a banhar-se, é porque a intimidade da casa está muito para além daquilo que o corpo despido de Sofia deixa, ou pode revelar. Sofia é, aqui, apenas uma pequena parte desse segredo que não é, nunca, uma vontade; mas antes uma consequência óbvia do trabalho exercido em torno dessa intimidade que só é secreta por pura definição do próprio conceito.

Nesse mesmo sentido a aparente simplicidade das coisas não se explica. Não é preciso.
Procurar por isso explicar a Casa de Lavra é inútil. A Casa terá, claro, a sua explicação própria; que não é minimamente decisiva para aquilo que se espera da arquitectura.
Há, nesta casa, evidentemente, um conjunto de minuciosas denúncias da sua intimidade. Como há, também, a própria declinação pessoal de quem a fez, que se revela essencialmente em pequenos detalhes. Do corrimão, irregular, como que se fosse achado na rua; amaciado, agarrado à parede dessa forma inequivocamente própria; como se o trabalho artesanal pudesse cumprir o desígnio da singularidade. Ou então a maneira como o tampo de madeira que serve de mesa de refeições assenta sobre a bancada negra que corre toda a casa.

Mas não é por esses pormenores que a obra é singular. Aliás, é. Mas é-o na forma como os pormenores (não) existem; tornando-os ausentes, externos á obrigatoriedade do desenho.
Se a obra é singular, sobretudo se comparada com o panorama de produção arquitectónica recente; é-o sobretudo por não se obrigar ao exercício do desenho.















Na Lavra nada é fingido. Repare-se na naturalidade com que se sustenta a mezzanine, sem qualquer tipo de argumentos que simulem outra solução que não a mais básica; que é, provavelmente, a mais eficaz.
Ou então a ausência de uma métrica para as tábuas de madeira que forram as fachadas, e também a falta de cuidado arquitectónico nas esquinas. Como se o desenho fosse uma pura perda de tempo. Como se o desenho não instituísse qualquer tipo de valor.
E não institui. Pelo menos aqui, nessa definição do espaço que é feito, única e exclusivamente, para o exercício da intimidade. Como se fosse um recolhimento do bosque que a rodeia, por sua vez uma forma de recolhimento também; a fazer lembrar A Casa de Adão no Paraíso do Rykwert.

[Ia agora, a propósito, falar da vez em que me cruzei com o Rykwert, mas isso não faz sentido algum. Na verdade a Casa de Lavra não intenta a ideia da origem. Se o acaso me levou a referir algum tipo de identificação entre A Casa de Lavra e A Casa de Adão no Paraíso, isso foi um erro].

Depois, mais atentamente, descobrimos afinal que nos planos ausentes das fachadas cabem as janelas e as portas; sem que delas nos tenhamos apercebido inicialmente, quando a casa ainda em enclausura; o que afinal vai provar que a nossa ideia da ausência de uma métrica estava errada.
A questão é que esse acto – ou antes: a arquitectura – é feito de recato. E isso torna-a numa singularidade feita à medida das necessidades ou das limitações, com o bom senso e sensibilidade, que deve aliás ser o título de um dos livros que por lá se lêem vagarosamente.















Tem ar de casa de Inverno. Descomprometida. Confortável. Íntima.

Todas as imagens: Casa de Lavra, Nuno Merino Rocha, 2005 (?)

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