Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Académica (de Coimbra)

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Disponiveis as teses de Coimbra.

Destaque (pessoal) para os Açores de Borges.
Curiosidade (científica) pela Periferia de Figueira.
Interesse (profissional) pela Paisagem de Cardielos.

Adenda (aos comentários d)a entrada anterior

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Com certeza que sim: que o projecto é um projecto feito em velocidade de cruzeiro, sendo mais fruto do hábito (toda a gente sabe que tendemos pouco a reflectir sobre tudo aquilo que nos é habitual), do que de um qualquer desejo. Não se lhe denota qualquer tipo de investimento nem envolvimento, recorrendo a truques (coisa que nada tem de mal) de forma atabalhoada (coisa que tudo tem de mal), abstendo-se de algo mais do que cumprir os mínimos.

De certa forma é um projecto construído apenas à base de estereotipos (propositadamente alguém referiu Byrne na caixa de comentários), desligados, desproporcionados, desadequados; com um desenho pobre - é ver o Átrio ou o Auditório, como AM bem refere, mas também as padieiras e as soleiras, e aquela confrangedora pedra (uma má escolha, que anula a intenção expressa nos alçados desenhados) -, aparentando haver um problema de (in)capacidade de quem, deselegantemente, levou o projecto para a frente (será um curioso exercício tentar descobrir quem, por detrás da extensa lista de nomes espanhóis que fazem parte da equipa de projecto, é a aparejador de serviço).

Não há aqui, evidentemente, nada de grave. Ou nada de errado, sequer, a não ser essa banalidade que pouca justiça faz ao autor. Na verdade a única conclusão que poderemos tirar acerca do Paraninfo é a sua inutilidade. Para nós, para Bilbao, e para o próprio Siza.

A propósito deste tipo de coisas (sobretudo vindas de quem vem) recordo uma conferência do mesmo, que tive oportunidade de ver há um bom par de anos. A conferência, maravilhosa, foi toda ela ocupada apenas com um projecto: a Fundação Iberê Camargo. Nela foram mostradas todas aquelas coisas que ficam esquecidas pela gavetas dos ateliers, ou que normalmente acabam nos cestos do lixo: as dúvidas, os recuos e as hesitações (Iberô Camargo em forma de cubo, Iberô Camargo em forma de pirâmide, Iberô Camargo em forma de tolice), os desenhos feios e menos feios, os equívocos e, sobretudo, todo o tempo que se gastou a inventar aquela coisa.

A uma dada altura, já no fim da festa, alguém terá questionado Siza sobre a razão do evidente desequilíbrio entre o Museu - que, tal como afirma João Amaro Correia, é A Obra de Siza (quer dizer, depois daquilo nada mais há a fazer) - e outro projecto da sua autoria (não me recordo exactamente qual era a obra referida) terminda mais ou menos na mesma altura.
Depois de ter calmamente explicado o processo de encomenda do projecto do Brasil, e o (excepcional) envolvimento da fundação Iberê Camargo, Siza foi claro: aquilo que fez a Fundação ser aquilo que é - repito: o projecto que culmina e supera todo o percurso de Siza - deve-se, segundo o autor, a um facto da maior simplicidade: o envolvimento da parte de quem lhe pede o projecto, e o estímulo que esse envolvimento lhe provoca.

Quer dizer: não haverá boas obras sem bons clientes. Ou, dito estão de outra forma: todos têm o (Siza) que merecem.


ps. já agora, G. Byrne esteve nessa conferência. Embora não possa confirmar o seu grau de atenção para com tudo aquilo que por lá foi dito.

Nota sobre tropeções

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Nada mais natural do que um tropeção. Sobretudo vindo de alguém com a tendência de olhar para o ar à medida que caminha.

Orgulho e Preconceito

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Pride and Prejudice, Jane Austen, 1813.

Magda Antunes: abrindo-se aqui a excepção de trazer à ribalta discussões que convenientemente se vão arrumando nas caixas de comentários, não poderia no entanto deixar de procurar dar resposta à sua estimável intervenção n'As Catedrais, sobre o tema desta entrada.

Aceitando, claro, a orgulhosa preferência pessoal pelo Orgulho, devo no entanto contrapôr que é sobretudo de Ego que falamos quanto falamos de (autores) de arquitectura (e não só).
Bastaria, evidentemente, ir à fonte, para perceber que o Ego em si mesmo um mecanismo de defesa pessoal. Não sendo directo, e muito menos consciente, este mecanismo aplica-se sempre que um indivíduo entra em conflito com determindo aspecto da realidade: seja a moral social e vigor, sejam as normas e os tabus, ou mesmo as expectativas (não cumpridas, digo eu) do próprio. Segundo esse tal Freud, esses mecanismo de defesa incluem a negação, mas também a intelectualização, a fantasia, a racionalização e a respectiva compensação, a regressão, a repressão ou a sublimação.

Penso, pois, que tudo aquilo que se refere ao autor em questão - como a (quase) todos os autores cuja obra de algum modo nos vão comovendo, tal como a (quase) todas as obras dignas de atenção - actua exactamente sobre o Ego, e não tanto sobre o Orgulho; cujo teor é praticamente irrelevante na produção arquitectónica, até por ser normalmente um assunto de (irritante) carácter pessoal.
Se me permite a observação, o problema da Magda parece ser outro: não acreditar na possibilidade da especulação. Saberá com certeza que a especulação é, na história da arquitectura, elemento fundamental. É a partir dela que descobrimos coisas, que tentamos respostas, que recusamos realidades menos boas. E tenho por certo que a própria Magda valoriza obras que nunca passaram do papel, e autores que tudo fizeram menos construir.

Depois, há uma outra questão, central: se o autor em causa não constrói mais e melhor, talvez seja pelo facto de haver poucas oportunidade para que isso aconteça. Na verdade a própria Magda dificilmente encontrará "arquitectos dessa geração" que construam (se se lembrar de alguém, agradeço que me informe) alguma coisa com o mínimo de interesse. Pelo menos em Portugal. E isso sim, é que é de lamentar; pelo menos para aqueles que preferem as tentativas, os erros e as tragédias (o Ego) à banalidade (o Orgulho).
E é ai mesmo, nesse território de tentativas, de erros e de tragédias (e não nos Açores, como inocentemente sugere), que pudemos de facto encontrar e perceber as obras que a Magda afirma assemelharem-se a "jarras de cemitérios" ou a "cenários de filmes de Série B" (epítetos, aliás, que deixaria babado de orgulho qualquer um que tenha bom senso e sensibilidade).
Seria um evidente sinal de generosidade e de curiosidade colectivas se oportunidades houvessem para que mais gente como esta pudesse de facto construir. Viveríamos, então, num lugar de maior civilidade e de heterodoxia, e não num país que efectivamente concede pouco espaço de manobra a todos aqueles que achem que a arquitectura pode ser algo mais do que isto ou (ainda pior) aquilo.

Curioso é o facto de Magda agradecer o facto de lhe ser dada a oportunidade de conhecer a obra de Bandeira. Crendo sinceramente que os termos que usa para adjectivar a obra de tal autor não derivem directamente do cinismo (o contrário seria uma facada no meu orgulho), fico sem entender como pode criticar tão acerrimamente a pouca adição cívica de toda uma geração (um erro de leitura, evidentemente), e simultaneamente afirmar a sua adesão a um autor que, por definição, assenta toda a sua obra exactamente na mais pura das especulações (ou: na conversa, por suas palavras).

Por fim, em relação àquilo que refere como arquitectura de excepção, avanço com a hipótese da Magda não conheçer pessoalmente a obra em questão, e muito menos desconfiar que a história da atribuição do Prémio Secil à dita seja um outro maravilhoso caso de egocentrismo; até porque a possibilidade do contrário levar-me-ia a pensar, erroneamente - espero-, que sob o manto do orgulho se esconderia o submisso perfume da moralidade.

A catcher in the rye

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Ouvimos aquela frase que diz que a crise é um óptimo momento para separar o trigo do joio, e depois chegamos à conclusão que afinal estamo-nos é todos nas tintas para o trigo.

Acerca da proporcionalidade da beleza

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Faculdade de Informática e Electrónica, Combra, 1991, Gonçalo Byrne (imagem via Skyscrapercity)

Ia começar a escrever qualquer coisa acerca do texto da Anatxu sobre o Byrne, e sobretudo sobre aquela frase aparentemente mitológica de Nuno Grande: la belleza de Lisboa es proporciona a su vulnerabilidad. Mas depois arrependi-me. Até porque a beleza é sempre proporcional à vulnerabilidade; sobretudo se não percebermos qual o sentido exacto da proporcionalidade. Ou da beleza. Que no fundo é a mesma coisa.

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