Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Teoria sobre a notada ausência de rodapés na arquitectura contemporânea

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Casa Hannepin, Illinois, 2008, UrbanLab (via Unhappy Hipsters)

Para além da refinada ironia do Unhappy Hipsters, nele sobressai uma aparente condição (ao uso) da casa d'hoje: nelas as pessoas andam sempre descalças.
Raro é a habitante contemporâneo que não opte por se demonstrar informal em casa, deixando os sapatos de lado - mais as mulheres que os homens, é certo; o que revela ainda alguma diferenciação na maneira como uns e outros se vão apropriando das coisas -, fenómeno esse impossivel de observar, por exemplo, nas gentes que habitam as fotografias de Schulman.

Afinal nunca se encontra ninguém descalço numa casa modernista (isto, claro, com excepção daquela imagem de Le Corbusier na casa de Eileen Gray; mas mesmo essa não é totalmente conclusiva sobre o facto); sendo de facto difícil imaginar alguém a caminhar sem sapatos numa casa de Loos ou de Mies.



















"Cocktail hour" na Casa Spencer, 1950, Richard Spence (fotografado por J. Schulman)

Poder-se-ia concluir que aquilo que nos afasta definitivamente do moderno é a ambição pelo conforto. Se é um facto que hoje andamos descalços em casa, sabendo no entanto que os sapatos que usamos agora são bem mais confortáveis do que os de à sessenta anos; adjectivo esse que não se aplica necessariamente às casas.

Chile

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Pulluhue, Chile, Fevereiro 2010 (via The Guardian)

Muchos arquitectos han ofrecido su ayuda, tanto para la reconstrucción como para vivienda de emergencia. Dejo este post para que en los comentarios dejen su disponibilidad e ideas para empezar a organizar a los arquitectos, y veremos como canalizar esto a través de los canales necesarios.

Adenda à entrada anterior

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Amate L'Architettura, G. Ponti, 1957

O fim das coisas quase nunca se deve à força dos seus adversários, mas sobretudo àquilo que lhes sobrevem: o orgulho. Ou antes: o pudor; que é a forma mais fácil de o revelar, ao orgulho.
Repare-se que, mesmo a aristocracia, nos seus últimos e arrastados dias, se orgulhava ainda dos seus casarões sem luz e sem sanitas, já destituidos de qualquer tipo de utilidade, idos que estavam os dias de festas e os serviçais.
Não quer isto dizer que os mais astutos não tivessem tido a consciência do desgaste da sua própria realidade. Incapazes de acompanhar a força das coisas que aí vinham, preferiram afastar-se elegantemente, inventando aquilo a que vulgarmente se chama de romantismo. Outros, menos astutos, ou mais combativos, preferiram manter-se nos seus castelos sem luz nem casas de banho, olhando pela janela os despojos dos dias, refugiando-se nesse pudor, não sem por esboçar um sorriso arrogante, comentando para si próprios a barbárie que se lhes invade os jardins.

Tendo por breves instantes regressado aos corredores do Porto, ouvindo esse murmurar carregado de pudor (bárbaros, terroristas, gentes perigosas, disseram); fechado em copas, e incapaz de reagir d'outro modo que não o da simples negação, veio-me à memória a forma instintiva com que Alves Costa renunciou à frase de Lampedusa qualcosa doveva cambiare perch tutto restasse com'era prima (escreve-se assim, não é Riva?), aquando da sua recente entrevista lá pelos lados da Câmara Clara.
Não crendo que pudesse em algum momento ter sido calculista na sua reação, a resposta de Alves Costa - precisamente um dos inventores desta escola algo Fabriziana - instala enfim a dúvida da eventual discordância entre as ambições dos seus construtores e os resultados que afinal são aquilo que ainda resta desses dias.

Brideshead revisited

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É de certo modo inconclusiva a razão para Evelyn Waugh conceder ao seu Capitão Charles Ryder a profissão de arquitecto, até porque as passagens do Reviver o Passado em Brideshead que deixam adivinhar a relevância dos edifícios são pautadas mais por esses gestos de reminiscência aristocrática ainda tão em voga pela burguesia do principio do século, do que propriamente pelo envolvimento da personagem no metier que Waugh lhe incute.
Ainda assim é de certo modo simbólico dotar Ryder dessa pretensa sensibilidade espacial, competência que eventualmente lhe facilitará esse exercício de memória a partir das paredes agora despidas, decadentes, de Brideshead.

Quer dizer: ser arquitecto amplia a possibilidade de ler, num edifício, a vontade que lhe deu origem. E também as pequenas coisas que lhe fizeram o seu quotidiano. Capacidade essa que, mais cedo ou mais tarde, nos vai tornar a todos seres saudosos por um passado impossivel ou, em alternativa, perigosos sanguinários capazes de demolir edifícios sob pretexto de querer deitar por terra as ideias que lhes são apensas.

Em manobras, ainda.

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Workshop Manobras, Faup, 21 e 22 de Fevereiro 2010

Quando as Catedrais eram de Sevilha

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Motivo confessional leva-nos a essa outra Catedral. Razão maior, que assim expia os inevitáveis pecados que por lá se cometem. E também o silêncio por alguns dias.

Landescaping

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Rock of Ages n.º15, Active Section, Vermont, da Série Quarries, 1991, Edward Burtynsky (via PRIX PICTET)

A Natureza Morta sempre foi o melhor tema da arte.
É por isso que aquela arquitectura paisagista que se apoia nas virtudes da biologia é um evidente paradoxo. Isto, claro, para além de ser um aborrecimento confrangedor.

Nota sobre o fim do preconceito

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Admito que não partilhava esse entusiasmo que aparenta rodear aquilo que Aravena faz. Não é que não se lhe reconhecesse excepcionalidade em obras como a Faculdade de Matemática (1999) ou a Casa para uma Escultora (1997).
No entanto sentia-me - e ainda sinto - impelido a desconfiar dessa suposta generosidade do modelo da Quinta Monroy; não só por me fazer lembrar em demasia aquele lado (digamos assim) menos evidente das apropriações - concluindo-se da hipótese de Aravena desconhecer essa Malagueira de há mais de três décadas que nunca se cansa de demonstrar que à benevolencia em demasia está implicita a condescendência -, mas também por não descortinar nos projectos da Elemental essa sensibilidade que parecia conformar as suas primeiras obras.


















Casa Pirihueico, Chile, 2004, A. Aravena (via ArchDaily)

Não tendo mudado propriamente de ideia, descubro no entanto uma pequena (grande) pedra no sapato. Daquelas que incomoda os nossos planos; ou, neste caso, os nossos preconceitos.
É que quem faz uma planta assim, que depois de traduz numa obra como esta, pode ser apelidado de tudo, menos de autor da benevolência.
Porque nenhum ser benevolente é capaz de exercitar arquitectura com tal brutalidade.


Sobre a nudez da verdade o manto diáfano da fantasia

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Anteontem, ao descer a Rua do Alecrim, nesse momento em que se passa pelo Largo Barão de Quintela - aquele que tem o monumento com o Eça a olhar para essa menina seminua de braços abertos- cruzo-me com um Pritzker.


Não é todos os dias que nos cruzamos com um Pritzker. Pelo menos em Lisboa.
O olhar do Pritzker repousava-se-lhe na ninfeta esculpida, o que ainda assim não contribuia para atenuar esse ar vagamente perdido, subtilmente desconfiado, como se desapontado, que lhe ornamentava o semblante.
Seria porventura uma outra musa que lhe toldava o desejo; mas poucos serão aqueles que de facto conseguirão fazer uma casa para Alba.

Fortemente decidido a não interferir com a história da arquitectura contemporânea, lá me pus a caminho, rua abaixo, que é a melhor maneira de a percorrer; não só pelo simples facto de ser mais fácil descer uma rua do que a subir (admito excepções), mas sobretudo por causa daquele plano de água que se nos depara. lá ao fundo, depois do Cais do Sodré.
No entanto diminuí ligeiramente o passo, não fosse tropeçar nas memórias de uma qualquer Gerassi, ou coisa parecida.

Desde cedo aprendi a desconfiar de homens com bigode. Do Eça também.

Copy

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Dominar a história, as ordens, as proporções.
Fazer o novo, que parece novo, com as regras antigas.
Manter o velho como depoimento.
Corrigir subtilmente a obra antiga.
Lembrar a questão simbólica de um cipreste na entrada do edifício.
Argumentar as correcções e desmontagem da obra antiga com o luxo do objecto trouvé.
Dignificar a cópia.
Fazer a porta nova igual à porta antiga.
Copiar o portão de garagem de serralves.
Ir buscar a cor às casas do raul lino.
Trabalhar com alçados de arquivo.
Reinterpretar volumetrias.
Fazer com que o edifício pareça estar lá há muito tempo.

Para uma arquitectura Swissport, Artecapital, Dulcineia Santos, Pedro Bandeira

A outra (arquitectura)

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Aerial Suspension (da série Conjuration), n/dat. Clare Strand

Cut

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Girl in two halves (da série Conjuration), n/dat. Clare Strand

Caixas. Caixas e a cabeça separada do resto do corpo. Ou uma possivel ilustração da arquitectura portuguesa contemporânea.

Débito fotográfico

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Salk Institute, La Jolla, Cal., L. Kahn, 1965; fotografado por Iwan Baan

O efeito Manoel de Oliveira

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(...) no mínimo um acto de "cinismo pós-colonial". Uma atitude paternalista, irrelevante do ponto de vista prático, (...) uma divagação egocêntrica e virtual, da qual só os participantes, os arquitectos nomeados pelo comissário desta participação (...) podem retirar proveito (...)

Sobre as 5 Escolas / 5 Áfricas, Paulo Mendes

Não é que se discorde na totalidade da opinião menos positiva de Paulo Mendes sobre a representação portuguesa à Bienal de S. Paulo. Afinal os projectos por aí apresentados são na sua maioria pouco estimulantes.
Sendo Mendes ligado às artes plásticas é natural que a sua tese não intente uma visão crítica sobre o conteúdo arquitectónica (aquilo que mais nos interessa por estas bandas) das 5 Áfricas / 5 Escolas. No entanto o que não se percebe na ideia de Mendes é pôr em causa o projecto de Graça Dias tendo com base a "irrelevância do ponto de vista prático" ou, pior, a "divagação egocêntrica, da qual só os participantes podem retirar proveito" como se a arquitectura se obrigasse a essa visão utilitarista que tanto a diminui perante a extrema relevância das artes plásticas.

Agradecendo - sempre - qualquer tipo de incursão arquitectónica por parte de Paulo Mendes (ou de seus pares), não me consigo no entanto recordar de Mendes ter referido qualquer tipo de "inutilidade", ou de "divagação egocêntrica que só os participantes podem tirar proveito" em relação (por exemplo) à última representação oficial à Bienal de arte de Veneza.

Era simpático que, por momentos, Paulo Mendes conseguisse olhar para a arquitectura da mesma forma - livre, despreconceituosa, ambiciosa - com que olha para o seu próprio metier. É que, às vezes (só às vezes) a categorização (trans)disciplinar faz lembrar aquelas opiniões comparativas que põem, sempre, Oliveira nos pincaros, mesmo quanto estamos na presença de algo rízivel.

Entretanto, lá pelas ilhas

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