Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Amate L'Architettura, G. Ponti, 1957

O fim das coisas quase nunca se deve à força dos seus adversários, mas sobretudo àquilo que lhes sobrevem: o orgulho. Ou antes: o pudor; que é a forma mais fácil de o revelar, ao orgulho.
Repare-se que, mesmo a aristocracia, nos seus últimos e arrastados dias, se orgulhava ainda dos seus casarões sem luz e sem sanitas, já destituidos de qualquer tipo de utilidade, idos que estavam os dias de festas e os serviçais.
Não quer isto dizer que os mais astutos não tivessem tido a consciência do desgaste da sua própria realidade. Incapazes de acompanhar a força das coisas que aí vinham, preferiram afastar-se elegantemente, inventando aquilo a que vulgarmente se chama de romantismo. Outros, menos astutos, ou mais combativos, preferiram manter-se nos seus castelos sem luz nem casas de banho, olhando pela janela os despojos dos dias, refugiando-se nesse pudor, não sem por esboçar um sorriso arrogante, comentando para si próprios a barbárie que se lhes invade os jardins.

Tendo por breves instantes regressado aos corredores do Porto, ouvindo esse murmurar carregado de pudor (bárbaros, terroristas, gentes perigosas, disseram); fechado em copas, e incapaz de reagir d'outro modo que não o da simples negação, veio-me à memória a forma instintiva com que Alves Costa renunciou à frase de Lampedusa qualcosa doveva cambiare perch tutto restasse com'era prima (escreve-se assim, não é Riva?), aquando da sua recente entrevista lá pelos lados da Câmara Clara.
Não crendo que pudesse em algum momento ter sido calculista na sua reação, a resposta de Alves Costa - precisamente um dos inventores desta escola algo Fabriziana - instala enfim a dúvida da eventual discordância entre as ambições dos seus construtores e os resultados que afinal são aquilo que ainda resta desses dias.

4 comentários:

João Amaro Correia disse...

receio bem, pedro, que o orgulho se não revele pelo pudor. e apenas me refiro ao orgulho orgulhoso vaidoso de se ser ou ter sido ou ter fantasiado o que se é ou foi ou será. um orgulho alegre, digo, festivo, que, algures, rasga o recato do 'pudor'.
a menos que te refiras ao orgulho soberba. o que não verte das tuas palavras. quiçá um pouco entradas na nostalgia. digo eu. depois do cais-do-sodré. lugar de orgulhos. feridos.

j

AM disse...

sempre um erro, para um terrorista de categoria, voltar ao local do crime :)

depois de mais esta "contra" a "escola do porto" vou ficar à espera do outro comentador de outras postas... :)

Quando as Catedrais eram Brancas disse...

Na Boca do Lobo, de facto; como daqueles peões que se jogam primeiro no xadrez.
Mas não é contra nada. Nem ninguém. Mas apenas a simples observação de um facto. Mais do que de um fenómeno.
No fim de contas, no Porto não se maltratam assim tanto as pessoas. Nem mesmo as que optam pelo puro exercício do terrorismo.

Anónimo disse...

digamos que desta vez passa

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