(...) no mínimo um acto de "cinismo pós-colonial". Uma atitude paternalista, irrelevante do ponto de vista prático, (...) uma divagação egocêntrica e virtual, da qual só os participantes, os arquitectos nomeados pelo comissário desta participação (...) podem retirar proveito (...)Sobre as 5 Escolas / 5 Áfricas, Paulo Mendes
Não é que se discorde na totalidade da opinião menos positiva de Paulo Mendes sobre a representação portuguesa à Bienal de S. Paulo. Afinal os projectos por aí apresentados são na sua maioria pouco estimulantes.
Sendo Mendes ligado às artes plásticas é natural que a sua tese não intente uma visão crítica sobre o conteúdo arquitectónica (aquilo que mais nos interessa por estas bandas) das 5 Áfricas / 5 Escolas. No entanto o que não se percebe na ideia de Mendes é pôr em causa o projecto de Graça Dias tendo com base a "irrelevância do ponto de vista prático" ou, pior, a "divagação egocêntrica, da qual só os participantes podem retirar proveito" como se a arquitectura se obrigasse a essa visão utilitarista que tanto a diminui perante a extrema relevância das artes plásticas.
Agradecendo - sempre - qualquer tipo de incursão arquitectónica por parte de Paulo Mendes (ou de seus pares), não me consigo no entanto recordar de Mendes ter referido qualquer tipo de "inutilidade", ou de "divagação egocêntrica que só os participantes podem tirar proveito" em relação (por exemplo) à última representação oficial à Bienal de arte de Veneza.
Era simpático que, por momentos, Paulo Mendes conseguisse olhar para a arquitectura da mesma forma - livre, despreconceituosa, ambiciosa - com que olha para o seu próprio metier. É que, às vezes (só às vezes) a categorização (trans)disciplinar faz lembrar aquelas opiniões comparativas que põem, sempre, Oliveira nos pincaros, mesmo quanto estamos na presença de algo rízivel.
6 comentários:
isso
Aqui segue a minha resposta:
http://www.paulomendes.org/?pagina=noticias/noticias&accao=ver_noticia&id_noticia=355#conteudo
Non, ou a vã Glória de Mandar,
África é nossa e as Escolas também!
Perante a resposta do arquitecto Pedro Costa ao meu texto sobre o projecto Cinco Áfricas / Cinco Escolas venho clarificar alguns pontos:
O meu comentário dirigia-se sobretudo ao princípio base que sustenta esta representação oficial: elaboração de cinco projectos para edifícios escolares nos cinco países africanos de língua oficial portuguesa.
Este programa de “boas intenções” só faz sentido tornar-se público e transformar-se numa representação oficial se esses mesmos projectos se concretizarem. Só nessa altura faz sentido mostrar o resultado final num relevante evento internacional, e mesmo nessas circunstâncias acautelando uma série de interpretações maliciosas sobre “a nossa boa consciência” colonialista.
Não tenho a pretensão, nem me interessa fazer crítica de arquitectura, mas como português e profissional do sector cultural tenho todo o direito de expressar uma opinião livre e despreconceituosa sobre esta representação oficial. Parece-me no entanto que perante a minha repentina catalogação como “elemento externo à classe” fui imediatamente colocado “fora de jogo”. Não cumpri as regras do consenso de “brandos costumes” e corporativamente fui rasteirado.
Quanto à “visão utilitarista” da arquitectura, só posso declarar o meu interesse na “inutilidade criativa” actividade que pratico em exclusividade para minha grande “utilidade” há já vinte anos. Não tenho uma “visão utilitarista” da arquitectura, como o arquitecto escriba bem sabe, razão aliás pela qual várias vezes convidei arquitectos a trabalhar comigo em projectos efémeros e “inúteis”.
Tentou-se uma vitória oportunista, por agora apenas restam os despojos expositivos de mais uma derrota.
“Quando Palomar se tinha apercebido do quanto eram aproximativos e votados ao erros os critérios daquele mesmo mundo onde pensava encontrar precisão e norma universal, tinha voltado lentamente a construir uma relação com o mundo, limitando-a à observação das formas visíveis; mas nessa altura ele já era aquilo que era: a sua adesão às coisas permanecia aquela adesão intermitente e fugaz das pessoas que parecem estar sempre absortas por outra coisa, mas essa outra coisa não existe. A sua contribuição para a prosperidade do terraço consiste em correr de vez em quando a espantar os pombos – Xó! Xó! – despertando em si próprio o sentimento atávico da defesa do território.”
Italo Calvino, Palomar
a resposta do paulo mendes é completamente estapafúrdia
o PMC avançou com mil cuidados e levou com uma patada feia (e injusta)
(é bem feita que é para aprenderes) :)
resta saber, em matéria de defesa de territórios quem é que enxota as pombas brancas dos cínicos complexos neo ou pós-coloniais para os quintais dos vizinhos...
na minha maneira de ver os artistas levam muitas penas de avanço...
Perante a resposta do artista plástico Paulo Mendes, venho clarificar alguns pontos:
Concordo com a tese de que, havendo alguma coisa a mostrar-se, ela faria sentido no final do processo.
Não há tentativa alguma de classificação. É exactamente o oposto: exigir-lhe que trate assuntos semelhantes de modo semelhante. Aquilo que referi sobre o que Mendes referiu era isso mesmo: o modo como exige utilidade a uma representação oficial (numa Bienal da arquitectura), sem que o faça noutra bienal (de Veneza).
Não estará, entenda-se, nada mais em causa: nem o interesse (mútuo) pela inutilidade das coisas, nem o seu contributo para a sua viabilidade.
Dos despojos. Razão tem Paulo Mendes.
É curioso que a PMC não ocorra que o problema não é arquitectónico, mas político. Tanto assim é que a análise do Paulo Mendes se debruçou sobre o problema cultural e político de tomar África como tema. A obra de Gusmão + Paiva não tem absolutamente nada que ver como colonialismo. Terá mais que ver com alquimia e processos obscurantistas. Logo, como deveria ser óbvio, a diferença de atiitude do Paulo Mendes nos dois textos não pode ser atribuida a diferentes ambitos disciplinares, nem a uma qualquer noção de utilitarismo da obra em si. Da parte de PMC houve sim falta de atenção na leitura.
Infelizmente contínuamos contentes com a idea de que a arquitectura nada tem que ver com política. E dá nisto: colonialistas até ao fim.
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