Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Nota sobre o fim do preconceito

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Admito que não partilhava esse entusiasmo que aparenta rodear aquilo que Aravena faz. Não é que não se lhe reconhecesse excepcionalidade em obras como a Faculdade de Matemática (1999) ou a Casa para uma Escultora (1997).
No entanto sentia-me - e ainda sinto - impelido a desconfiar dessa suposta generosidade do modelo da Quinta Monroy; não só por me fazer lembrar em demasia aquele lado (digamos assim) menos evidente das apropriações - concluindo-se da hipótese de Aravena desconhecer essa Malagueira de há mais de três décadas que nunca se cansa de demonstrar que à benevolencia em demasia está implicita a condescendência -, mas também por não descortinar nos projectos da Elemental essa sensibilidade que parecia conformar as suas primeiras obras.


















Casa Pirihueico, Chile, 2004, A. Aravena (via ArchDaily)

Não tendo mudado propriamente de ideia, descubro no entanto uma pequena (grande) pedra no sapato. Daquelas que incomoda os nossos planos; ou, neste caso, os nossos preconceitos.
É que quem faz uma planta assim, que depois de traduz numa obra como esta, pode ser apelidado de tudo, menos de autor da benevolência.
Porque nenhum ser benevolente é capaz de exercitar arquitectura com tal brutalidade.


20 comentários:

alma disse...

Pois :)
no meu caso a desconfiança e a falta de entusiasmo sobre o pritzker da malagueira continua... :)))

AM disse...

é pá, voçês são obcecados :)
deixem lá o Pritzker da Malagueira que não é (agora) para aqui chamado :)
o Aravena não aquece nem arrefece
a Monroy quando apareceu, pareceu-me longe de merecer tantos encómios, mas tem vindo a ganhar "pontos" com o up grade dos moradores
a casa Pirihueico também acho demasiado "decorativa" e sem a força "bruta" que lhe encontras
a panta, realmente, tem alguma graça, mas já não acho tanto interesse à dualidade piso-de-baixo/piso-de-cima, que faz recordar uma daquelas do Philip Johnson que aparece no Complexidade & contradição...

alma disse...

:)))AM,
irrita-me não reconhecer um génio... :)

sorry:)

Quando as Catedrais eram Brancas disse...

Porventura a expressão (brutal) não é a mais adequada. Mas entendes com certeza a intenção.
Já em relação à dualidade, julgo que ultrapassa o esquematismo dos esquemas de Johnson.

(o) arquitecto disse...

o génio não precisa reconhecimento geral nem consensual, mas o mais indicado pelo "meio ambiente", mas como ele próprio disse, os fundamentos da sua arquitectura podem muito bem não ter sentido nenhum daqui a alguns anos, e a sua validade parecer. À parte de genialidades, impressiona-me algumas vezes a composição das coisas em desenho, que não percebo, e depois o resultado espacial, que percebo.

(o) arquitecto disse...

esta coisa da relação desenho/coisa construída é em relação lá ao pritzker de quem se comenta nestes comentários.

carlos.pedro disse...

Os verdadeiros génios não são reconhecidos....
são incompreendidos...

AM disse...

a casa do chileno não é particularmente esquemática, mas é claramente dualista (como a casa do PJ)
dentro do mesmo género gosto (mais?) da ("nossa") Casa Dr. Reginaldo Spenciere dos AUZProject (que ajudámos a premiar...)

a casa (do chileno) podia ser (ainda) melhor, se não abusasse (da sorte) dos "bicos"
menos "truques" com o desenho da geometria e com as "patologias (do desenho)" e podíamos estar perante um caso sério
assim, como está, "passa" bem
mas é tudo

esta manhã deu-me para copiar o desenho da planta (exercício que reservo para muito poucas...) para melhor (com a mão...) lhe apreender os segredos...
fiquei com vontade de aceder ao terraço entre a cozinha e a sala de estar (não digo como...) e ao terraço ao lado do quarto (com uma porta em frente ao vão que leva à IS...)

(o) arquitecto

desenho... coisa construída... o que é que isso interessa...
o homem é (a espaços) um génio
o importante é continuar a olhar para a obra com... sentido crítico
a partir daí, há muito, e do bom, para todos os gostos...
mais que isto (alma e outros) já é má vontade...

carlos.pedro

isso é tão mito romântico...

(o) arquitecto (e génio tb) disse...

AM,
desenho/coisa construída o que é que interessa? diz isso quem teve a copiar plantas para apreender truques? interessa e muito! sobretudo no génio, só lhe gabava a capacidade de desenhar o espaço e aquilo aparentemente, em desenho, ser desproporcionado e depois resultar magnificamente!

AM disse...

(o) arquitecto (e génio tb)

eu não tive "a copiar plantas para apreender truques", tive (é exactamente o oposto...) a copiar plantas para tentar "apanhar" os "truques"... e tentar fazer por não os repetir... (copiar liberta a imaginação - disse uma vez a Paula Rego - e, salvo melhor opinião, copiar é ainda a melhor maneira de aprender...)
não estou à espera que compreenda
são coisas só para quem não se apresenta como génio anónimo (nem sequer entre parêntesis)

"aquilo aparentemente, em desenho, ser desproporcionado e depois resultar magnificamente!"

está (ainda que mal pergunte...) a falar exactamente do quê!!!???

alma disse...

Agradeço a todos a boa vontade :)
mas não tenho culpa de ter uma alma de betão (aparente):)))

AM disse...

não agradeça :) é sempre um prazer descofrar a alma de um génio :)

Quando as Catedrais eram Brancas disse...

obrigado pelos comentários.
Eventualmente não estaremos perante uma obra-prima (o desenho de AM confirma-o); mas ainda assim parece ser um objecto de muita generosidade. E de alguma agilidade.

Francisco do Vale disse...

Tive pena de não ter ido a conferência dele na Faup... tem uma obra bem interessante.

o (arquitecto) génio disse...

AM,

não pretendia a pessoalização da coisa, até porque se revela impossível pois, como disse e bem:
"são coisas só para quem não se apresenta como génio anónimo (nem sequer entre parêntesis)",
no entanto agradeço a sua defesa conceptual da cópia (que na minha opinião - que pude saber sua também - é verdadeiramente útil).

Com isto fica a duvida se deva responder à pergunta que coloca no final do comentário.

Na dúvida, o melhor é responder. Como a composição é uma parte essencial e constante da arquitectura, e a sua representação em desenho tarefa árdua de controle da coisa, espanta-me por vezes algumas composições de siza, quer em secção horizontal e vertical, algumas vezes aparentam (disse aparentam) desproporção ou falta de sentido, revelando-se depois espacialmente ricas. Isto, por norma, não acontece com outros arquitectos, quando raramente dedico-me à análise destas coisas.

jraulcaires disse...

Não sei até que ponto a dita "genialidade" não acontece às vezes por acaso, surpreendendo para começar o próprio "génio" ao ver a sua genialidade ser conferida pelos pares...

Interessante... - sim, muito.

AM disse...

o (arquitecto) génio

os desenhos, as representações de arquitectura, do (verdadeiro) génio, são geniais
posso até "estranhar" mas nunca duvidar
é essa a natureza do crente (na genialidade) do (verdadeiro) génio
de todas as que visitei, nunca me arrependi de qualquer (eventual) "desconformidade" entre a arquitectura (como coisa construída) e o desenho (como representação da construção)
a arquitectura (do génio) supera sempre a representação (do génio) mesmo quando, uma e outra, são geniais

jraulcaires

o Picasso com aquilo das percentagens para a transpiração e para a inspiração e mais não sei quê já arrumou com a questão

AM disse...

ah, mas a casa do Aravena...

(o) arquitecto disse...

AM,
mas eu também não duvido, espanto-me. E espanto-me sobretudo porque não estava à espera daquilo, e isso para mim é suficiente prova de genialidade.
No fundo estamos de acordo.

AM disse...

pelo meio disto tudo, fiquei a pensar, nas piscinas de barcelona
uma das obras em que esse "fosso" entre o desenho e a obra se torna maior...
e sim, também penso que estamos de acordo

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