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Alguém insinua que a Escola de Hering pertence a essa mão (meio) cheia de obras excepcionais feitas nos últimos anos. Certamente que sim. Ou pelo menos gostaria que assim fosse.
Gostar por gostar: gostaria mais ainda de estar em condições de afirmar que a capacidade de invenção de Hering encontraria paralelismo em projectos cujos pressupostos de algum modo lhe são similares.
Por isso, gostar por gostar: gostaria de poder afirmar que nas nossas 5 Escolas 5 Áfricas encontraríamos razões para crer que a arquitectura portuguesa teria capacidade para ultrapassar os seus próprios dogmatismos, mostrando-se disponível para inventar uma outra coisa.
Gostar por gostar: gostaria então de estar em condições de afirmar que as respostas da comitiva portuguesa à Bienal de S. Paulo procuram estabelecer um outro grau de relacionamento entre aquilo que são as condições dos 5 países onde se intervém e o potencial que a arquitectura ainda detém, sendo capazes de criar modelos de excelência, que pudessem servir, de forma inteligente e criativa, os fins para que foram pensados.Fazer escolas em países cuja escassez implica ainda grandes e graves limitações para aqueles que aí habitam equivale a um acto de extrema generosidade. Inegável. Mas tornar essas escolas em momentos especiais - como especial é a escola de Hering - equivaleria a assegurar que a educação implica muito mais do que ter um espaço para estudar. Simplesmente porque a importância da educação reside, em muito, no modo como o mundo nos é apresentado, mais ainda do que a maneiro como ele nos é explicado.
Amanhã iremos ter a oportunidade de ver cinco propostas para cinco escolas em África, pensadas por cinco autores portugueses.
Nelas vão estar presentes os fantasmas mais ou menos recentes da nossa própria arquitectura: caixas brancas, abstractas, assentes em muros contínuos; estruturas modernistas a lembrar, não sem algum romantismo ou ingenuidade, os anos de ouro da arquitectura ultramarina [aquela, que tão bem copiava os brasileiros, com grelhas, pilotis, e tudo o mais]; ou aproximações de tom regionalista, melhorando, com algum eruditismo, modelos e técnicas locais.
A pergunta que nos resta fazer: porque é que a generosidade de Hering é ainda caso único?
14 comentários:
não conheço
não posso comentar
não tenho nada, muito pelo contrário, contra o que chamas de "estruturas modernistas" (e muito menos contra o "romantismo" ou a mesmo a "ingenuidade"...)
"dogmatismo" também me parece excessivo...
quanto à "generosidade" deixa lá, vamos lá, a esperar para ver... parece que "andam por aí" mais "escolas" de arquitectura portuguesa (...) a pingar em áfrica
quanto à escola da Hering não insinuo
afirmo
Estou a ver que terei que esperar pela publicação das escolas para termos história. Nas bancas perto de si. Amanhã; Julgo
É curioso como ainda sem se conhecerem os projectos para a bienal já se anunciam críticas e se apresentam 'casos exemplares'...Tudo leva a crer que nenhuma das escolas africanas se fundará no modelo da Hering, nem isso era possível porque nenhum dos arquitectos portugueses esteve, que eu saiba, envolvido num projecto de próximidade tão profunda quanto ela; mais, nenhum deles (exceptuando talvez a Inês Lobo) se apróxima, em espírito, da Madre Teresa de Calcutá... Mas o que tem de exemplar a escola de Hering? A comovente entrega da autora àquela comunidade? O uso sábio e frugal 'do que está à mão'? A elevadíssima erudição tectonica que denota? Creio que tudo isto e um pouco mais, um pouco mais que é tudo e que tudo explica: saciados da fome, empanturrados de cultura e sofisticação, olhamos para a escassez e as suas poéticas como qualquer coisa de novo, de redentor até; pura mentira em que só as almas simples acreditam - nenhum inscrito na FENPROF sobreviveria a um dia de aulas naquele tugúrio infecto.
Mário Nogueira Bigodes
AM, essa das escolas "a pingar em áfrica" era pra mim? :)
paulo moreira:
para bom entendedor... :)))
(fico aqui a contar com a tua opinião para o que se há-de seguir de refrega) :)
anónimo "Mário Nogueira Bigodes" (oh, LOL):
viva a fenprof e os professores sindicalizados!
Aqui vão algumas imagens das escolas.... poderiam estar em África ou ali na Póvoa do Lanhoso...
http://www.vitruvius.com.br/noticia/noticia_detalhe.asp?ID=3633
As escolas não parecem concluídas logo a reflexão em torno delas tenderá a cair na infertilidade.
Claro que o PMC dará sentido à coisa; até já destapou o véu. E concordo com a pertinência das questões apontadas.
Não deixo, no entanto, de constatar o seguinte:
Com o dinheiro empregue na participação portuguesa, Hering, faria outra escola; tecto de abrigo e não de vaidades.
obg, carlos.pedro :)
não te sabia tão regionalista crítico... :)
só para ler o MGD (http://www.dgartes.pt/saopaulo2009/docs/textomgdias.pdf via http://www.dgartes.pt/saopaulo2009/index.htm)
a escrever sobre coisas bonitas :) já teria valido a pena :)
concordo com o anónimo que me precedeu :)
com uma mão cheia (de nada...) de renders e meia dúzia de linhas com palavras mais ou menos piedosas não é possível a crítica aos projectos
as "entidades oficiais" bem se podiam esforçar mais um poucachinho na inteligibilidade da coisa...
sobra uma operação artísticó-comercial com uma ponta bem (!?) afiada...
é esperar, pelos resultados...
Não julgo que "a generosidade de Hering" seja "ainda caso único", felizmente... Mas julgo que são casos que nada têm a ver com alguns dos projectos aqui debatidos, infelizmente.
AM
Não é regionalismo critico. Estou-me nas tintas para o que fazem os Famosos Cinco (quem é o cão???) mas fica claro —pela leitura dos textos, pelo perfil dos autores e pelas imagens apresentadas— pela que aquilo é incoerente para o sitio onde actuam.
Além disso, a leitura "desculpada" que vocês fazem de que com um render não se entende o projecto, é altamente equivocada. Um render ou uma maquete ou uma imagem é comunicação, e a escolha dessas imagens por parte dos autores ou dos comissários revela o que querem mostrar: um grupo de cinco marmelos (ou quatro e um cão) a brincar aos arquitectos preocupados com África, que certamente visitaram com roupinha comprada ali no Coronel Tapioca do Shopping Center da esquina.
Não é preciso muita inteligência para ver o flop que é este exercicio. É apenas necessário bom senso…
Ab
CP
CP
acontece que eu não gosto muito do "bom senso" (e que a inteligência tb não é o meu forte...)
acontece que eu não gosto muito, nada, de opinar mais fundamentadamente, sem conhecer as coisas mais a... fundo
uns renders e umas palavritas não chegam não senhor
fazer de outra maneira é dar razão ao "Bigodes"...
a roupa (de marca) com que "os cinco" (seis) visitaram africa tb não me interessa
interessam (me) os resultados
globalmente e assim à primeira vista até alinho naquilo das "estruturas modernistas" nostalgicamente neo-colonialistas... (e antes isso que estruturas bolimétricas nostáligas da swinging london dos sixties ou que decon's avulsos nostálgicos do kualhas dos 90's...)
de uma coisa que nasce com este carácter oficial de coisa de estado tb não se pode esperar, não vale a pena esperar... a Hering...
sinceramente, e mais uma vez apenas por aquilo que conheço, não entendo com essa tua tão evidente "clareza" o flop da "lança"...
de qualquer maneira só voltei aqui esta noite para partilhar que o mgd e as cinco :) passaram esta noite pelo "câmara clara" da rtp 2
deve estar acessível em breve e recomenda-se
até porque é, foi, dedicado ao jorge de sena
ab p/ todos
acabou de comentários?
a blogo tá mesmo muito fraca...
participação tuga na bienal de s. paulo, com mgd e os cinco e não dá mais luta que isto!!!???...
pela minha parte sempre acrescento que do pouco que dá para ver dos proj. tb não me parece lá muito "bem" atacar o pacote assim todo por ata(ca)do
é capaz de haver maior diferenças entre projectar para cabo verde e angola que projectar para lisboa e póvoa do lanhoso...
viva a africa moderna!
concordo. por isso é que referi 'alguns dos projectos'...
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