Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Habitar Portugal

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Habitar Portugal 06/08, Exposição: Marina de Cascais, 4 de Outubro a 1 de Novembro.

Poder-se-ia concluir que grande parte da responsabilidade pela falta de discernimento como foram sendo pensadas as cidades e a arquitectura em Portugal é dos próprios arquitectos.
Esse fenómeno torna-se mais gritante com a visibilidade que a disciplina vem tendo; que faz com que o território seja mais e mais ocupado por objectos arquitectónicos que, para além da excepção de poucas obras ou de escassos autores, é pouco qualificada.
Aquilo que nos é oferecido, hoje, por parte dessa produção arquitectónica média sofre de voluntarismo em excesso. Um voluntarismo inútil. Exacerbado, muitas vezes inócuo. Um voluntarismo ingénuo, pouco dado a procurar registos que não aqueles que ela própria procura celebrar: a da excepção. Isto sem, no entanto, se aperceber que as condições que permitem tal excepção são, muitas das vezes, contrárias às suas próprias possibilidades.
A arquitectura portuguesa média é, hoje, sobretudo, um estereótipo. Uma coisa que procura repetir fórmulas, modelos e modos de pensar, institucionalizados pela arquitectura da excepção, que lhe serve de role model.

Para além da excepção
[trecho], no catálogo Habitar Portugal 06/08

11 comentários:

AM disse...

a arquitectura "média", em qualquer tempo e em qualquer lugar (como na cantiga) é sempre um "lugar comum"
isso não tem mal nenhum
dramático, trágico mesmo, são as tragi-comédias de tanta ambição à solta por entre os aprendizes do ofício
aliás, que raio é isso de uma arqutectura média!!!???
aquitectura média é grande parte do siza...
mas antes a arquitectura "média" que os trambolhos armados ao pingarelho dos starquitectos que todos conhecemos (mas que nem todos desprezamos...)
o mais engraçado de tudo é que quando chega a hora de "abater" os ídolos com pés de barro de segunda e terceira categoria fica tudo caladinho...
depois queixem-se...
a arquitectuga "média" é um "estereotipo"!?
é!
é a portuguesa, é a holandesa, é a suíça, é a inglesa é a japonesa...

tiago borges disse...

René Magritte, "La recherche de la vérité", 1963

Pedro Machado Costa disse...

1. A arquitectura média, mesmo quando comum, não é lugar comum.
2. As tragi-comédias poderiam não ser tão trágicas, nem cómicas, se se resignassem àquilo que são as suas capacidades
3. A arquitectura média holandesa, suíça, inglesa ou japonesa não são um estereotipo.
4. Mas estou, claro, disposto a discutir o assunto

Dioniso disse...

A selecção Habitar Portugal é previsível sobretudo porque a produção arquitectónica construída recentemente recorre à mesma receita e peca pela cada vez menor escassez de questionamentos.
Em todo o caso, são vários os jovens arquitectos e ateliers (e aqui, o AM estará sempre do lado oposto) que merecem atenção, porque ainda que possam ser pretensiosos aqui e ali ganham pela ousadia de experimentarem soluções que são difíceis de serem apresentados a um cliente e apresentam soluções em concursos que almejam novos horizontes de abordar a disciplina.
Finalmente, se o Marcos Cruz estivesse no júri, creio que a seria difícil adivinhar um resultado. Bem sei que também não temos tido grande construção em Portugal, e a que se faz é um "dejá vu" que teima em perdurar. E este poderá ser um dos mais interessantes pensadores da arquitectura contemporânea. Talvez fosse importante ler e reler o que tem vindo a escrever, nomeadamente sobre a relação da arquitectura com a biotecnologia e a rejeição da herança da caixa branca e pura. Porque isso também é Habitar.

AM disse...

oh, dioniso... mas o que são isso de "novos horizontes"!!!???...
normalmente são reciclagens de coisas com mais de 40 anos...
Marcos Cruz é "um dos mais interessantes pensadores da arquitectura contemporânea"?
qual é a obra (teórica) de referência do Marcos Cruz que recomendas?...

Dioniso disse...

Caro AM,

Acho que poderia começar a dar uma vista de olhos pelo AVATAR da Bartlett, por exemplo. Se quiser consultar o campo conceptual do Marcos Cruz, é so escrever no AMAZON... Recomendo a edição da AD - Neoplasmatic Design.

A publicação da tese de Doutoramento há-de chegar ao mercado... espero eu!

Recomendo-lhe pensar nisto:
http://www.symbiotica.uwa.edu.au/
http://www.tca.uwa.edu.au/
com plantas, cortes e alçados.

Já agora, convido-o a ver a exposição:
http://www.yaojenyousef.com/

E acho que já tem matéria suficiente...

AM disse...

mt obg, dioniso
fui ver
não gostei
"Alfred Jarry's proto-surrealist poetic pseudo science of 'Pataphysics and its idea of the 'Clinamen"- the swerve (chance) has great import on what we do."
vai desculpar-me, mas é vida é curta para tanta... "Patacoada" (conversa fiada...)
não tenho nada contra, mas repare, eu estou interessado em arquitectura
agradeço a atenção
para despedida, pense nisto:
http://www.youtube.com/watch?v=iiQ5R9qvIO0

Dioniso disse...

Quando é uma questão de gosto, pouco há a acrescentar. E só para que fique claro, eu também estou interessado em arquitectura.

Infelizmente a tendência para ridicularizar o que não se gosta espelha bem como vai a arquitectura portuguesa... É o "deja vu" da receita ortodoxa. Obrigado pelo seu genuínuo testemunho. Há muito que desconfiava disto...

AM disse...

o homem é um animal
e um animal desconfiado, por natureza (foi assim, aliás, que se safou na savana...)
os gostos discutem-se
os textos interpretam-se
este excerto: "Alfred Jarry's proto-surrealist poetic pseudo science of 'Pataphysics and its idea of the 'Clinamen"- the swerve (chance) has great import on what we do." parece-me - mas admito que possa estar enganado... - absolutamente incompreensível
não procuro ridicularizar nada
não (nem) é preciso
quem escreve textos como este já faz um trabalho muito bem feito...

Pedro Machado Costa disse...

Deixem lá o Marcos Cruz - que nem está no Habitar Portugal - em paz; e falem antes das obras que por lá aparecem.

AM disse...

é pá, desculpa lá
quem foi buscar o marcos cruz foi o "Dioniso"
eu só gostava era que alguém me pudesse dar uma... ajudinha, com a "interpretação" (já que falamos em não sei quê de surrealismo...) do "texto"...

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