Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

| Subscrever via RSS

O Duplo Borges

| |
























Imagens via Juliana Couto



Pedro Maurício Borges é arquitecto. Lembro-me dele, há muito tempo atrás, numa conferência no Porto, a demonstrar aquilo que ele melhor sabe fazer: retirar prazer das coisas.

Ora, como sabemos, o prazer de fazer arquitectura é desligado das coisas em que se acredita. E ainda bem para Borges.
A arquitectura de Borges representa tudo aquilo que é um certo modo de pensar a ideia de projecto. Nesse sentido, Borges, nas suas longas estadias pelas ilhas, foi aprendendo pouco a pouco a soletrar os nomes de espaços que só existem nos Açores (os nomes, porque os espaços são mais ou menos os mesmos de outro sítio qualquer): as falsas, as levadas, as canadas, e coisas do género.
Essa vontade de controlo de uma língua equivale a dizer que se Pedro Maurício Borges fosse escritor, e vivesse em Paris, tudo faria para escrever em francês.

Não é que a arquitectura de Borges seja açoreana; nem sei se isso de arquitectura açoreana existe de facto. O que importa é que as obras fundamentais de Borges (quem as quiser visitar, e perceber, terá que ir a S. Miguel) estão impregnadas desse sentido do particular, de uma espécie de enlace maternal com a natureza de um sítio, cuja geração de Borges tão bem romantiza. E se o modo identitário dessa geração arquitectónica portuguesa passou certamente pela leitura minuciosa do Norberg-Schulz; a sua marca deriva de uma espécie da passividade febril em torno de uma ideia de um lugar; julgando que as obras arquitectónicas não os destroem, aos lugares.

Isso explica, claro, a afirmação de Borges: (qualquer coisa como isto) «um edifício modernista, nos Açores, é como que um estalo!». Como que fosse possível sermos modernos em Brasília, para deixar de o ser em S. Miguel. Quer isto dizer, para Borges, como para os correligionários da experiência do lugar, o mundo é Pré-rafaelita.

Ora, a minha discordância com o posicionamento ideológico de Borges é exactamente esse: haver um posicionamento ideológico de Borges. Até porque, ao contrário de Borges, acredito que uma pancada nos olhos faz ver.

3 comentários:

AM disse...

LOL :)

fiquei sem perceber uma coisa... se a arquitectura moderna no açores(como a acupunctura em Odemira!?...) é um "estalo" (na paisagem) e não (sem confusões) "de" estalo, isso significa que a obra do Borges não é... "modernista"!?...
mas então se não é "moderna", o que é!?
pre-rafealita, como as a-recuas avanças, ou neo-pós-Norberg-Schulz & Ana!?

(porque é que mais ninguém comenta no teu blogue!?...)

Pedro Machado Costa disse...

AM: único (e ainda assim o mais fiel) leitor d'As Catedrais

AM disse...

tens um convite (para um jantar) no odp
confirma (ou não) para marcar reserva

Tags