Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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O Duplo Borges, outra vez

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O Epicentro Pré-Rafaelita de Borges: A Casa das Furnas, S. Miguel.

A primeira coisa que ouvi de Borges, que me foi dirigido, foi o facto de não [querer] acreditar que o Museu da Ribeira Grande fosse construído. Isto, claro, depois de ter confirmado que estava de facto perante o autor do projecto.

Depois ficou a olhar para mim, por detrás daqueles óculos que lhe dão o ar retro que as miúdas tanto gostam (pelo menos é o que ele diz), com um sorriso blasé, à espera de uma (possível) reacção violenta.
Vá-se lá saber porquê (bom: eu sei, mas não digo), retribui-lhe o sorriso blasé (o meu blasé é melhor que o dele), e passámos o resto da tarde a beber cervejas num café qualquer da Baixa.

No entanto, apesar dessas e d'outras cervejas, dessa recusa ao Museu da Ribeira Grande Pedro Maurício Borges nunca terá desistido.

Estão a ver a ideologia Pré-Rafaelita? É que Borges prefere o Açoreano intacto. Uma espécie de paraíso perdido, onde a espécie humana e suas variantes familiares sustente uma visão pinturescamente historicista (ainda assim culturalista, claro) que sustenha, no ar, a possibilidade de último recurso do mundo.

Ora, aí é que começa o meu verdadeiro dilema com Borges. Porque lembro-me dele há muito tempo atrás, numa conferência no Porto, a demonstrar aquilo que melhor sabe fazer: retirar prazer das coisas.
Ora, como sabemos, o prazer de fazer arquitectura é desligado das coisas em que se acredita. E assim posso desligar o Borges ideólogo do Borges hedonista. Ainda bem para mim. Porque é esse Borges hedonista que me fez querer aprender a arquitectura (dele).

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