Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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O Desejo já não mora aqui

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[nota prévia: O Desejo já não mora aqui foi escrito para JA de Março 2009, não tendo sido no entanto aí publicadas todas as imagens originalmente seleccionadas para o acompanhar]























Egas José Vieira, Manuel Graça Dias [Contemporânea], Ponta da Avenida, Lisboa, 1992.

Há, sempre houve, coisas assim. Projectos esquisitos, ideias um tanto ou quanto desavindas, ingénuas até. E há, sempre houve, quem delas desconfiasse.
Quem delas só visse aquilo que menos interessa: fragilidade, arrivismo, ingenuidade, apografia até; tornando risíveis as poucas que não foram desprezadas, e num instante esquecidas.

E no entanto é essa fragilidade, esse arrivismo e essa ingenuidade que estão por detrás daquilo que leva a querer fazer arquitectura. Esse querer que, aqui, mais cedo ou mais tarde, dará lugar á ambição de conquistar um lugar no pódio, ou à angustia de nunca lá ter chegado.
Alguns desistem, fogem do país, outros resignam-se, outros ainda se esquecem de como era ser arquitecto sem os constrangimentos de um país e de uma classe para os quais a arquitectura é a celebração da certeza e à imposição da normativa.

Triste é uma classe onde são as incertezas dos novos a premiar as certezas dos velhos.
Porque do desejo, esse desejo de inventar o próprio desejo; já não dele ouvimos falar.
A não ser nos sussurros moribundos daqueles que são ainda ingénuos.















Didier Fiúza Faustino [Bureau des Mesarchitectures], Fight Club, vários locais, 2007





















Bernardo Rodrigues, Capela da Luz Eterna, S. Miguel, 2003
















Bernardo Rodrigues, Casa do Voo dos Pássaros, S. Miguel, 2004















Nuno Mateus, José Mateus [ARX Portugal], Laboratórios do Pólo da Mitra, Évora, 1991















Nuno Mateus, José Mateus [ARX Portugal], Pavilhão de Portugal Expo'92, Sevilha, 1990










Carlos Sant'Ana, Silvestre Castillani, Torre Bicentenário, Buenos Aires, 2008















Carlos Sant'Ana, Fata Morgana




















Marcos Cruz, Marjan Colleti, Museu Tomihiro, Japão, 2002

5 comentários:

AM disse...

o desejo foi despejado e anda pelas rua da amargura a dormir debaixo da ponte (mas não a ponte do MGD para a Av. da Liberdade que esse é apenas desejo requentado no micro-ondas da história da cidade...)
se calhar, se fosse uma coisa menos "geracional" e menos (olá a todos) "lá de casa", e podias ter postado um boneco do "da fabrica que falece à cidade"
mas gostei de ver o post na integra
um JA na blogo seria (ah, mas então...) tão, mas tão mais interessante...

alma disse...

Pedro
as imagens dizem muito!
sei que não é bonito citar :)mas não resisto!

"é o desejo que cria o desejável e o projecto que lhe põe fim"
- para uma moral da ambiguidade. S.beauvoir

Pedro Machado Costa disse...

Simone du Beauvoir: de citar.

Pedro Machado Costa disse...

AM: se julgares faltar alguém, é só dizer. E no entanto não me parece nada uma coisa geracional. Ou talvez sim...

AM disse...

não é uma questão de faltar alguém :)
depois de pensar na tua posta fico na dúvida se a mesma é sobre o desejo (comum a todos) ou sobre a (im) potência (sexual) :)
"... uma classe onde são as incertezas dos novos a premiar as certezas dos velhos" !?
penso no museu de porto alegre e não posso estar mais do "contra"

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