Sei: é aparentemente generalista. Ou ainda pior: chauvinista. Essa afirmação que não há nada mais humilhante para uma mulher do que encontrar outra mulher com um vestido igual. Não é que as mulheres não tenham, em termos puramente estatísticos, vestidos iguais. Toda a gente tem roupa igual a outra gente. Compramos roupa nos mesmos sítios. E até ouvimos, em tom de conversa informal, vozes curiosas elevarem-se sobre o lugar onde adquirimos determinado casaco castanho de corte impecável, ou essa camisola mais afável que o habitual; adivinhando-se, claro, a ambição em também os donos dessas vozes serem proprietários das magnificas roupagens que tão bem nos caem; ou, pelo menos, sentindo-nos vaidosos pela sageja que nos é acertadamente atríbuida à capacidade de sermos elegantes.
Sobre os naturais constrangimentos do Zeitgeist
E no entanto, sabendo-se da probabilidade de a determinado momento nos podermos passar com alguém que usa roupa igual à nossa, nada se torna mais insuportável do que ver o semblante de uma mulher no exacto momento em que se cruza com alguém que usa exactamente esse mesmo vestido que lhe terá custado os olhos da cara; deitando por terra esse intimo prazer feminino que é o exercício da unicidade.
Pensamos nas horas que terá passado em frente à montra da loja demasiado cara a acarinhá-lo; ao vestido. Depois nos pequenos acertos da costureira, que com subtileza lá vai ocultando as formas anatómicas julgadas indesejáveis, aliviando o cós ou descendo a bainha; ao mesmo tempo que procura sublinhar todos aqueles equivocos do imaginário, onde os corpos se tornam puros objectos de desejo. Por fim imaginamos esse preciso momento de pura felicidade espectável em que essa mulher se olha ao espelho pela última vez antes de sair de casa; de frente primeiro, depois de lado, empinando a anca subida pelo esforço de uns saltos altos, bamboleando a vestimenta, sorrindo, com a confiança depositada nessa roupa que a tornará única.
Nesse momento confirmamos a ideia que a necessidade da singularidade é uma invenção feminina.
É precisamente aqui, nesta parte do texto, que todos afirmamos para nós próprios não sermos assim. Confiamos na nossa própria confiança em não depender da exclusividade; acreditando cada um de nós que, se confrontados com tal situação, usariamos o nossa alto grau de civilidade para brincar com aquilo que não mais é do que uma simples coincidência. Afinal uma repetição é apenas isso.
Pavilhão do Canadá, Shanghai, 2010; SNC-Lavalin
Não querendo deixar de acreditar nessa possibilidade optimista, teremos no entanto de admitir que o caso se torna verdadeiramente humilhante quando ao fenómeno de repetição se sobrepõe um outro, de natureza mais violenta: o da confirmação que o vestido que usamos não só é semelhante ao vestido da mulher que temos pela frente, mas também uma simples reprodução barata (da H&M?) dess'outro Hermès que se nos defronta.
É nesse preciso momento que tomamos consciência que os nossos esforços não são mais do que uma repetição banal, boçal, das nossas próprias limitações, restando-nos desaparecer da festa, e tentar que mais ninguém tenha reparado nesse nosso feminino descuido.
(Com um agradecimento a Dupond)
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11 comentários:
acho que também existe em verde, por Camilo Rebelo.
de todos, qual a reprodução de qual, ou mesmo se se conhecem entre eles ou ouviram falar uns dos outros, não sei.
...e o que interessam edifícios mais ou menos facetados/bojudos cujo facetamento/bojudice não percebemos bem o que são... a mim preocupam-me as grandes consolas, principalmente em habitação unifamiliar, onde se arranca uma bela foto a custo do bolso do proprietário cujo balanço estrutural não lhe influirá muito a vivência do espaço. (ok, ok, a ultima foto é de um museu, mas fica como registo da tara)
seguem os links:
claudio vilarinho
http://www.archdaily.com/wp-content/uploads/2009/01/1265552704_2008-11-05-1-528x351.jpg
correia ragazzi
http://3.bp.blogspot.com/_gYgcHGYAt0c/SZG5xYqekfI/AAAAAAAAAgA/SjkP9V6HFdE/s400/1237123045_juan_rodrigues_2.jpg
Maaars Architecture
http://www.qbarchitects.com/uploaded/hausschnitzerbruch.jpg
JCB architects
http://archesign.com/wp-content/uploads/2009/09/cantilever-house-design.jpg
plasma studio
http://i202.photobucket.com/albums/aa249/Bernault/070802b_03.jpg
querkraft
http://www.archdaily.com/wp-content/uploads/2008/10/1462982972_museum-aussen-20.jpg
a obra de arte na era da reprodutibilidade técnica.
escola de frankfurt?
j
Ui... fui...
(Quanto as consolas)
Não querendo fazer papel de advogado, sendo eu Minhoto - e percebendo bem as dificuldades do território e as limitações das mais que comuns pequenas propriedades, e terrível sobreposição de planos e mais planos -, no caso da Correia Ragazzi, terá sido, com certeza, um bom investimento.
Já que, a área em consola não conta como área de impermeabilização/implantação, permitindo assim uma área de construção, real, bem superior.
Aqui, pelo menos, creio que os meios justificaram os fins.
que desconsolo... a arquitectura na era da consola...
A justificação (da consola) para o fim (da consola) como o "tornear" de um regulamento.
A arquitectura na sua luta diária contra o espaço desenhado pelos juristas nas suas obras regulamentares.
já agora no texto do site CORREIA/RAGAZZI sobre a casa mais uma vez deparamos com um texto ambivalente, pouco rigoroso, como nós produzimos todos os dias, sem querer dizer nada de concreto e podendo claramente justificar uma solução oposta "(..) procura uma melhor relação com o terreno e com a plataforma plana onde está pousada (...)"
Atenção: nada contra a mentira em arquitectura, ela faz parte do trabalho, "pousamos" objectos que na realidade enterram esforços tremendos contidos em aço e betão (aço, muito aço) e nada contra as consolas desde que desejadas pelos clientes e seus criadores, mas que gosto de ver uma consola a resolver problemas concretos de arquitectura, isso sim, gosto. Quando isso acontece fico muito contente.
Creio que não se trata de "tornear" um regulamento, mas sim de encara-lo de frente. Mediante as possibilidades e necessidades de um determinado cliente, para um determinado problema/terreno.
Com certeza não se pode generalizar
, mas em comum - e no que trata a construção residencial, existe a mais valia de não impermeabilizar tanto o solo.
Quero ainda registar que os tais "esforços tremendos" são variáveis mediante o fim e o meio, por vezes são necessários, por vezes não são assim tão tremendos, por vezes agilizam processos.
Vejamos a casa do C.Vilarinho (que por acaso até não gosto nada), esta foi realizada em "Light Steel Framing" sobre uma base em betão armado. Processo muito rápido, "clean", sem desperdícios. Eis uma solução técnica com custos controlados.
Como disse, nada contra consolas desejadas.
Quanto ao tipo de esforço, os casos que meti aleatoriamente referiam-se mais a uma questão formal, mais que estrutural ou sistema construtivo.
Quanto ao "Light Steel Framing" só é barato se o processo for generalizado, infelizmente barato é PT é tijolo e estrutura reticulada de betão, tudo o que fugir a isso não o é (apenas um esforço em seguir excepcionalmente práticas de outros paises com outra relação industria/construção). "Clean" só se for pela junta seca, a evitar babados de cimento, porque a utilização de OSB e madeiras sob formas tratadas e processadas (como nas estruturas light frame) é ambientalmente desastroso, com energia embebida superior ao betão.
"Clean" ... referia-me ao estaleiro. Sabendo que 30% da matéria prima se perde em estaleiro - em Portugal -, com estas técnicas há uma outra produtividade e o número reduz significativamente. E, sempre não se gasta os milhares de litros do tradicional tijolo e betão.
fraca consola são
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