Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Deitar fora o bébé com a água do banho

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Aparentemente tudo está já escrito sobre Le Corbusier: desde as múltiplas e extensas monografias críticas à análise minuciosa de cada uma das suas obras. Se é verdade que a maior parte da revisão crítica da sua vida e obra foi elaborada por confessos admiradores seus - facto esse que porventura explicará a pouca relavância dada por essas obras aos seus detractores mais directos (isso, claro, se excluirmos a resposta da arquitectura ela própria, nomeadamente as gentes dos últimos CIAM's, dos Team X e similares, ou um texto ou outro esparsamente publicados junto a revisões da obra de Corbusier, como aqueles - do Pallasmaa, julgo - que aparecem no número especial da Architecture d'Aujoud'Hui logo depois da morte de LC), julgo, ainda assim, que passados quase 50 anos da morte, seria mais que evidente que a relevância cultural de Le Corbusier vai muito para além daquilo que seriam as suas posições ideológicas, ou das tabulas rasas urbanas (Plano Voisin e etc.) que supostamente intentava. Uso o termo seria porque não tenho assim tanta certeza do vínculo do autor a tais radicalismos: LC é acima de tudo arquitecto, o que faz com que tenhamos de encarar Voisin como puro marketing ou, no máximo, como pura especulação narcisista; num ou noutro casos actos inócuos ou, pelo menos, inofensivos.

Se é verdade que a obra de Le Corbusier levanta(va) questões socialmente relevantes; facto é que não há hoje ninguém que não tenha consciência desse facto, e que não consiga separar essas (só) aparentes manifestações de radicalidade social de tudo o resto; que é aquilo que de facto é relevante em LC: a sua arquitectura.

Bem sei que com isso posso ser outra vez acusado de desprezar a teoria; separando-a da produção. E no entanto parece-me que o exercício teórico desligado da capacidade de entender aquilo que se tem em mãos equivale ao simples exercício diletante da ignorância. Como é o caso deste texto, absurdo, de Theodore Dalrymple.

8 comentários:

alma disse...

Não é ignorância nem absurdo é só liberdade de expressão :)

"...differences of taste, after all, unite or divide men more profoundly than anything else."
- Delusions of honesty by Theo D.

Pedro Machado Costa disse...

Como saberá, o exercício da liberdade implica, porventura, o exercício da responsabilidade. O caso aqui - como aliás, em outras histórias - não diz respeito ao gosto. Pois não?

jraulcaires disse...

Não. Já tive um professor na faculdade, que, ett in illo tempore... ; tinha umas ideias interessantisímas sobre le Courbusier.

Dou um prémio a quem advinhar o nome do meu professor....

alma disse...

o prof :) TROUFA REAL :)
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Pedro,
O que o T.D diz não muda em nada a minha ou a sua opinião sobre o Corbu . Pois não?

jraulcaires disse...

Não, Não é o troufa Real, porque le pode ter muitos defeitos, mas a ignorância não é um deles. Suponho que deve ser mesmo maldade... - Mesmo ,a jusante, por outro lado - vocês nunca vão advinhar quem.

Se calhar, contra mim falo. Porque Courbusier foi para mim uma referência chave. Porque se calhar foi a olhar para Courbusier que eu quis ser Arquitecto.

Há que reconhecer uma certa aura (e valor) ao homem, caramba, ele parece um homem do Renascimento - estrutura na sua mente todo um progarama que vai recuar até a antiguidade clássica, para fazer qualquer coisa de verdadeiramente revolucionário com isso, que é adaptá-lo aos cânones do que ele cria ser uma sociedade mais justa, mais humana e mais fraterna - bom, aí nas últimas palavras eu farquejo um bocado - Não sei se ele quisesse na realidade uma sociedade apenas mais justa.

Ou se, genialmente, apenas quisesse encontrar um território para o livre arbítrio dos seus exercícios de virtuosismo plástico.

Talvez Le Courbusier, com essa atitude resuma todo um século.

Le courbusier talvez seja um dos últimos arquitectos artistas, ou o último dos arquitectos geniais (parafreseando o outro), mas agora precisamos de outro tipo de arquitectos:

Os que percebam de coisas simples (e, já agora, de complexas também - como a história do pedreiro que falava latim)


Os que são capazes de entender a Paisagem - precisamos muito mais de paisagistas do que construtores.

Os que são capazes de entender e compreeender a história e o valor do Património.

Os que são capazes de entender a emergência da sustentabilidade - parece uma coisa óbvia,(até está na moda... - mas justamente) - mas acho que é importnte ter a consciêdcia, no limiar deste sec, que os recursos que dispomos no planeta são escassos e têm que ser preservados.

Acho que é esta a agenda do sec XXI.

Se os arquitectos não perceberem isso, tornar-se-ão rápidamente inúteis e obsoletos.

(Já agoara, acho a obcessão do Courbusier pela higiene e pela organização um bocadinho doentia - às tantas o homem era obcessivo compulsivo, como hoje em dia se diz...)

jraulcaires disse...

peço desculpa por alguns erros e gralhas. Não verifiquei o texto.

alma disse...

Bonito depoimento
JRcaires :)

jraulcaires disse...

Obrigado, :-)

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