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Da evidente relação entre as pirâmides e a excelência
A lucidez
Sobre o grau de irrelevância de uma conferência
Sobre o grau de eficácia de uma conferência
Há algo de refinadamente irónico no facto de uma conferência sobre Arquitectura e Política ser adiada a pretexto de uma Cimeira Política. Quer dizer: conseguimos claramente concluir algo sobre política e arquitectura, sem ter sido sequer necessário assistir ao referido debate.
Da irrelevância das molduras
Da relevância das molduras
A vantagem dos prémios
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Gimnasio Maravillas, Alejandro de la Sota, Madrid, 1961 [fonte: Fundación Alejandro de la Sota]
The Importance of Being Earnest
Provavelmente, nunca a história da nomenclatura foi tão certeira do que nesse preciso momento em que acedeu a que uma obra passasse a ser conhecida por Ginásio Maravillas.
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Não sendo as regras do xadrez propriamente complicadas (afinal também elas podem ser escritas na parte de trás de um bilhete de autocarro) sabemos, evidentemente, que a beleza do xadrez está em saber tirar o máximo partido dessa relação entre as peças, da sua subtil alteração, e daquilo que conseguimos ler para lá da aparência (quase sempre aborrecida) de um tabuleiro.
Saber jogar xadrez equivale, em certo sentido, a saber ler aquilo que se esconde para lá da aparência das peças, e transformar esse conhecimento numa ideia que possa ser posta em prática. Quanto mais abrangente for essa ideia, mais alternativas se nos abrem.
Sabemos, claro, que a diferença entre um bom jogo de xadrez e um mau jogo de xadrez não está exactamente no estrito cumprimento do objectivo final: afinal a qualquer iniciado é dada a hipótese de ganhar o jogo, sendo evidentemente possivel a um trapalhão derrubar o rei advesário. E no entanto o interesse do xadrez não reside tanto nesse acto – que, a acontecer, é uma humilhação para quem perde, e uma inutilidade para quem ganha -, mas antes na capacidade do jogador compreender aquilo que se lhe depara.
Como na arquitectura, o xadrez também tem um receituário próprio. A maior parte dos livros que se lhe dedicam explicam um sem número de aberturas e de pequenos truques, que qualquer iniciado aplica à minima oportunidade.
Na verdade o registo do xadrez resume-se quase sempre a ilustrar jogos ou jogadas mais ou menos famosos; podendo a cultura de um xadrezista ser medida pelo número de jogos ou jogadas famosos que conhece: há a abertura dos três cavalos, a Sokolsky, a Catalã e a Inglesa. E também outras com nomes mais directos: a aberta, a semi-aberta e, evidentemente, a fechada. E depois há milhares e milhares de jogos que conhecemos, e que recuperamos de cada vez que pensamos em mover um bispo. E é isso que se ensina nas escolas de xadrez.
Esta cultura não tem no entanto relação directa com a capacidade de jogar xadrez: podemos conhecer de trás para a frente todas as jogadas dos encontros do Spassky contra o Bobby Fisher (o melhor entre os melhores), ou os irritantes revivalismos de Anad, e não ser sequer capazes de fazer um roque no momento certo.
Elegia da ingenuidade
Tudo aquilo que é preciso saber para se fazer arquitectura pode ser escrito na parte de trás de um bilhete de autocarro. E ainda lhe sobra espaço em branco, à parte de trás desse bilhete de autocarro.
O problema dos prémios
O problema dos prémios é que eles são são só injustos para com os vencidos, mas também para com os próprios vencedores.
Do sabor (entrincheirado) da Crítica (2)
Provavelmente esta discussão em torno do sabor da crítica não reside afinal sobre o seu sabor, mas antes sobre aquilo que implica a própria palavra Crítica.
Essa academia que Grande parece querer acreditar tende a agir retroactivamente. Analisando, sempre muito, aquilo que foi feito, e prevendo, sempre muito, aquilo que nunca será feito; a capacidade da academia parece estagnar em tudo aquilo que não seja o acto de transmitir um receituário mais ou menos coerente, mais ou menos eficaz.
O problema principal da tese de Grande reside exactamente no facto de que legitimar a Crítica através do escrutínio é – para além de crer cegamente na capacidade de um sistema quase sempre fechado sobre si próprio, cheio de vícios de forma e de limitações próprias daqueles que sobrevivem à custa do número de artigos publicados com peer review (mas alguém já pensou quem é que faz peer review em arquitectura?) – legitimar primeiramente um circuito de conhecimento que, para lá daquilo que possa ter de positivo ou negativo, é ensimesmado, e muito pouco consequente.
Não duvido, claro, das necessárias conclusões de uma tese de doutoramento, nem mesmo de todo esse maravilhoso conhecimento a que se obriga todo aquele que exerce a sua actividade profissional de crítico no seio da academia. E no entanto duvido, claro, da possibilidade de toda essa sagacidade poder ser posta ao serviço da arquitectura.
O problema aqui passa em muito pela incapacidade – para não falar na falta de vontade - da academia ser de facto útil à produção arquitectónica. Aliás, parece que a academia desdenha em muito aquilo que está na base da própria disciplina, tratando a maior parte das questões que a envolvem com a ligeireza própria de quem aredita que estas nunca tenham sequer existido; preferindo antes distrair-se com factos, certamente deliciosos, mas muito pouco consequentes, quer em termos colectivos, quer em termos individuais.
Evidentemente que a dictomia entre a academia e a actividade profissional (T. Hauser) é perfeitamente descabida; pelo menos no plano teórico. Ambas servem um mesmo fim. Só que esse entrincheiramento – ainda por cima consciente – que Grande e seus pares da academia invariavelmente se colocam, implica um total esvaziamento daquilo que produzem; pelo simples facto do conteúdo que produzem só ser lido e discutido em circuito fechado.
Um projecto crítico é obviamente independente do seu suporte (Gadanho), sendo a sua credibilidade dependente única e exclusivamente do seu teor. E isto aplica-se tanto a uma recensão sujeita a peer review, a uma prova académica, ou a um daqueles textos fáceis que se lêem todos os dias na blogoesfera.
Evidentemente que o suporte deste último tem as suas próprias limitações; que passam em muito pela aparente ligeireza dos textos, pela necessária rapidez com que são lidos e, sim, também, pela fácil apropriação por quem quer que seja. E poderemos, claro, olha-la, à Crítica feita na blogoesfera, com toda a desconfiança.
Por outro lado, podendo sempre exercer-se essa capacidade – tão cara aos académicos – em ser criterioso, não nos parece assim tão difícil saber separar a maldicência amadora da reflexão séria e intencionada, independentemente destas aparecerem travestidas de blogue, ou de páginas de uma qualquer revista arrumada na biblioteca de uma qualquer escola de arquitectura. E dessa forma encontrar a credibilidade de um texto publicado num blogue não é assim tão diferente de encontrar credibilidade num texto publicado noutro qualquer suporte.
Não creio saber se aquilo que pode ser entendido como crítica de arquitectura o é de facto, nos blogues. Nem sei mesmo se importa assim tanto limitar a crítica a um suporte.
Aquilo que (me) leva a reflectir sobre um projecto ou uma obra é, em primeiro lugar, tentar percebe-lo, a esse projecto ou a essa obra.
O acto de tornar públicas essas reflexões passa, evidentemente, por querer testá-las. Perceber exactamente a sua validade. E isso não mais é do que repetir um modelo assente na ideia que o debate é útil.
Na verdade creio que um acto crítico é, antes do mais, uma acto de generosidade. Uma espécie de feed-back sobre o trabalho dos outros. Tentar transformar essa possibilidade numa trincheira não é portanto um simples exercício de auto-defesa, mas um erro grosseiro, violento até.
Não me passaria nunca pela cabeça pôr em causa um qualquer projecto de arquitectura apenas por este ser feito por alguém que não granjeou ainda qualquer tipo de legitimidade profissional (um académico, por exemplo); simplesmente porque aquilo que me interessa num projecto é o projecto em si: a forma como é pensado, o seu conteúdo, e sua formalização, e as suas consequências disciplinares. Tudo o que se passa para além (ou aquém) disso é portanto dispensável.
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