Para lá de marcar o fim dos Opúsculos, o texto de Pedro Baía (Autorismos) que a Dafne agora pública, apresenta algo de verdadeiramente singular - senão único - no panorama editorial (ia dizer português, mas não é verdade): a sua própria anulação.
O-pús-cu-lo
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Da apresentação d'O Arquitectura em Público, em Lisboa, as palavras de Isabel Salema enquanto editora cultural do Público deixaram no ar a ideia que o enquadramento dado pelo jornal à arquitectura seria sobretudo fruto da casuística (Salema, julgo, utilizaria o termo caótico), mais do que de qualquer estratégia de fundo, que nunca terá chegado de facto a existir.
Aquilo que se pode concluir é que, independentemente do papel relevante do Público na divulgação da arquitectura, a redação viveu - e porventura contínua a viver - numa espécie de ingenuidade disciplinar; propícia, evidentemente, a erros ou, pior, à construção de teses pouco dadas à heterodoxia.
Por falar em Erros, Público e Arquitectura, registe-se a reportagem (especializada) de Sérgio Andrade sobre o lançamento do livro de Gadanho; o que não só vem confirmar a sábia afirmação de Newman, como também o seu contrário.
Arquitectura ou Público
Para lá da relevância do levantamento que Gadanho se propõe fazer no seu Arquitectura em Público: 15 anos de expansão mediática nas páginas de um jornal português (Colecção Equações de Arquitectura, Dafne, Porto, 2010; a partir da sua própria Tese de Doutoramento) - que, de forma sistemática e rigorosa, percorre o processo de generalização da arquitectura levado a cabo pelo Público entre 1991 e 2005 - o case-study torna evidente o paralelismo entre a discussão da arquitectura para lá daquilo que é a sua habitual zona de conforto e a crescente presença desta na sociedade portuguesa; mesmo quando o discurso não coincide exactamente com as pretensões ou preposições que são próprias à disciplina.
Gadanho diz isso mesmo, quando refere que "a hipótese de este acesso (aos media) garantir a construção de uma nova representatividade – e legitimidade – social da produção arquitectónica no âmbito do quotidiano", apontando-lhe no entanto o reverso da medalha: "o enfoque passa aqui a ser o acesso da arquitectura à construção da esfera pública e o modo como esse acesso gera uma sujeição ao escrutínio que, eventualmente, perturba a autonomia da arquitectura".
Dessa forma, como aliás em qualquer outra situação de mediatização, os eventuais ganhos resultantes da exposição pública resultam numa espécie de obrigação de manutenção de uma imagem consistente e coerente com aquela que foi sendo construída por essa via; resultando evidentemente todo esse processo numa aparente redução da complexidade própria do fenómeno arquitectónico. Gadanho di-lo de outra forma: "mesmo que a sociedade conte ainda com o reduto da opinião do especialista, a opinião em termos mais gerais foi, de facto, reconstruída como o adversário público e social do discurso especializado; quer isto dizer; houve um aparente fenómeno em que os media especializados foram sendo substituidos pelos media generalista".
Não sendo exactamente assim - até porque essa redução será, por princípio, apenas aparente; jogando o próprio jogo mediático, numa estratégia de sobrevivência nesse outro mundo já tão distante da cultura própria dos arquitectos -, certo é que esse fenómeno irá trazer mudanças evidentes na forma com que a disciplina se comunica e, por tal (que o digam os semiologistas), alterações na própria forma de a pensar, à arquitectura. Para o exemplificar, bastaria olhar para o fenómeno Bjarke Ingels, não apenas do ponto de vista do autor - preocupado em montar uma estratégioa de marketing -, mas também do ponto de vista dos clientes - que passam a entender um discurso construido à sua medida - e, mais surpreendente ainda, a própria cultura disciplinar - que sofre evidentes alterações, reduzindo-se às normativas do discurso criado.
Arquitectura em Público fica-se pelo território nacional, inclusivamente num tempo anterior ao aparecimento dos BIG; embora o próprio autor desenvolva algumas considerações sobre esse processo, referindo Johnson, Le Corbusier, Koolhaas (que faz a capa do Arquitectura em Público) ou Foster; este último com outro tipo de protagonismo, dada a sua própria presença em Lisboa no decurso dessa década e meia pela qual o livro vai passando.
No entanto, a tese de que a generalização do discurso arquitectónico implica a sua própria simplificação é de certo modo paradoxal; até porque, vendo bem as coisas, o desenvolvimento da visibilidade generica da arquitectura em Portugal coincide a com o próprio desenvolvimento da especialização; ou não fosse o caso do número de publicações especializadas ter aumentado significativamente nos últimos anos.
E isso leva-nos ao cerne da questão, referida aliás por Gadanho: a mediatização generalista da arquitectura implicou em certo sentido a uniformização de conteúdos. Para os media só existe uma arquitectura portuguesa, o que quer dizer que, mais cedo ou mais tarde, essa arquitectura portoguesa não irá deixar que nada mais cresça à sua volta.
E depois, penso mesmo que Gadanho saberá exactamente qual a próxima fase da mediatização.
Diria mesmo que a mediatização é ela própria o principal território de trabalho da arquitectura do próprio autor, cuja carreira assente exactamente na criação de conteúdos arquitectónicos cuja validade per se já não é o ponto flucrar, mas antes a sua intersão numa dinâmica de media que ultrapassa o próprio objecto, espalhando-o e espelhando-o por um conjunto de suportes (escrita, media, arte, etc.) e autores; que transformam, aliás, cada projecto de Gadanho uma peça concreta e rigorosa na construção da sua própria agenda enquanto autor, e da qual fazem parte o seu blogs e as suas revistas, os seus projectos curatoriais e, evidentemente, este livro de que agora se fala.
Entretanto no Porto
Faltar às aulas
(...) isto é o reconhecimento de uma instituição que ensina Arquitectura com grande qualidade, pondo ênfase no desenho, no empenho e no trabalho, disse ao PÚBLICO José António Barbosa. Evidentemente que José deve ter faltado àquela aula do Távora em que se falava de bom senso e sensiblidade.
Adenda à entrada anterior
All this, and heaven too
Só agora, passado tanto tempo, percebo o exacto alcance daquela expressão sobre os olhos da Bette Davis. Tudo isso sem depender sequer do filme, cujo nebuloso preto e branco deixa quase tudo entregue à especulação.
A ascensão de um blog
Falar de arquitectura
Bem sei que ainda não falámos de casas - que é uma outra forma de dizer que temos vindo a adiar, não sem alguma injustiça, escrever sobre aquilo que foi a Trienal.
Kung Hei Fat Choi
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