Bem sabemos que a relevância de um autor não se mede necessariamente pela quantidade da sua obra. Nem pelos prémios conquistados em concursos. Nem pela regularidade com que lá vai construindo. Nem mesmo pela pontual visibilidade de um ou outro edifício que se revela mais ou menos icónico.
Ainda assim é de alguma forma curioso constatar o silêncio crítico em volta de José Barbosa e Pedro Guimarães: autores que lá vão construído regularmente desde meados da década de 90, apresentando-nos, enfim, alguma homogeneidade na maneira como vão fazendo projectos.
Não é que a dupla seja responsável por algum edifício excepcional: afinal em todos aquelas obras que lhe conhecemos há sempre uma ou outra coisa que os torna, por assim dizer, menos conseguidos: ou é um problema de escala, ou de proporção, ou de adequação.
No entanto a aparente invisibilidade da dupla não se explica com certeza por esse tipo de razões: afinal as obras de sua autoria não são com certeza inferiores do que muitas outras, suas contemporâneas, cujas qualidades não divergem assim tanto daquela que a dupla se empenha em demonstrar a cada projecto que desenha, mas que se vieram a revelar sucessos editoriais.
Na verdade, tendo em conta a produção regular da arquitectura portuguesa erudita, não se encontram explicações de maior para não ver, com maior regularidade, a obra dos dois autores explanada em revistas, ou mostrada em exposições e conferências; até porque aquilo que estrutura a sua cultura de projecto é de certa forma condizente com o que aparenta ser o paradigma vigente da cultura disciplinar nacional: aquele simplismo - que vai sendo confundido de minimalismo -, alguma pobreza espacial - coisa que por cá se vai apelidando de rigor austero do desenho - e, claro, essa falta de flexibilidade inventiva, reduzindo o exercício da arquitectura à repetição exaustiva de modelos - que lá vamos, em tom simpático, chamando de Escola.
Se é verdade que essas características não tornam propriamente o exercício da arquitectura numa coisa fascinante, não quer isto dizer que a dupla não revele competências.
Das duas obras que lhes conheço melhor - o Complexo Científico da Universidade dos Açores, e as Piscinas da Povoação -, não há nada que as invalide de facto.
Complexo Científico da Universidade dos Açores, Ponta Delgada, 1996-2002 (?), Barbosa e Guimarães
A primeira é um longo e pesado paralelipípedo que se estende por entre os arvoredos da Alameda Duque de Bragança e do Jardim da Universidade - o mesmo cenário do edifício de auditórios, de Pedro Domingos e Inês Lobo, a norte deste -, feito de lâminas de betão branco, verticais primeiro, horizontais depois, separadas por um átrio generoso onde uns painéis de pedra esverdeada lá vão citando, longinquamente, Mies.
Todo o edifício é, aliás, uma longa citação: das obras do mestre alemão às de Souto de Moura (no interior reconhecem-se soluções similares ao edifício de Souto de Moura da Universidade de Aveiro); como que a demonstrar uma crença inaudita nos efeitos do reducionismo.
Se é verdade que o edifício é demasiado pesado (e isso nota-se sobretudo por quem percorre a Rua Mãe-de-Deus, que é a via pública que lhe passa pelo topo), tal facto dever-se-á mais ao excesso de programa do que à atenção que a dupla lhe terá dado. Afinal tenta-se esconder o piso superior num recuo (falhado), e o cuidado que trespassa das suas partes evidência uma ânsia de controlo de tudo.
Piscinas da Povoação, 2008, Barbosa e Guimarães
O outro edifício - as Piscinas da Povoação, selecionadas (mea culpa) para o Habitar Portugal - revela já uma outra soltura, mas sobretudo outras referências (Zumthor).
Se aqui se identifica uma clara intenção de projecto - a tentativa, maternal, romântica, de mesclar o edifício no seu pano de fundo, destacando-o embora dos verdejantes prados que o envolvem através daquela aplicação temática onde formas rígidas, escuras e densas (Vals, mas também nas Mudas, se quisermos ser mais corriqueiros) sublinham a natureza da topografia -, ela vem, aparentemente, criar mais dificuldades do que propriamente vantagens.
Não sendo uma vez mais uma obra deixada ao acaso (as entradas de luz, a estereotomia, etc., etc.), as piscinas são um exemplo de um projecto onde o desenho força mais do que se esforça; não fosse o uso, caricatural, daquele tapete de relva artificial nas coberturas ser exemplo maior desse fingimento arquitectonicamente pouco plausível.
Poder-se-ia dizer então que aquilo que de mais constante se revela na produção de Barbosa e Guimarães é a necessidade de identificação com a própria constância. Com o conhecido e com o experimentado.
Sendo esse exercício - o da citação directa - aquilo que vai salvando seus edifícios da banalidade sem no entanto os retirar daquele lugar comum tão em voga por d'entre portas; até porque o aparente virtuosismo (ou antes: tenacidade) dos seus autores não abre espaço a especiais delicadezas, muito menos a gestos de pura felicidade. Os projectos sabem-se antes mesmo de serem feitos, e as obras revelam-se sem que tenhamos necessidade de as percorrer.
Vodafone, Porto, 2009, Barbosa e Guimarães
Se essa ausência de risco vem tipificando a produção da dupla, não deixa de ser surpreendente que o pretexto para falar da sua obra seja exactamente o edifício mais atípico que por cá se terá construído nos últimos tempos: a Sede da Vodafone, no Porto (cujo concurso contou com a proposta do a.s*, como aliás, com propostas de quase toda a gente).
Se o edifício é, por si só, algo extravagante, mais surpreendente se torna o facto sabendo-lhe dos seus autores, até há bem pouco tempo minimalistas convictos.
Certo é que, em parte, o edifício poderá ser explicado pela resposta (pragmática, inteligente ou eficaz, como entenderem) ao próprio desafio do concurso, que procurava sobretudo uma fachada que encobrisse a pobre volumetria previamente determinada (que comportava uns quantos pisos em open-space, uma loja no piso térreo e uns quantos espaços para funcionários da multinacional).
Os autores encontraram uma imagem que corresponde exactamente à ideia que a Vodafone quer fazer passar de si própria: uns segundos de sofisticada fotógenia, algo extravagante, dinâmico, verdadeiramente original. Enfim, tudo aquilo que pode, com sucesso, vir a ser citado numa das páginas centrais da Wallpaper, ou que sirva de cenário ao atender de um telefone por jovens sorridentes, vestidas alegremente.
A questão aqui é que o afastamento dos estereótipos deste novo caminho de Barbosa e Guimarães corresponde ao afastamento da própria arquitectura; até porque o leitmotiv da Vodafone está naturalmente nos antípodas de qualquer razoabilidade arquitectónica.
Estamos pois perante um cenário, mais do que um edifício.
Só que, ao contrário desses maravilhosos cenários que fazem - sempre fizeram - parte da história da arquitectura, em cuja validade temporal assenta muito do que é a nossa cultura urbana; aqui, perante a cristalização de tão singular objecto, corre-se o risco de estarmos, apenas, perante aquele fenómeno que nos faz sorrir sempre que pegamos numa revista com mais de dez anos (não é necessário tanto tempo) e nos deparamos com aquilo que antes tinha sido sofisticado, para hoje ser apenas risível.
Anuncio (sofisticado) do Citroen Ami, algures na década de 60
Olhando com atenção para o edifício detectamos, claro, esse cuidado que os autores sempre sabem traduzir através do desenho: a nenhum elemento se dispensa da sua atenção; sem hierarquia nem sistematização. Tudo participa nesse exercício de virtuosismo - com excepção de um ou outro Hall, que recordam os Hall's de um Siza pouco entusiasmado - onde o investimento vai todo ele para o puro exercício do desenho. Um desenho que se torna apenas num desenho. Inútil na sua tentativa de tudo abarcar. Absurdo. Inócuo. Como se ele pudesse existir só por si. Ausente e irreflectido.
Se é verdade que a Vodafone era, à partida, um projecto difícil - obrigando a inventar-se uma vestimenta para uma coisa, tosca, pensada previamente - dir-se-ia que isso significaria também (sobretudo) uma oportunidade única para a arquitectura reflectir sobre o seu próprio papel em contextos muito diversos daqueles que lá vamos valorizando.
O problema desta Vodafone é exactamente esse: perdido nessa absurda autonomia do desenho, ficou por pensar-se o seu próprio significado. Sobra-nos essa espécie de papel de parede, ao gosto de uns, ao desgosto de outros. Aqui, a tridimensionalidade é apenas uma aparência.
Uma espécie de trompe l'oeil, portanto. Só que ao contrário.
41 comentários:
É interessante observar o uso da Arquitectura para "dar" espectáculo...
É absolutamente esquizofrénica esta crise existencialista (que aparenta estar na modinha) de alguns arquitectos lisboetas e ilhéus que foram para a Escolinha do Porto, mas cuja "doutrina" passaram a recusar e a odiar mal ganharam alguma notoriedade, mas que está tão presente e é tão evidente nas suas obras!!!
É de uma contradição a toda a prova...O post que dedicaste aos Barbosa & Guimarães podia ser PERFEITAMENTE dedicado ao atelier AS*.
Já agora, quanto ao edifício da Vodafone: achas que a tua proposta era menos "epidérmica"?
Existe na "Escolinha do Porto" uma geração de ruptura...
Pedro gadanho, Jorge Figueira...
e existiu sempre a figura de Nuno Portas, um "não alinhado"...
;-);
óbviamente...
aquele "discurso do método" acabou por se esgotar. Desde uma abordagem a um determinado tipo de desenho, linear, etc - de per si conducente a um determinado tipo de soluções, a uma arquitectura de génese topografica a que se apunha um uma geometria... - Geografias vivas?
aquilo tinha que entrar em ruptura, porque uma coisa é o Siza, outra são aprendizes de feiticeiro.
Eu, por acaso estudei em Lisboa. Ainda me lembro da frase lapidar - aquilo ao menos é uma escola. Pois, e com méritos firmados. Mas que não deixou de olhar para o umbigo...
ou seja, para mim não é papel de uma escola fornecer receitas, mas, antes levantar questões e fornecer massa crítica...
Mas olhem, que para mim aquilo continua a não ser do pior. já em tempos idos, no concurso da resid~encia do embaixador em Brasília, podemos comparar a proposta de back Gordon, um Lisboeta que fez o primeiro ano no porto (salvo erro) para retornar, com outra propostas, muito canónicamente académicas de outros alunos distintos do Porto.
É que tomaram a nuvem por juno...
Mais uma vez um excelente post. De facto, podemos estranhar...
O gabinete em questão, apresenta-se pouposamente desta forma: “barbosa & guimarães arquitectos encontra-se actualmente entre os gabinetes que representam a vanguarda da arquitectura contemporânea Portuguesa”...
Confesso que sou automaticamente contaminado por alguma descrença mas vou tentando resistir e olhar para o trabalho que vão fazendo.
Na verdade, a grande maioria dos projectos têm claras referências a obras que já rodaram incontáveis publicações e encheram os olhos a editores de todo o mundo. Seja um Souto Moura ou um Zumthor, Barbosa & Guimarães já levam 17 anos de prática e revelam ainda uma procura conceptual que se poderá traduzir igualmente em imaturidade o que, a ser, é grave.
O Edifício da Vodafone é uma continuação desta situação. Na rotunda da Boavista, pouco acima, jaz a Casa da Música, também em betão branco a reivindicar uma forma exceptional e a romper com ocupações perimetrais. Poderia ser um diálogo interessante mas não é. O primeiro fica-se por um exercício paramétrico simples de uma pele e pouco mais... É uma imagem, um produto para e da “Société du Spectacle”. É aqui que encontra o seu lugar.
Posto isto, o problema não está no Edifício da Vodafone mas na influência que as arquitecturas portuguesas (as tais da “vanguarda”) aindam têm nos seus tradicionais modelos. Quando se tentam libertar, não encontram oxigénio suficiente para se sustentarem a si próprios porque ou o discurso é superficial ou a arquitectura vai ficando sempre pior.
sim senhor :) gostei de ler :)
é uma boa posta :)
e uma posta, por assim dizer, corajosa :)
vejo a coisa, a "esquizofrenia" da obra dos autores aqui analisados com alguma... "naturalidade" :)
trata-se tão somente de (querer) ganhar concursos :)
receita minituga para programas académicos com "selo" (garantia de qualidade...) Souto de Moura, "cenas" wallpaper mais espalhafatosas ao gosto tardo-kualhas :) para arquitecturas corporativas com vontade de "aparecer" e (Jesus!) :) dar nas vistas... :)))
chama-se sobreviver :)
quem não quiser não faz (flik-flak encorpado com mortal à retaguarda) :) mas depois também não se queixe :)
não ligues ao JPM :)
o teu projecto para a Vodafone era muito mais giro :)
e sexy :)
diz o ODP, que se deixou apaixonar, em novo :) por um painel publicitário... :)))
jraulcaires, estou desconfiado que a escolinha (do Porto) sempre foi muito mais divertida e "plural" do que alguns agora querem fazer querer... recordo apenas o Soutinho...
não percebi a ref. ao proj. do Back Gordon para a residência do embaixador...
vanguarda LOL
ó da guarda! :)
quando eu era jovem :) também havia a tribo dos da "vanguarda" (e o betos surfitas com "kispos de penas") :)))
os da vanguarda era os que vestiam gabardinas :))) super infelizes :) e com olheiras até aos joelhos :)
oitenta e poucos... :) na ressaca do punk :)
os arquitectos da nossa vanguarda vestem edifícios!? :)
vai dar tudo ao mesmo :)
Já agora, imagino que quisesses dizer trompe l'oeil (de olho). Podia tratar-se de um erro dactilográfico mas a sua repetição no fim do comentário confirma que não foi.
música de vanguarda:
http://www.youtube.com/watch?v=GhG_RMa7yH4
Ainda me hei-de referir ao edifício em questão.
Quanto à chamada escola do Porto, que terá sido diverida, não tenho dúvidas nenhumas. Plural, sim, mas devido principalmente ao ânimo dos seus alunos. Evidentemente, ele há o Soutinho...
A referência à proposta do Back Gordon, justifico-a por ele fazer referência a outras coisas que não o estrito aprendizato da disciplina na escola do Porto, com resultados mais ou menos previsiveis. Pelo menos em relação ao que aquela escola era no seu tempo...
tb posso estar enganado, mas acho que não.
JPM: de imediato: confirmo lamentável erro(s). Revisto. Obrigado.
Quanto ao resto: lá iremos, lá iremos.
Era bom é que esses chulos (Barbosa e Guimarães) não explorassem os empregados e pagassem!!!
Até porque são estes que fazem quase tudooooooo.
Assim é concorrência desleal! Pura e Crua!... Que se banalizou em Portugal.
"Escolinha do Porto" ?!!!!
Esta afirmação, faz-me lembrar a velha da aldeia que está preocupada com bacalhau, por este estar insosso...
Tão preocupada que até nem se apercebe que o bacalhau não era bacalhau.
Quanto ao edifício da Vodafone, quem lá entrar... verificará rapidamente que o interior é muito muito fraquinho...
Ps:
Se é para ser mesmo rigoroso é Trompe-l'oeil.
Obrigado pelos comentários. Que merecem algumas considerações.
Em primeiro lugar não posso deixar de referir alguma estranheza no modo, algo amargo, com que esse nosso atento leitor que dá pelo nome de JPF reage. Sobretudo se tivermos em conta que o conteúdo de tal reacção falha o alvo ou, neste caso, o teor do post. Parece-nos evidente que o texto que aparentemente lhe dá origem procura apenas reflectir sobre determinada obra: suas qualidades, seu conteúdo e seu contexto (digamos) disciplinar. Nesse sentido, extrapolar críticas doutrinárias sobe determinada escol(inh)a parece-nos, neste contexto, e por ora, pura especulação.
Mas já que toca no assunto: é verdade: que irritante será essa “modinha esquizofrénica” posta em prática por esses (poucos?) arquitectos lisboetas e ilhéus (gosto particularmente da referência ao ilhéu) em quererem reflectir sobre determinado assunto. Ainda assim, mesmo não sendo lisboeta de gema, nem mesmo ilhéu, não posso deixar de sair em defesa de um e outro, explicando que a aceitação de algo implica, porventura, a sua validação.
Ora: tendo em conta que o acto de validar depende sempre do grau de exigência do validador; poder-se-ia concluir acerca da existência de um qualquer fenómeno nessas ilhas que refere (entendendo Lisboa como uma ilha, o que não é uma leitura assim tão absurda como possa á primeira vista parece) que faz com que as pessoas se tornem, assim de repente, mais exigentes. Irritantemente exigentes.
Ou então – explicação bastante mais simples – trata-se simplesmente da prova mais que provada que afinal as (suas) Escol(inh)as lá vão servindo para alguma coisa: nem que seja para ensinar a pensar. Se há lisboetas e ilhéus que frequentam essas escolas com o intuito de lhe aprenderem os passos, isso será apenas fruto de uma qualquer coincidência feliz.
Sabe, meu caro JPF: fazer arquitectura não é – nunca foi – coisa evidente. E isso pouco tem a ver com a existência de modelos; até porque o modelo sempre foi a melhor catapulta disciplinar. Não caia é no erro, habitual, de confundir modelo com lugar comum.
Não sendo certamente fácil, para um leigo, distinguir um do outro; é no entanto nossa obrigação procurar perceber aquilo que passamos os dias a fazer, nem que seja através das obras dos outros; que é sempre um belo método de aprendizagem. Ou pelo menos assim nos ensinam as (suas?) escol(inh)as.
Para finalizar: apenas uma nota. Embora não se perceba muito bem onde JPF quer chegar quando refere “o post poderia ser PERFEITAMENTE dedicado ao a.s*” (a afirmação não se sustenta por qualquer argumento) devo relembrar que o texto é sobre determinada obra, e não sobre o atelier que partilho. Estando evidentemente aberto a qualquer discussão – especialmente sobre o a.s* (e isso é, obviamente um convite - há no entanto uma coisa que considero perfeitamente acertada em sua alegação: claro que não: a proposta do a.s* não é menos epidérmica que a de B&G. Muito pelo contrario: supunha-se ser muito mais epidérmica.
Até porque era disso mesmo que se estava a falar.
Quanto ao resto, sou levado a concordar com quase tudo o que por aqui se escreve; levantando dúvidas apenas sobre essa frase de Francisco do Vale onde se apelida “de muito fraquinho” o interior do edifício. Não é que me oponha a tal tese, mas gostaria(mos) de a ver exposta com mais acuidade lá para os lados do Arquitectura Hoje. E
nfim: pedir não custa.
Uma vez que se fala de "escolinhas",o que me deixa mais confuso é não entender o que é que estes três projectos tem em comum? Ou melhor, o que é que eles tem a haver com os seus autores? É propositado ou é porque para se fazer arquitectura não pode ser "coisa evidente"?
ao contrário do Jesus :) eu acho que esses projectos tem tudo em comum
são todos bons exemplos de uma certa forma competente de fazer arquitectura
uma arquitectura especialista do estilo que estiver a dar (para cada projecto)
uma arquitectura que como escreveu o Pedro MC não deixa nada ao acaso...
se calhar é esse o problema...
não é problema nenhum...
é parte da solução...
Isto pode parecer um bocado bruto, mas vocês querem ganhar concursos ou perdê-los?
É que para os perder, estou cá eu e só já aposto em concursos Internacionais, que, pelo menos, são mais divertidos e imprevisiveis...
e dão para ir fazendo portfólios bonitos...
Vamos por partes, então.
Começo por dizer que não os conheço os Barbosa & Guimarães para além da obra que têm publicada, não tomo parte nem me identifico especialmente com eles.
Se por um lado é verdade que o comentário foge ao tema do post, também hás-de notar que não faço referência ao teor do mesmo - neste caso por concordar com (quase) tudo, no que diz respeito à crítica aos B&G. Quanto ao tom amargo a que te referes, surge em contraponto à jactância e soberba com que aqui escreves quase sempre. Não que isso me incomode especialmente (não me incomoda nada, vá) até porque torna o blog mais interessante (já vês que sou leitor relativamente regular), mas não necessariamente mais válido o que se escreve.
O que é deveras irritante é o estilo recorrentemente melindrado e reactivo que usas quando te referes à Escola do Porto, desta vez (e foi isso que me levou a comentar), cumulativamente à forma leviana como dissecaste um atelier com (como já se disse) 17 anos de actividade.
Desculparás mas não me vou dar ao trabalho de ir procurar todos os posts que escreveste que comprovam esse complexo Escola do Porto(ainda não consegui caracterizá-lo bem, mas que é um complexo, é), tu deverás saber melhor, mas recordo-me particularmente daquele do Toys, ou algo assim. Quanta irascibilidade!
Quando me refiro à Escolinha do Porto, (uso a expressão no mesmo sentido com que tu a escreves em itálico, hiperbolizando-o) refiro-me igualmente a essa fábrica de criação e repetição exaustiva de modelos (também lá fiz o curso, escusam de ficar abespinhados os que se ofenderam). Modelos esses – e daí achar que utilizas um discurso contraditório – que se reflectem (se não em todos, nos primeiros) projectos dos AS*. (Retracto-me do facto de me ter dirigido a ti quando me deveria ter dirigido ao atelier do qual fazes parte). A Casa do Tractor e as Residências de Ponta Delgada são as que me ocorrem imediatamente.
Não estou a fazer qualquer juízo de valor, nunca discordei da afirmação da arquitectura através de modelos: a Escola do Porto sempre assentou na criação destes (inclusive do Siza houveram variações) e, neste sentido, defendo cada vez mais a progressiva instauração de uma Escola de Lisboa, desde há 10 anos para cá. Comparemos as Influx, as Bienais, as Trienais, as Experimenta, as Habitar Portugal, etc.
Adiante. Ao longo da dissecação que fazes dos B&G (com três exemplos, note-se) referes-te ao desenho (ou à falta deste) por parte dos mesmos. Aí não concordo mesmo nada e arrisco mesmo alguma ignorância da parte acusatória quanto ao conhecimento da obra dos mesmos. Se são contidos no traço? São, mas é assim que se definem. Alguns projectos mais conseguidos que outros? Certamente, mas é um mal de que padece todo o arquitecto. E quando, por exemplo, acusas o uso caricatural do tapete de relva na cobertura das Piscinas da Povoação, vejo igualmente forçado o uso que os AS* lhe deram na proposta para o Meia Praia Bay Resort, sobretudo se tivermos em conta que aquilo parece desenvolver-se em cima da praia. Tudo bem, se calhar foi para ganhar concurso, mas serve isto para ilustrar como são frágeis os argumentos e a forma como os utilizas para caracterizar os B&G e que poderiam assentar na carapuça de qualquer atelier – AS* inclusive.
Quanto ao edifício da Vodafone, e evitando questões formais, de conteúdo, etc: é óbvio que (quase) todas as obras arquitectónicas padecerão de um certo zeitgeist daqui a 10 anos, sobretudo as mais icónicas. Mas também não vejo o mal nisso. O efeito é tão visível nas torres das Amoreiras como na Filarmónica de Berlim ou no Centro Pompidou.
Quanto aos lisboetas e ilhéus formados na ESBAP/FAUP que se insurgem contra a mesma com um discurso contraditório em relação à obra que produzem ou produziram, fica para a próxima que se der.
PS. Se é para ser mesmo, mesmo, mas mesmo rigoroso: trompe-l'œil
Mais uma vez obrigado pelos comentários. Dada a extensão desta coluna, e o especial interesse nas alegações de JPM, julgo que será mais acertado dar-lhe a continuidade que merece em novo post. Que estará online com a brevidade que nos for possivel.
(ps: detecto que referi, por puro engano, JPF ao invés de JPM, depreendendo no entanto o sentido de humor do próprio, não fosse a sua metamorfose em JFM (são já dois os erros portanto, contando com o trompe l'oeil). E no entanto não seria mais fácil haver por aí um nome?
Acho engraçado qu e o debate tenha extrvasado o edifício - que não conheço. porque raramente vou ao porto - para ir parar a outras coiss. Perpassa a formação em arquitectura, o exercício da arquitectura em Portugal..
estouy ansioso pelo próximo "post"
Cumprimentos
PS: Quando tiver obra que se veja, tambem faço um blog. Até lá, vou pregando no deserto...
Não sei o que significa "Escola do Porto".
Creio que o que se denomina "Escola do Porto", não passa necessariamente pela actividade projectual dos antigos alunos dessa "Escola", mas por um certo tipo de atitude no projecto que, não sei ao certo, se será dó formal.
Também já poucos copiam o Siza dos anos 80, altura em que a "Escola" tinha razão de ser (se não não tinha ganha tal denominação), mais pelo contexto, independentemente da sua validade ou conceito.
Geralmente as cópias dos ditos mestres (Siza, Souto) falham, (salvo raras e boas excepções, se é para copiar, ao menos que o façam bem!) em escala, em detalhe, enfim, num uso que a situação não requeria.
De que se fala, afinal, quando se fala de "Escola do Porto"?
Ruptura actual da linha da Escola? Isso o que é? Há uma linha nova?
As catedrais eram brancas porque eram novas, como dizia LC, ou porque foram projectadas à "Escola do Porto"?
simões
são parte do problema
do problema de uma ("cultura" da) arquitectura que se compraz em admirar o alindamento do alinhamento da junta do pavimento com a junta do lambril na el croquis do Souto...
o JFM marcou pontos com a relva...
tenho ideia de perguntar, em jeito de exercício novo, gostam ou não gostam do edifício da Vodafone projectado por Barbosa & Guimarães?
as respostas, a havê-las, não terão mais de 8 letras
depois tenho também a ideia de perguntar se a Escola do Porto existe ou não?
as respostas, a havê-las, não terão mais de 9 letras
por agora é só isto
O problema não é o gosto. Gostar, gostar, gosto mesmo de alguns poucos edificios, depois há outros que acho que resolvem bem os vários problemas, considero-os bons, e outros que resolvem menos bem a sua circunstância.
No caso do edifício da vodafone, o problema é haver referências formais pertencentes à mesma avenida, e sobretudo pelo carácter de excepção dos dois. Acaba o mais recente por ser uma espécie de neoclássico. E quanto aos neoclássicos, por muito exímios que sejam, não fazem avançar a história da arquitectura.
Falou-se tanto que a Casa da Musica era um edifício de 9 andares que punha em causa a escala da zona, no entanto a sua abstracção e volumetria não remete para esse tipo de leituras e ela convive bem com a envolvente. Apesar de ver muitas coisas positivas na CDM, admito que, entre outros aspectos, a sua forma levantada da rua põe em causa alguma funcionalidade, ou seja, não é um bom projecto de arquitectura na sua totalidade.
O vodafone, impõe uma relação muito "bojuda" com a envolvente, mas ao contrário da CDM não sei como se articula o resto do seu programa com a sua "bojuda" forma.
Quanto à escola do Porto, ela tem uma morada, por isso existe. No entanto, quando se fala nela, fala-se de coisas muito diferentes e, por vezes, incompatíveis entre si. Uma delas, como já foi referido a respeito a alguns átrios do Siza, é a preocupação excessiva de alguns detalhes/alinhamentos enquanto o projecto esteve desatento a problemas maiores (mas atenção, quando as coisas são feitas em consonância com os problemas maiores, dá os projectos pelo qual o Siza tem o seu reconhecimento. De qualquer forma, como todos nós, até o Siza tens uns projectos melhores e outros piores).
Depois há as cópias, e aí, irritam-me muito quando copiam mal e sobretudo quando é forçado face à circunstância. Também se fala da escola para denominar certo tipo de atitudes, enfim, muitas variantes discursivas.
Mas vejo que falhei a resposta, pois havia um limite de letras, por isso aqui vai:
1 pergunta - menos bem
2 pergunta - sem relevo
1 - os neoclássicos não fazem avançar a história da arquitectura!?...
2 - qual o significado da expressão fazer "avançar a história da arquitectura"!?...
com quantas letras quiser(es) :)
1 e 2 - A história em geral e a da arquitectura também, é feita de períodos, sendo estes marcados por rupturas com o período anterior (conseguindo os historiadores assim meter as respectivas datas de inicio e de fim). Ora numa fase de transição, um arquitecto com uma obra irrepreensível, mas que não estava consonante com o período novo fica sem registo na história. Portanto, não foi o tal arquitecto, que apesar de irrepreensível ainda propunha capitéis dóricos, enquanto que os outros já propunham jónicos, tendo a malta dos jónicos ficado na história marcando um novo período. Ou seja, "avançar a história" não foi realmente a melhor expressão, assim, substituo-a por "escrever a história" ou "significativo para a a história da arquitectura".
Quando me referia aos "neoclássicos" referia-me não aos deste período histórico concreto (com qual até simpatizo), mas aos que repetem formas, ficando as formas destes aquém do modelo repetido. Sendo mais correcto afirmar que vivemos um neo-modernismo (a CDM tem muito de um notável BREUER).
ah, mt obg
tenho pensado mt nisso...
nos notáveis arquitectos excluídos da história da arquitectura pelos mais diversos motivos...
na (difícil) passagem do séc. XIX para o século XX, na obra do (venturiano) Lutyens
na "passagem" (na implosão) do império austro-húngaro na obra do "conservador" Plecnik
na passagem "pela" WWII, do "esquecimento" dos notáveis fascistas, futuristas, whatever (como o Moretti)
a história da arquitectura é pródiga a inventar heróis (em muitos casos com muitos pés de barro...) e a ignorar outros arquitectos incrivelmente talentosos
a maneira como Le Corbusier (e os amigos...) apagaram os modernos alemães - Harring, etc - da fotografia da fundação do "modernismo" é digna de Estaline...
a invenção de heróis pressupõe, calculo, o apagamento e a diminuição do esforço "colectivo" e o apagamento de muitas outras persona(gen)s de igual ou superior valor
eu não sou historiador (nem da arquitectura) mas desconfio dessa ideia da história às fatias, "marcada por rupturas" e "reacções" (em que o "modernismo dos anos 20 "reage" aos "excessos" da arte nova das "mulheres e das borboletas", etc.)
afinal de contas, como o meu caro (o) arquitecto sabe tão bem ou melhor que eu, o dórico coexistiu (pacificamente) com o jónico
era mais uma questão de escolher o "estilo" mais apropriado (oops) à função... uma questão de escolher o estilo certo para cada um dos trabalhos/encomendas...
é por isso e só por isso, que permaneço insatisfeito com a replica que muito agradeço
acho o argumento do antecedente Breueriano da CDM um pouco rebuscado...
Peço desculpa pela causa de insatisfação, o recurso aos estilos foi puro estilo. Tomo assim o reparo sobre a coexistência das ordens como um agente provocador.
breuer:
http://www.aaa.si.edu/images/breumarc/AAA_breumarc_0052r.jpg
cdm:
http://www.leme.pt/imagens/portugal/porto/casa-da-musica/0001.jpg
Antes de qualquer réplica...
"a CDM tem muito de um notável BREUER"
isto não é directo, apenas queria deixar a ideia que, construtivamente e formalmente, ainda estamos presos a linguagens que começam a entrar na secularização, começa a fazer falta algo de novo, fora do revivalismo (transversal a muitas áreas, não só a arq.).
o singular problema da originalidade. sempre
Os estilos dórico, coríntio e jónico não eram escolhidos para responder a uma função... derivavam da crença religiosa... uma crença que se calhar faz falta nos dias de hoje com, tanta modernisse...
(o) arquitecto
não consegui abri o primeiro dos links mas penso (pelo segundo) que já estou a ver qual é o ponto...
não tá mal visto não senhor
jesus
amém
ele é jesus, ele é crença, ele é secularização... tá bonito, isto aqui, pelas catedrais... :)))
A história continua aqui
Ainda sobre a Vodafone, ou não:
Edifício da Vodafone e Porto - cidade global.
Ricardo: tendo em conta a acutilância desse coolhunter, que compara Zaha Hadid com B&G, julgo que está tudo dito.
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