Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Exercício do Direito de Resposta separado por breves trechos ensaisticos sobre a Escola do Porto

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Eleonor Cunningham em topless no solário da casa de Raymond Loewy, 1947, Peter Stackpole - Life

Relativamente aos comentários ao Contrario do Trompe-L’oeil cabe-nos confrontá-los com o nosso ponto de vista, mesmo aqueles que rapidamente divergiram do seu pretexto. Sobretudo esses. E, desses, claro, os de JPM/JPF/JFM, cujo teor, incisivo embora, terá incorrido num conjunto de equívocos que importa rectificar; tentando fugir a esse sempre tentador exercício da jactância.

Do alegado estilo melindrado e recorrentemente reactivo com que aqui se fala da Escola do Porto julga-se que o incómodo de JPM resulta sobretudo de uma interpretação algo inadequada da sua parte, mais do que propriamente do teor dos argumentos que por aqui se vão defendendo.
Obviamente que a questão passa por saber de que Escola do Porto é que estamos a falar quando estamos a falar de Escola do Porto - como aliás se referem vários dos outros comentadores de serviço. Mas, mais importante que isso, é sabermos definir o campo de abrangência do nosso discurso, extrapolando-se, ou não, um posicionamento mais geral em torno das suas conclusões.
Não se adivinhando qualquer tipo de constrangimentos em abordar tal tema (a que já lá iremos) julga-se no entanto que As Catedrais não se lhe terão dedicado assim tanto à sua análise. Mas vamos lá então:

Argumentará aqui JPM que a irasbilidade demonstrada em a.s* Plan Toys ou a Classe de 1996 contraria esta nossa última afirmação: afinal refere-se por aí que a Escola precisa de quase tudo. Precisa de reflexão. De auto-análise. De reforma. De capacidade auto-crítica. De abertura e de flexibilidade. De inteligência. De capacidade de experimentação e de investigação. De habilidade e de idoneidade. De ambição e de conhecimento, e de ambição de conhecimento. De aptidão, dos seus alunos e dos seus professores. De saber aceitar aquilo que desconhece, e de ser curiosa. E precisa de apagar de uma vez por todas aquelas palavras pintadas num muro da escola, que dizem: Arquitectura Não se Ensina, com letras gordas e ponto de exclamação no fim e tudo.

Teria razão JPM: Ali falou-se da Escola do Porto. Ou daquilo que para ela desejaríamos, e que por razões várias – muita delas prosaicas, pouco heróicas - não acontece. E no entanto a.s* Plan Toys resume-se, prosaicamItálicoente, a uma espécie de private joke sobre gentes d’outros tempos, dos seus encontros e dos seus desencontros, mais do que a outra coisa qualquer.
Não se esperava entendimento por parte de JPM desse diálogo com passados. Poucos foram aliás os versados que lhe demonstraram assentimento, muito por culpa desta nossa soberba. Ainda assim refira-se que o texto se atira (de cabeça) a um conjunto de autores que, tendo em comum esse facto de se terem formado nessa mesma Escola do Porto em 1996, são, em nossa opinião, todos eles (com excepção de Camilo Rebelo, que não se cansa de admirar os seus próprios monstros sagrados) exemplos de um claro abastardamento daquilo que lhe herdam, mais do que propriamente veículos dessa linearidade que JPM vai aparentemente atribuindo à referida academia.
Conclui-se portanto ser um paradoxo a afirmação que um texto que crítica críticos da Escola do Porto possa constituir ele próprio uma crítica à Escola do Porto; anulando-se, por isso, qualquer hipótese de a partir dele se concluir um qualquer Complexo freudiano.
E no entanto, sendo possível que nos discursos do (ilhéu?) Bernardo Rodrigues, dos (lisboetas?) a.s*, de Pedro Bandeira, ou mesmo, com outra subtileza, do Atelier do Corvo ,se pudessem depreendem eventuais divergências com a iconografia ortodoxa pela qual a Escola do Porto tem vindo a ser (superficialmente) reconhecida, ou então com um distanciamento à posição ideológica que iria pautar o modelo de ensino que por lá se exerceu; será sempre displicente afirmar-se que esse afastamento equivale à assunção de renuncia à herança; mesmo no caso dos deserdados.

Tudo isso, repare-se, não equivale a redimir qualquer desses autores de desprendimento.
Não sabendo concluir sobre o partido desses autores, dir-se-ia que, no que diz respeito ao a.s*, ele existe. E pode ser explicado por vários ângulos.
O primeiro, mais fácil de demonstrar, resume-se à pouca equivalência entre o que (JMF) considera ser a Escola do Porto e toda essa produção que por ela se procura sustentar, pouco ou nada condizente com a condição ideológica que a nomeia
Quer dizer: fazer caixinhas, paralelepipédicas, mais ou menos elegantes, brancas ou com materiais da região, com pedras, madeiras, betão por envernizar, janelas rasgadas sobre a “paisagem”, austeras (ver essa brilhante selecção da melhor cultura arquitectónica nacional no Arquitectarte), pouco ou nada é explicado por essa teoria de entendimento do espaço que pela escola se veicula(va).
Se concordarmos que a Escola do Porto partilha em muito a sensibilidade que a teoria decidiu chamar de abordagem fenomenológica ou, pelo menos, validarmos a simplificação regionalista de Frampton, estamos muito longe (mas muito longe mesmo) de podermos explicar toda essa alegada partilha de valores entre essa forma da acreditar, e aqueloutra em que um extenso rol de autores lá vai caracterizando a sua obra.

Repare-se: não se trata aqui de colocar em causa a qualidade arquitectónica de uma qualquer obra considerada (por JMF) produto da Escola do Porto - se quiserem um exemplo, bastará relembrar a Casa do Gerês -, mas antes de duvidar da relação causal entre a Teoria da dita Escola e a produção que com ela se tem vindo a ser confundida.
Há, digamos assim, uma divergência entre a ordem do discurso que se opera sobre essas obras (a importância do contexto, a interpretação da estrutura sensível do lugar, o respeito para com ela, a sua continuidade) e a sua formulação, que mais se parece aproximar de um lugar comum do moderno, do que propriamente de uma formulação subjugada à matéria exterior (lá, no Norberg Schulz).
Caixas e mais caixas. Caixas em todo o lado. Brancas. Caixas iguais a tantas outras. Altas, menos altas. Acompanhadas por longos muros, tangencia de lajes, envidraçados encaixilhados a fino, guardas a tender para a invisibilidade, espaços neutros e modulares, volumes secos e aborrecidos, que nos são apresentadas como inteligentes e sensíveis exemplos de exímia compreensão do mundo, e de uma resposta única, singular, aos problemas que se lhe colocam; quando na verdade são simples exemplares (uns, poucos, melhores, outros, muitos, piores) do mais puro ensimesmamento. Desse mesmo ensimesmamento que despreza tudo aquilo que é externo ao autor Moderno; esse ser que Ferry chama de L’Homme-Dieu (ver também, por favor, o Homo Aestheticus, do mesmo Ferry), que muito de afasta daqueloutro posicionamento anti-moderno, supra-humano, algo metafísico até, onde a determinado momento se posicionou o discurso da Escola do Porto.

Seria levado a afirmar que, seguindo esta linha de raciocínio, JMP estaria porventura consciente que a sua afirmação – onde se diz que as “primeiras obras do a.s (já agora, a primeira obra do atelier é a Biblioteca dos Açores, que JMP decidiu, como que cuidadosamente, deixar de fora) não escondem uma certa herança da Escola do Porto” - se demonstra errada; não estivessem as Residências, com também a própria Casa do Tractor, muito mais próximas desse infeliz chorrilho de caixas e mais caixas (caixas em todo o lado, iguais a tantas outras, altas, mesmo altas, acompanhadas por longos muros, etc.) do que propriamente da aspiração fenomenológica tão cara à academia do Porto.
Se uma e outra obras se confundem com coisas que não se deviam parecer, isso dever-se-á sobretudo àquilo que nos limita: como saberá, fazemos apenas aquilo que podemos, poucas vezes aquilo que queremos, e raramente aquilo que realmente admiramos. E no entanto não posso deixar de referir que a haver falhas de monta nas Residências, essas não passarão por uma deficiente leitura de determinada realidade. Confessa-se: essa leitura nunca existiu, sendo que a intencionalidade do projecto passa exactamente pelo desejo de uma outra realidade.
E no entanto julgo que JMP terá confundido, nesse ponto, forma com conteúdo; facto aliás demasiado comum, dificilmente evitado.
Essa confusão tem uma explicação simples, sobretudo acreditando (e acreditamos) que a formação de JMP é feita na FAUP, cuja origem é exactamente a estrutura conceptual que lhe dá origem, à Escola, tal como hoje (hoje talvez já não) a conhecemos.

Aliás, essa explicação coincide também com o segundo argumento que poderá eventualmente sustentar esse tal desligamento do a.s* em relação à Escola do Porto e que tem a ver exactamente com um factor absolutamente decisivo para o seu percurso académico e pedagógico, com consequências nas várias gerações que aí se foram formando.
Para melhor o demonstrar peço emprestadas essas frases de Alexandre Alves Costa publicadas n’Os Textos Datados (mais precisamente no texto Considerações sobre o Ensino da Arquitectura), por sua vez citadas de Siza, onde, algures em 1980, se afirma:
“(…) propor a formação do arquitecto a partir de síntese plásticas, apoiadas na informação das ciências humanas e exactas lhe confere, é por demais distante da experiência pedagógica acumulada nos últimos anos de funcionamento do Curso (da FAUP), e por isso inaceitável”, para logo a seguir se poder ler “a ideia central das Bases Gerais (da metodologia de ensino da Escola do Porto) em funcionamento consiste na consciência da autonomia disciplinar da arquitectura”, concluindo-se, um pouco mais à frente ser “o núcleo de instrumentos metodológicos disciplinares (entenda-se: o desenho; o desenho e a cultura de atelier) que é necessário entender e aprender”.
Dispensando-nos de qualquer consideração política que se possa (e pode) extrapolar destas palavras defendidas no inicio da década de 80 por toda essa geração que foi (ainda é) influente na Escola do Porto (e também em Coimbra, sua filha, e em Guimarães, sua afilhada) dir-se-ia que estas curtas frases estão na sua origem; sendo as consequências dessa acto (re)inaugural aquilo que tem vindo a caracterizar esse lado mais visível (a tal forma) pela qual achamos adivinhar esse produto arquitectónico da Escola do Porto.
Quer isto dizer que, pelo menos a partir da década de 80, a acção pedagógica do Porto investe toda a sua energia na autonomia do projecto de arquitectura, caminhando para uma crescente aproximação ao modelo de funcionamento do atelier (que, no Porto, é também ele influenciado por essa forma de pensar).

Não havendo espaço, nem tempo, muito menos vontade de exercer por ora qualquer tipo de reflexão crítica sobre tal modelo de ensino de arquitectura; não podemos no entanto deixar de referir que a nossa formação (comum) se baseia numa absoluta concentração no exercício dos instrumentos operativos, directos, do projecto; cuja validação não pode por isso deixar de dispensar a observância do desenho (entendendo aqui o desenho como forma decisiva e fundamental de projecto).
Nesse sentido, sair da Escola do Porto entre o final da década de 80 e os anos 90 (coisa que abarca muitas das gerações que lá vão construído a arquitectura admirada em Portugal) equivale a crer, infalivelmente, que (a qualidade d)o desenho implica em absoluto a qualidade da arquitectura que por ele se faz. E mais: que a teoria simplesmente não existe.

Quando alguém referiu, lá nos comentários ao trompe-l’oeil, que há uma geração de ruptura na Escola do Porto (citando, se não me engano, os nomes de Nuno Grande, Pedro Gadanho ou, a-temporalmente, Nuno Portas) não se equivocou assim tanto. Só que quem o referiu se esqueceu de explicar que se essa ruptura existe, ela não se explica por um desejo, por uma ambição, ou por qualquer tipo de atitude revolucionário dos seus agentes (até por ser algo tautológico querer fazer uma revolução numa Escola cuja origem do pensamento é, por definição politica, revolucionária), mas simplesmente por serem os seus protagonistas exemplos de autores cujo teor disciplinar e as matérias de interesse serem inequivocamente e sem qualquer tipo de excepção mais abrangentes (não necessariamente mais profundas, apenas mais abrangentes) do que as matérias a que a FAUP se decide dedicar.
Não vale então a pena falar de rupturas, mas de simples desencontros. E se quiser nomear um exemplo, poderia usar o nome de Jacinto Rodrigues, cuja teor da sua formação e sua especificidade cultural em muito o limitaram na produção de outros sentidos dentro da academia em que ensinou.

Assim, aquilo que JMP refere como crise existencialista de alguns arquitectos ilhéus e lisboetas que foram para a Escol(inh)a do Porto, mas cuja “doutrina” passaram a recusar e a odiar (sic) resume-se a um simples fenómeno, muito comum até, que resulta da natural abertura social, politica e cultural que tivemos o privilégio de acompanhar; que (nos) fez divergir de interesses; tornando-nos eventualmente menos capazes do exercício puro do desenho (que vamos desprezando por vezes, valorizando outras), mas certamente mais abertos – ou pelo menos mais curiosos – em relação ao resto das coisas.
Diria que isso equivale a uma mudança, mas esteja JMP à vontade para lhe chamar de abastardamento.

Se há de facto alguma coisa que me faz certamente impressão naquilo que JMP chama de Escola do Porto (que não pode ser assim chamada) é exactamente essa falta de curiosidade pelo outro, e por outras coisas. É essa ortodoxia que faz com que ser de Lisboa ou das ilhas seja confundido como uma ameaça à suposta integridade de uma ideia de arquitectura cuja fragilidade é, sempre foi, imensa; e cuja origem da crise passe pela divergência entre a sua ideia de disciplina (contida, certa, inequívoca) e a cada vez mais abrangente cultura disciplinar.
Nota-se que não há nada de especialmente negativo em decretar (a tese, entenda-se, não é minha) a falência da Escola do Porto enquanto modelo de ensino (porque enquanto morada irá com certeza continuar a ser uma das melhores escolas de arquitectura nacionais). Na verdade não temos conhecimento de escola alguma de arquitectura que tenha condições de afirmar a eficácia da sua excepcionalidade por muito mais do que um bom punhado de anos. Simplesmente porque essa relevância, pontual, coincide quase sempre com um determinado momento de excepcional felicidade, em que se conjugam pessoas, professores e alunos, ideias, em condições únicas e irrepetíveis.
O eventual erro do Porto – como o está a ser o erro da AA, e como o foram os erros de todas essas escolas italianas – é querer eternizar paradigmas, relegando para segundo plano esse conjunto de fenómenos que mais cedo ou mais tarde se irão demonstrar da maior relevância para o desempenho das funções de uma academia.
Isso é, aliás, uma condição para qualquer actividade, quer seja uma escola de arquitectura ou um atelier.
No caso a que nos referimos anteriormente, a situação é em certo sentido análoga: o suposto salto-em-frente da Vodafone não mais é do que uma pirueta que não nos tira do sítio, e que é dada muito depois do tempo útil.

Algumas considerações finais: o facto de falar do trabalho de um atelier com 17 anos é particularmente irrelevante. Poderia ter apenas 17 meses, como 5 décadas. Aquilo que nos interessa por aqui é o trabalho de arquitectura. Procurei, enfim, não ser leviano; apresentando argumentos que não tem qualquer tipo de objectivo que não procurar compreender aquilo que tinha perante mim (neste caso a Vodafone); e – facto de não de somenos importância - partilha-lo.

Nota final: o que é caricatural nas coberturas das piscinas da Povoação não é propriamente o desígnio de continuidade com a natureza verdejante que circunda o edifício. Pese embora a tentativa de contextualização “paisagística” me ser de algum modo estranha, e a afastar (julgo) do uso de relva (ou lá o que era) na cobertura do Hotel de Lagos (cuja intenção, tipologia e funcionamento é totalmente diverso – ou pelo menos assim espero que seja entendido); aquilo que de facto o torna caricatural é que a “relva” usada na cobertura das piscinas não mais é, afinal, do que um daqueles tapetes artificiais; que mais cedo ou mais tarde (no Verão) irão continuar verdejante, independentemente do tom daquilo que o rodeia tomar a seu cargo.

Quanto a todo esse resto de coisas que generosamente foram aparecendo nos comentários (CDM e Breuer, os kispos e as vanguardas, gostar de perder concursos, Jesus e as religiões, and so on), teremos, enfim, todo o tempo e gosto para a elas nos irmos referindo.

31 comentários:

Francisco do Vale disse...

Acho que se falam demasiado em uma coisa que nunca existiu, Escola do Porto. Nunca existiu na realidade como tal... E creio que são muitos mais os "alheios" a Faup que tombam no erro de proferir uma inexistência. Aliás é um vicio de todo os não-faupeskos falarem da Faup a torto e a direito, do Porto a torto e a direito; quando o contrário não acontece nos mesmos moldes, desnecessários diga-se.

O que existiu, foram determinados momentos felizes de união, concentração de produção por parte de membros da Faup... que são tão só os melhor arquitectos do país. E alguns do planeta.

A Escola do Porto nunca existiu, como tal, isso é um mito criado por pessoas fora do contexto Porto. Ou se quiserem uma meia verdade.

Mas isso são circunstÂncias passadas, apenas.Actualmente e por enquanto que estudei na faup, não me lembro de falar de escola do porto como tal, não me lembro de ortodoxias, de caminhos pré-definidos, mas sim de um forte sentido crítico e uma pressão para que a exigência mínima fosse elevada, pois o território não se coaduna com o desleixo e a falta de rigor.

Se querem uma caracteristica da escola como ensino é essa mesmo... numa tentativa para eliminar o desleixo, tentar incutir antes de tudo o rigor na primeira etapa da apredizagem de um arquitecto - a faculdade.

Não se trata de cortar a criatividade aos alunos, nunca senti isso... trata-se sim, pelo contrário, de lhes dar fortes bases, para que isso possa surgir naturalmente, no momento certo, e com o suporte suficiente para que não se deixem cair nas fragilidades de um conceptualismo tão em voga e com resultados tão nefastos paras as paisagens.

Uma forte auto-crítica.

Sou formado pela Faup, e escolhi a Faup, não caí lá de paraquedas, por as mais variadas razões; tal como outros terão optado por estudar fora ou em outra qualquer faculdade com uma identidade mais vincada. Aliás essa é a grande mais valia do antigo ensino universitário a variedade.

Quando a Faup, não percebo em quê esta faculdade irrita tanto os outros; pois por muitos problemas internos que tenha, parece-me que continua a seguir um caminho de qualidade.

O que é sempre de enaltecer.

E reconsidere-se, devem existir pelo menos uns 30 cursos piores em Portugal, para criticar.

jraulcaires disse...

Precisamente, vale a pena falar das escolas que são interessantes..

Acho que o "post" diz muita coisa...

Voltarei...

jesus disse...

Vá lá deixem-se de academismos. Em vez de falarmos de uma escola do Porto porque não falar da escola Portuguesa? Acho que esse é que é o verdadeiro problema... Da FAUP saíram 10, 15 ou 20 óptimos arquitectos! Tudo bem! Mas entretanto também saíram 50, 100 ou 200 que são uma nulidade!

Francisco do Vale disse...

"20 óptimos arquitectos(...)50, 100 ou 200 que são uma nulidade!"... OMG!

EU vou mesmo é mudar de profissão, porque com futuros e actuais colegas de profissão estrábicos - aos milhares - isto vai descer a pique em breve!...

E com jeitinho será tudo culpa da faup... não das galecias, vascos da gama, católicas, fernandos pessoas, e mais blablabla

Ups... a faup só debita 80 alunos por ano?!... Mas, mas, então de onde vêm os outros?

jesus disse...

Caro Francisco, quanto a mim é mesmo esse o problema da faup, aliás dos faupenses! Quando se sentem "apertados" vestem logo o capote... Os meus números foram meramente a título exemplificativo. Há já agora, algumas das instituições particulares a que se refere tem nos seus grupos de docentes pessoas formadas pela FAUP! Pela Universidade de Coimbra e etc.

Francisco do Vale disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Francisco do Vale disse...

Não foi exemplificativo. Muito pelo contrário, foi sim, incorrecto e de uma linguagem mais própria para uma conversa na "tasca"...

O problema da arquitectura em portugal, é um pouco esse, (para além das políticas e dos lobbies - que sao coisas mais complexas e precisariam de uma outra análise) é o laxismo e a mediocridade.

A mediocridade a que os cursos de arquitectura chegaram, a falta de cultura dos seus formandos catalisada por um nível de exigência realmente baixíssimo.

Em Portugal debitam-se cerca de mil licenciados em arquitectura por ano... Tarefeiros e desenhadores encartados diga-se, licenciados, que por ironia do "destino" mais não fazem que descredebilizar a nossa área profissional, já por si só tão debilitada.

TÊm culpa?... não, no fim da linha não. Mas o facto é que os arquitectos hoje em dia não são levados a sério... Mas então por quê?... Provavelmente porque a maior não é capaz de uma auto-análise.

Dos trinta e... muitos... cursos de arquitectura existentes no nosso país, poucos são os que reunem condições aceitáveis para serem consideridos como tal. É preciso ter coragem para o dizer frontalmente. E não derivar para falsos problemas, sem o mínimo interesse.

Com isto não quero apelar a argumentos não-próprios, mas sim clarificar um ponto, principalmente aos que criticam a Faup cegamente -, é preciso que saibam que 80% - na minha opinião - dos cursos de arquitectura em portugal nunca deveriam ter sido abertos; pois não reúnem condições aceitáveis, quanto aos seus moldes, contextos e nem tão pouco ao que diz respeito a ter instalações dignas ( como bibliotecas decentes, mas isso pelos vistos pouco importa!).

E sim, refiro-me as galecias, vascos da gama, católicas, fernandos pessoas, lusiadas de famalicao, etc etc... Ah, mas têm docentes formados na Faup. E ?... Vamos passar a tarde a fazer silogismos com isso. Creio que o consegue fazer sozinho, e chegará facilmente a muitas deduções interessantes.

E talvez outras preocupantes...

Há uma falta de auto-crítica, que muitos cultivam como se fossem detentores de grandes verdades; aliás falsas verdades que mais não são que uma tendência actual: alhear-se do mundo exterior e ensimesmar-se. A culpa, essa, é sempre dos outros.



Então se esses "outros" mostrarem um determinado vínculo teórico, modus operandi associado a afinidades de pensamento de uma faculdade, e direi uma produção arquitectónica aceitável... São esses mesmos, os culpados! 



Parece-me que os que falam tanto em diversidade e criatividade são logo, irónicamente, os primeiros a contorcer-se perante um mesmo modo de fazer, de agir (localizado num determinado contexto próprio e que não aplica obrigações ou regras aos outros contextos)...



Uns fadados senhores (que aprendem uma lenga lenga nas suas faculdades, ideias feitas e contrafeitas) e andam por aí a bater contra as paredes, como se tivessem descoberto a causa e o efeito de um problema, que mais não é que um fait diver, que assola a arquitectura portuguesa...



Não se trata de estar apertado ou de capotes meu caro, não tamos aqui a falar de futebol ou a lavar loiça. Basta parar em qualquer ponto deste país e dar uma volta de 360º...

E tirar as conclusões.

O real problema é a incultura - maior parte das vezes auto-infligida -, o baixo nível da maioria dos alunos de arquitectura, e recém-arquitectos, que na realidade deviam - e acho que devem querer - ir para o mundo da pirotécnia.

Os primeiros por não verem o que se passa a sua frente, os segundos por não entenderem.

(o) arquitecto disse...

Concordo que vale a pena criticar as coisas potencialmente boas, as más não tem salvação.
Concordo que a fase da "escola" foi feliz no seu tempo de escola. Como antigo aluno concordo que me deu muito boas ferramentas, mas que ao longo do percurso profissional estas foram sendo afinadas e outras abolidas e alguns mestres foram assassinados.
Concordo que não há efectivamente uma linha de ruptura entendida verdadeiramente e conceptualmente como tal.
Acho que foi um instrumento de rigor, mas detesto ver repetições de modelos em contextos perfeitamente desadequados, assim como a aparente segurança de quem projecta as caixas e mais caixas, inconsequentemente como solução ideal.
Acho que têm de concordar que a sacralização da cadeira de projecto e a sua não contaminação pelas restantes disciplinas (incluindo construção que seria óbvio) ou a sobrevalorização do esquiço como ferramenta, são gestos infrutíferos (fico sempre com sérias duvidas da qualidade profissional quando vejo esquiços na abertura dos sites ou publicações).
É deprimente o modo como a FAUP se fecha academicamente ficando os trabalhos produzidos sem divulgação cientifica e nem sequer publica. A faculdade falha por completo o seu papel com o exterior.
Mais há para dizer, peço que não levem isto que escrevi à letra, são apenas alguns pontos, não todos e sem nenhum fio condutor.
O processo de distanciamento de qualquer escola é uma coisa positiva, e é positivo reflectir como se poderia potenciar a FAUP, na formação dos colegas arquitectos.

Dioniso disse...

Ainda sobre o “trompe l’oeil”, fizeste, e bem, algumas considerações ao atelier José Barbosa e Pedro Guimarães que enfatizam aquilo que apresentaste e que sustentam a perspectiva crítica sobre o edifício da Vodafone. Na verdade, “o facto de falar do trabalho de um atelier com 17 anos é particularmente irrelevante”, não é assim tão irrelevante porque havendo uma contextualização podemos sempre aprofundar métodos, aproximações e conceptualizações da disciplina e do caminho que a dupla fez, faz e pretende fazer. Foste muito claro:
“lá vão construído regularmente desde meados da década de 90, apresentando-nos, enfim, alguma homogeneidade na maneira como vão fazendo projectos (...) afinal em todos aquelas obras que lhe conhecemos há sempre uma ou outra coisa que os torna, por assim dizer, menos conseguidos: ou é um problema de escala, ou de proporção, ou de adequação. (...) Aquilo que “se revela na produção de Barbosa e Guimarães é a necessidade de identificação com a própria constância. Com o conhecido e com o experimentado. (...) o aparente virtuosismo (ou antes: tenacidade) dos seus autores não abre espaço a especiais delicadezas, muito menos a gestos de pura felicidade. Os projectos sabem-se antes mesmo de serem feitos, e as obras revelam-se sem que tenhamos necessidade de as percorrer. (...) essa ausência de risco vem tipificando a produção da dupla... (...) Se o edifício é, por si só, algo extravagante, mais surpreendente se torna o facto sabendo-lhe dos seus autores, até há bem pouco tempo minimalistas convictos”.
Depois de fazeres uma leitura transversal do trabalho do Barbosa & Guimarães, é sem grande surpresa que percebemos as motivações do edifício da Vodafone e que podemos estar agora aqui a discutir mais qualquer coisa do que plantas, cortes e alçados com mais ou menos conceito, mais ou menos experimentação.

Dioniso disse...

Sobre a Escola do Porto, identifico-me em absoluto com a tua análise e a citação explica uma certa decadência, digo eu, do paradigma revolucionário e vanguardista que outrora a dominou. Farto-me de esfolhear publicações nacionais e a sensação é sempre de um déjà vu, de uma teimosia fechada e enfadonha em procurar sempre nos mesmos modelos respostas para o projecto. Habitar Portugal é um sinónimo da crise... O Souto Moura, por exemplo, depois das casas - corredor com armário e suite ao fundo, sala e cozinha no lado oposto – decide experimentar uma Casa do Cinema ou mais recentemente um exercício iconoclasta e um bocado naif de virar uma casa ao contrário. Ele próprio confessava algum cansaço dessa sua arquitectura não ter surpresas e ser uma receita continuamente repetida. Depois há oxigénio no Estádio de Braga e na Casa das Histórias... No entanto, sobre a obra que ainda pouco se conhece, podemos ver propostas mais fortes pela escala (http://www.lt-studios.com/2/28/Hospital-De-Todos-Os-Santos) e testados noutras condições em habitação (http://www.lt-studios.com/2/29/Concurso-Edificio-Sanjotec), a limpeza dos planos brancos (http://www.lt-studios.com/2/46/Polo-Serralves-II) num discurso análogo a Carrilho da Graça, que garantem um inevitável regresso ao passado e ao conforto do testado (ainda que no Hospital a dificuldade do projecto seja extrema).

A situação da AA parece-me algo diferente, desde logo pela passagem de um painel de grande qualidade de juris, professores e conferencistas e pela grande abertura a novos métodos e modelos de estruturação de desenho. O problema está na utilização dessas ferramentas que se tornaram muito mais numa procura de um “fashion style” ou fetiche estético do que num produto de um raciocínio diferenciado e ambicioso. Nesse sentido, a escola peca não por uma ortodoxia e falta de abertura mas exactamente pela incapacidade e de controlar e sistematizar o discurso por trás dessas aparentes inovações. Jesse Reiser e Nanako Umemoto em “Atlas of Novel Tectonics”, apontam algumas ideias interessantes para continuar a percorrer um caminho plural, diferenciado e sobretudo mais abrangente e inovador levantando novas possibilidades assim como apontar os “Common Errors to Avoid”...

alma disse...

Aqui está uma excelente foto :)
Nada como umas boas costas... :)))para ilustrar uma vista panorâmica sobre a casa
do Raymond Loewy:)de alguém que não precisou de uma escola para ser fora de série :)))
Vamos é todos fumar um cigarro Lucky strike :))em Paz :)))


FRANCISCO DO VALE o que diz é muito importante:
"Dos trinta e... muitos... cursos de arquitectura existentes no nosso país, poucos são os que reunem condições aceitáveis para serem considerados como tal. É preciso ter coragem para o dizer frontalmente. E não derivar para falsos problemas, sem o mínimo interesse".

Dioniso disse...

Cara Alma,

Mas os cursos são ou não acreditados pela Ordem? Se são, a responsabilidade também é nossa. Se não são, não se inscrevem na Ordem logo não podem assinar projectos. (Ok, há outras vias, mas isso sempre houve). Isto sim, parece-me uma coisa com ainda mais interesse...

jesus disse...

"...descredibilizar a nossa área profissional, já por si só tão debilitada." E de quem é a culpa? Não será dos próprios Arquitectos?

alma disse...

SIM!
é culpa de todos os arquitectos que conhecem o que é o mercado de trabalho e que nada dizem...:)
é crime deixar jovens iniciarem se em cursos que não vão ter a menor chance profissional !

jraulcaires disse...

Cara alma:

Têm sempre chance fazendo "dumping" nos honorários, aceitando situações indignas como os estágios não remunerados e acabando a fazer o que todos vemos por aí... - garbage in, garbadge out...

O francisco, também tem razaão quando diz que a questão não se circunscreve apenas à má formação da maior parte dos arquitectos..

Porque, deficiencias de formação, temos uma vida inteira para corrigi-las...

Lutar com um sistema sistematico que não se renova, que faz "dumping" em relação a tudco quanto é inovador, etc...

Nos nossos dias, assistimos, sistemáticamente a uma emigração dos jovens, que são, precisamente os formados pelas universidades que são consideradas "boas".

este é o rosto da "classe dirigente".

Depois, há altenativas, mas isso é para descobrir...

jraulcaires disse...

Mas também, a verdade é que começamos a discutir projectos, depois escolas, depois a conversa já extrvcasou e já estamos a discutir as difíceis condições, em, que, no presente, se exerce a profissão.

Talvez porque esteja tudo cruzado.

Sugeria um regresso às bases..

JPMJPFJFP aka JIM disse...

Não sei se é um regresso às bases, é extemporâneo mas foi o que a disponibilidade permitiu...

Começo por dizer que, e ao contrário do que foi afirmado em comentários anteriores, a Escola do Porto existiu, ponto.

E não partilho (nem compreendo), que, no final, aquilo a que mais imediatamente os arquitectos portugueses (conscientes) associem à Escola do Porto sejam o Souto Moura e as “caixas brancas”. Sobretudo se estes cursaram na mesma.
As várias “Escolas do Porto” que deram lugar a tantos equívocos traduzem-se simplesmente nos vários momentos de revisão crítica que a Escola sofreu ao longo dos anos.
O que, mesmo a propósito, só vem contrariar a própria visão académica, hermética e narcisista que vem sendo aqui alimentada.
Adianto ainda que, precisamente por me lá ter formado (que formei, e de, embora de menor relevância, ter frequentado outras faculdades/ escolas antes e depois desse período) consigo facilmente apontar-lhe várias lacunas no método de ensino (sim, a arquitectura ensina-se). Considero, contudo, que lhe deve ser feita a respectiva justiça enquanto referência dentro da melhor arquitectura que se fez por cá e desmistificar esses preconceitos conceptuais, formais e extremamente redutores que se vieram a criar. Dir-me-ão se estou a “vestir o capote”.
Se, por um lado, é verdade que a Escola se “encostou” (ou melhor, nunca chegou a “desencostar-se”) das reminiscências do Movimento Moderno, já não é tão verdade que não tenha sabido adaptar-se às diversas realidades com que foi sendo confrontada.
Lembro o período do pós-guerra em que surgiu, o ter sabido contornar ou ultrapassar as linguagens próprias de um regime em que floresceu, o ter estado atenta e introduzido aquele espírito positivista do Modernismo (Viana de Lima, Távora), o do respeito pela cidade – a Escola do Porto ensina muita Cidade, convém não esquecer – e pela sociedade, sempre com um forte sentido de iniciativa.
Também é verdade que, com o pós-25 de Abril e com o pós-modernismo, a Escola perdeu algum do seu fulgor, qual síndrome de James Bond sem a sua Guerra Fria e “colou-se” aos figurões de então: Siza e Souto.
Mas não creio que com isso tenha perdido capacidade crítica – o texto que apresentaste do Alves Costa confirma-o. E ainda bem: a acontecer, passaria de Escola a Instituto, escola técnica, ou coisa do género.
Também deixas transparecer que ali não há lugar para a “fenomenologia”. Quanto a isto, dois aspectos:
- dá a entender que, pelo que escreves, a condição fenomenológica só pode passar por uma linguagem menos racional, mais abstracta, mais “orgânica” ou “whatever”
-concordo com o método da (agora) FAUP onde, nos primeiros anos do curso, e para que mais tarde se possa dominar a “condição” fenomenológica e saber com quantas linhas se cose, se tenha primeiro que passar pelo “crivo” de alguma responsabilidade e contenção no traço, o que poderás (ou poderão) traduzir nessa aproximação aos Heróis da Escola. Contudo, e se fores a uma Anuária dos dias que correm, verás que os projectos dos últimos anos se apresentam bastante diversificados e com abordagens completamente distintas desses arquétipos-a-la-Escola-do-Porto.
Considero a importância do desenho (a sensibilidade do lugar menos, porque ainda assim, tão-pouco senti por lá essa obsessão pelo “genius locci”) que referiste, a ferramenta metodológica utilizada e defendo-a da forma como já a mencionaste noutros post. Não creio que exista uma linha de pensamento reaccionário e não concordo com as expressões “condição ideológica”,”posição ideológica” que utilizas e, muito humildemente, desconheço a cultura de atelier que mencionas. A haver, a teoria (que dizes já nem subsistir) que reconheço à Escola é a do entendimento da História portuguesa e a sua reinterpretação para um presente e futuro enquanto processo de construção. Da qual nem sequer discordo.

JIM disse...

Para finalizar, e para podermos situar a (suposta) existência da Escola do Porto, não me consigo lembrar de melhores exemplos e testemunhos do que aqueles que deste: todos os mencionados no post do Toys (AS* inclusive). Porque, a meu ver, são tantas as excepções actuais de ateliers formados a partir de arquitectos formados na Escola e que dizes se terem distanciado das linhas de pensamento da mesma, que acabam por se tornar na regra. Ou seja, a Escola do Porto continua a existir e sabe fornecer as ferramentas suficientes e necessárias para se criarem métodos operativos autónomos, auto-críticos e disciplinarmente abrangentes.

Por esta altura já nem me apetece escrever mais. Dos Barbosa & Guimarães, só para acerto de pontos, soube há pouco que de facto utilizaram relva sintética na cobertura mas que também só a aplicaram (a ter sido eles) por não haver possibilidade da verdadeira intenção.
Evoco a citação “Se uma e outra obras se confundem com coisas que não se deviam parecer, isso dever-se-á sobretudo àquilo que nos limita: como saberá, fazemos apenas aquilo que podemos, poucas vezes aquilo que queremos, e raramente aquilo que realmente admiramos”.

alma disse...

colocar Relva de plástico nos Açores...:)))
é quase tão insólito como uma palmeira de plástico que existe numa rotunda em Varsóvia :)
ah,ah,ah,ah,ah!
sorry
não consegui conter o riso !

Francisco do Vale disse...

"E não partilho (nem compreendo), que, no final, aquilo a que mais imediatamente os arquitectos portugueses (conscientes) associem à Escola do Porto sejam o Souto Moura e as “caixas brancas”. Sobretudo se estes cursaram na mesma. "...

Concordo de todo!... Aliás isto é um facto que vem ao encontro da minha ideia, o de existir uma mediocridade, uma incultura - maior parte das vezes auto-infligida -, que leva a um baixo nível de formação dos alunos de arquitectura, e recém-arquitectos.

O que sucede posteriormente é trocarem alhos por bogalhos, isto é, analisarem obras tão ricas desajustadamente, e superficialmente, retendo o ilusoriamente essencial nas suas pós -produções. Isto tem sido um dos factores mais importantes para a degeneração da nossa produção arquitectónica.

Paulo Varela Gomes chama-lhe, e bem, a "soutomorização da paisagem"... o que em nada é patrocinado pela faup, nem tão pouco pelo próprio ESM; mas sim, a meu ver, por uma panóplia de cursos deficientes que formam tarefeiros sem análise critica.

Veja-se como tão facilmente se encontra jovens arquitectos a criticar de boca cheia a obra do siza e do souto... Sem que a conheçam realmente! Há quem diga mesmo que o souto mouta faz sempre a mesma coisa! E que todas as obras do siza são brancas e sem variedade de materiais!... Isto só para citar duas palermices que estão em voga !!!

Este fenómeno das caixas e caixinhas, surge aos meus olhos quase como uma "casa portuguesa revisitada", nos moldes de uma falsa contemporaneidade.... a degeneração.

Mas não nos enganemos tb, não é uma situação exclusivamente portuguesa, apesar de por cá a situação ser mais flagrante.

Ps: Continuo a pensar que a Escola do Porto é um mito, nos moldes que a "pintam"... Creio que M. Mendes tem textos que melhor explicarão o que quero dizer.

O que existiu, e sim ainda existe, é uma tentativa de elaboração de um método, mas não a transmissão ou defesa de um código formal.

Anónimo disse...

con dos cojones...
http://www.edgargonzalez.com/2010/01/28/oi-vodafone/

y nadie sabe quien és A.S* ...

Quando as Catedrais eram Brancas disse...

Obrigado pelos contributos. Em relação a eles algumas breves notas. Pessoais.
Achando que há de facto mérito (nesse tal métido de ensino) na Escola do Porto de Francisco do Vale; julgo ainda assim ser precipitada a conclusão de que ela é responsável pela educação dos melhores arquitectos do país, e alguns do planeta. Para se chegar a tal conclusão seria necessário definir com mais rigor tais critérios; que, a existirem, passariam sempre (acho) por uma ideia de abertura, ou de flexibilidade que, creio, não é propriamente apanágio dessa cultura disciplinar que pelo Porto se ensina.
Por outro lado parece ser um erro essa ideia (de Francisco) que acredita que deveriam fechar muitos desses cursos de arquitectura que por aí se vão arrastando.
Não deixando de ser verdade que muitos desses cursos se limitam a arrastar-se indolentemente, ainda assim parece que a sua existencia não anula do bom trabalho das melhores escolas, e vai contribuindo (como pode) para a formação de mais uns quantos autores.
Creio, aqui, que a lógica de pensamento poderia ser distinta (embora vagamente neo-liberal, eu sei): não havendo espaço para outras escolas anula-se a possibilidade de se inventar outras coisas que não as matérias e os modelos de referência toldados pelo quotidiano académico (muito fechado, em certo sentido viciado, como aliás refere O Arquitecto) das duas ou três verdadeiras escolas de arquitectura do país. Dizendo que o interesse do ensino da arquitectura passará, daqui por diante, em instituições mais pequenas, com um campo de acção mais restrito, mas capazes de evoluir em sentidos distinto (estou a lembrar-me das universidades - privadas - americanas, e também dessas "pequenas" academias europeias como o Berlage, a AA, a Elisava, a Bartlett ou Mendrisio).
Além disso não me parece ser crime "deixar" jovens formarem-se em cursos sem saída: cada um irá encontrar o seu próprio percurso; e, em limite, não fará mal nenhum, nem a ninguém, dar com um taxista formado em arquitectura.

Relativente ao que JMP (ou lá o quem é): evidentemente que não partilhamos a ideia do branco ser representativo da Ideia da Escola do Porto. O único problema aqui parece estar em conseguir convence-los a todos esses que praticam a arte da redução, tomando-lhes o título.
Não é que a condição fenomenológica (como refere) contradiga qualquer tipo de opção formal. E no entanto parece-me que a solução se repete vezes demais para que se possa chamar-lhe uma atitude (digamos assim) ampla.
Da relva de plástico dispenso-me de qualquer troca de argumentos: já não é uma questão do querer ou do poder; mas uma simples patétice.

Por fim, esse nosso colega castelhano dos cojones: não haverá por aí nada mais interessante para dizer?

Quando as Catedrais eram Brancas disse...

ps: ausência sentida, a desse prolífero, nem sempre despropositado, comentador residente

Francisco do Vale disse...

Concordo. É vero e da maior importância, a diversidade... só que o problema é outro, e mais simples, é que galecias, vascos da gama, católicas, fernandos pessoas, lusiadas de famalicao - cursos à portuguesa -, não são nem o Berlage Institute, nem a Accademia de Mendrisio, etc etc... Ouça eu já contactei com alunos destas instituições portuguesas, alunos portugueses -amigos meus- que não sabiam o que era o bonjour tristesse do siza, e não estou a falar de alunos do 1 ano. E outros que nunca se tinham dado ao trabalho de visitar Serralves, ou ver as Piscinas de Leça!... Mas de 3d percebiam.

Já foi a biblioteca da lusiada de famalicão?... Depressa perceberá o que digo. Sabe que instalações usam os alunos da Lusiada do Porto, quando precisam realmente de sabedoria impressa: a biblioteca da Faup! Arvore inclusive... por quê?... eles não têm condições próprias, por isso usam os recursos dos cursos públicos.

Sabia que na lusiada de famalicao se pode tirar o curso a noite?! Por muito respeito que tenha pelos trabalhadores estudantes, há coisas que não batem certo! Falta pouco para em Portugal se tirar o curso de arquitectura por correspondência. Falta mesmo pouco!

Ps: Eu não disse que a faup era responsável pela educação dos melhores arquitectos do país, e alguns do planeta.

Muito pelo contrário, até porque a Faup não educa ninguém, no máximo instruiu!...

Disse sim, entenda-se - isto, no seguimento do tema Escola do Porto -, que na, e da, faup, por circunstâncias felizes da história se reuniram/sairam um vasto grupo de arquitectos... que produziram uma arquitectura de qualidade e com muitos pontos de contacto, sendo que são claramente do melhor que existiu em Portugal.

A isto se tem chamado escola do Porto, coisa que eu não concordo, pois trata-se da partilha de um método, mas não a transmissão ou defesa de um código formal.

Francisco do Vale disse...

ps2: não sou contra a abertura de cursos e a sua variedade e diversidade... acho que o estado deve proporcionar as condições para qualquer cidadão possa dar asas ao seu desejo... de se formar na área do seu agrado... Mesmo que isso implique não ter colocação no mercado a posteriori. Essa responsabilidade já é partilhada, e os alunos devem sabê-lo.

Contudo não podemos tolerar a mediocridade dos cursos. Que existe realmente.

AM disse...

é pá, é que não tenho nada a dizer nem a acrescentar
essa conversa das escolas não tem grande interesse
eu gosto é de discutir as obras em... "concreto"
as escolas, é da natureza das escolas, produzem clones
a tua posta aí está, se necessário ainda fosse, para (mais uma vez) o demonstrar
quando a casa do Lugar da Costa em Guimarães do Gigante passou no arquitectarte estive para escrever uma posta... mas para quê...
o mais grave de tudo não são as escolas, nem mesmo as más escolas, de arquitectura (o ensino vale o que vale...)
a (bonjour) tristeza é patrocionada pela Mapei...
os clones são acarinhados pela ordem (das coisas)
os burgueses permanecem tranquilos e satisfeitos
as esposas (agradecidas...) lubrificadas à visão do novo chalet design na revista e/ou na televisão...
o que é que estavas à espera? o que é que TU desejas?...
arquitectura?... um bocadinho de arquitectura nos dai hoje...
antes um absurdo!
como diz um "colega" nosso, da blogo: good evening e good night
tristesse

AM disse...

patrocinada

AM disse...

gostei da frase:
"o suposto salto-em-frente da Vodafone não mais é do que uma pirueta que não nos tira do sítio"
o resto não são piruetas, são espirais
longas :)

(o) arquitecto disse...

Já que se fala em arquitectos, obras, risco e Arquitectura (com A grande), de relevância, de piruetas, e o contributo para a Arquitectura e para a escola do Porto(com A grande) do "Edifício C - Aulas, Anfiteatro e Biblioteca do Novo Campus de Angra do Heroísmo" do Jorge Figueira?
Com a sua "expressiva" sobre auditório vermelho com vão rasgado e tudo com "belas" proporções? E esta, hem?

(o) arquitecto disse...

"expressiva" consola sobre auditório

Quando as Catedrais eram Brancas disse...

Da expressiva consola de Angra, esperamos um dia lá chegar. Aceitam-se, claro, contributos meu caro (o) arquitecto.

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