Há uns tempos atrás cansámo-nos de fazer projectos. Quer dizer: não é que nos tenhamos de facto cansado de fazer projectos: aparentemente fazer projectos não cansa ninguém. Digamos antes: tentámos ser, por uma vez, clientes.
Arranjámos uns dinheiros aqui e ali, um ou outro financiamento. Depois angariámos alguns potenciais clientes, que tinham em mão uns quantos desejos, uns quantos programas, alguns terrenos disponíveis. E propusemos oferecer-lhes seis projectos.
Depois: depois, como qualquer cliente, contratámos seis ateliers para os fazer, aos projectos.
Desta malograda tentativa pouco ou nada resta: os seis projectos foram feitos, expostos, e oferecidos. Alguns deles falharam redondamente os objectivos. Alguns, melhores, não suscitaram interesse de ninguém. Um ou outro ainda andaram de cá para lá e de lá para cá, mas foram sendo adiados até terem ficado esquecidos numa gaveta qualquer.
Percebemos, depois, os nossos próprios erros. Erros típicos de cliente. Que são erros de casting, alguns. Ou de comunicação. De concentração. E de pura incompreensão.
Aparentemente o erro não está só do lado de quem faz as coisas, mas também de quem constroi expectativas baseadas nas suas próprias limitações. E esse é o maior erro que se pode fazer enquanto cliente.
Vem isto a propósito - se é que há algum propósito nisso - do pequeno arrufo causado pela nomeação de Marcos Cruz para director do curso da Bartlett: uns quantos alegres por verem um português em tão afamado cargo; outros por não encontrarem nada que explique a validade do acto.
Na verdade pouco importam tais arrufos. Porque se é um facto que para lá da sua produção académica pouco se conhece da obra de Marcos Cruz, também não deixa de ser verdade que não conheço nenhuma escola de arquitectura cuja sobrevivência dependa da qualidade das obras de quem a dirige. Antes pelo contrário; bastando-nos apenas recordar a Cooper Union do Hejduk.
Ia dizendo: um desses seis arquitectos que um dia contratámos foi exactamente Marcos Cruz. Pode, claro, ter sido um erro de casting. Ou um problema de comunicação. De concentração. Mas, para o caso, julgo que o problema, na altura, se deveu à pura incompreensão.
Feira Internacional dos Açores, Ponta Delgada, 2005, Marcos&Marjan
Sendo quase sempre a incompreensão um facto desagradável; estaria no entanto inclinado para afirmar que ainda assim é sempre bom cruzarmo-nos com gentes que pouco ou nada têm em comum connosco, mas cujo sentido de desejo é fascinante.
À L'atalante voltaremos brevemente, nem que seja para desenterrar os outros cinco trabalhos.
ps. Para que não nos acusem de desfocagem histórica, teremos que ser mais precisos, e afirmar que Hejduk tem obra. Pouca, é certo. E excelente.
8 comentários:
ora :)
quem arrufa são os pombos :)
ODP não faz a mínima se a nomeação se justifica (ou não), nem está muito interessado nisso
isso é lá com eles... com quem o nomeou, com quem lá estuda
o que não faltam (tenho mais que fazer...) são escolas de arquitectura e (Herr) direktores...
a única coisa que, enfim, aborrece, é a "construção" de "reputações" (boas) com base, ou melhor, sem bases e a conversa do coitadinho boicotado pelos "maus"... os do "costume"... pois...
tanto quanto me lembro o Dr. Cruz até já construiu, com alguma "proeminência"... em Lisboa...
aparece com alguma frequência... queixam-se exactamente do quê
o desejo do Dr. Cruz não titila as tetas do ODP, mas enfim, confesso, são (des) gostos
e não te metas comigo :) que eu até estou a acabar de ler o Architecture's Desire doK. Michael Hays sobre, entre outros, o Hejduk
o Hejduk desenhava mal prá chu-chu
(desculpa, é do acordo...) :)
e isso é o que interessa, não é!? :)
já agora...
pode discutir-se a lula estorricada no vulcão dos capelinho como (sendo) "arquitectura" ou, como a postas tal escreveu um tal de "houghtonbudd" não passa tudo de b**** (borboletas, evidentemente) para puxar o lustro ao portofólio!!!???...
O Hejduk desenhava mal?
Ou estás apenas a exercitar esse teu exercício favorito de te meteres com as pessoas? Ou, neste caso, grave com o meu last action hero privativo?
Em relação à Lula, pode ser que sim: que o objectivo tenha sido apenas o portfolio. Mas no entanto foi uma (boa) oportunidade desperdiçada pelo seu autor.
oh :) o Tiago ainda não apareceu por aqui para defender a honra da lula :)))
ainda não percebi uma coisa...
a oportunidade era uma (boa) oportunidade, uma oprtunidade por assim dizer... "real", e o Dr. Cruz estragou tudo a brincar aos portfólios, é (foi) isso!? :)
Bom. Dir-te-ia apenas (para não estragar a surpresa) que de facto as oportunidades eram reais; algumas delas bastante mesmo.
Depoios de Hejduk lá iremos.
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