Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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De novo o novo ou a monótona surpresa

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Estando para aqui a folher um livrinho de Gonçalo M. Tavares chamado de Breves Notas Sobre as Ligações, passo o olhar sobre uma frase que diz qualquer coisa como isto: o Novo é uma interrupção (...) depois de um prolongado silêncio toda a palavra é nova. Logo na página a seguir - na 39, mais precisamente - uma outra frase diz assim: esta coisa que é sempre igual varia muito.


Não é que existência destas duas frases no livro de Gonçalo M. Tavares nos permita concluir sobre o desejo do autor em nos fazer confrontá-las uma à outra; até porque as mesmas surgem registadas em textos separados, aparentemente distintos. E no entanto ambas em mim se encadeiam na perfeição; sobretudo se tivermos em conta um argumento que me foi recentemente apresentado - sem eu ter sido capaz de rebatê-lo atempadamente, entenda-se - em defesa de uma determinado ponto de vista da qualificação do acto arquitectónico: a novidade.

Diziam-me, convictamente, que o interesse da ideia arquitectónica reside exactamente no novo. Quer dizer: na capacidade de inventar qualquer coisa, ou (mais humildemente) na habilidade de organizar as coisas que existem segundo leis que até esse momento não nos tinham sido dadas a ver.
Não deixando de concordar com tal proposição - sobretudo tendo em conta o seu lado apetecível, semelhante a esse desejo vagamente erótico próprio de um tardo-adolescencente do qual todos nós não nos conseguimos descolar -, não lhe encontro hipótese alguma de ela vingar no que diz respeito à subtileza.
É que - digamos assim - a excitação só é capaz de sobreviver nos antípodas da sensibilidade que emerge da repetição. Ou antes: a natural brutalidade da busca pelo novo anula qualquer hipótese da prestar valor à delicadeza. Simplesmente porque uma vai num sentido contrário ao da outra.

Tratando-se evidentemente da defesa de uma ideia que tem origem num monógamo, dir-se-ia que a tendência pessoal em validar um qualquer fenómeno arquitectónico passa exactamente por aí: pela monotonia. Mas também pelo desejo que ela possibilite a expressão da surpresa. Coisa que não é fácil.


4 comentários:

AM disse...

rever o LOOS

Anónimo disse...

Pois, Pedro, dada a tua curiosa sensibilidade à questão, que também ela é perfeitamente aceitável, não me resta senão oferecer-te uma frase do John Cage - que, afinal, até era dado ao minimal repetitivo e que, para este propósito, até ombreia bem com o Beckett: "I can't understand why people are frightened of new ideas. I'm frightened of the old ones."

AM disse...

medo das ideias "velhas"?
e as ideias têm lá idade...
ai que o Beckett era um mariquinhas com medo das ideias
(antes uma ideia feita que ideia nenhuma!)

(the) architect disse...

Normalmente quem apela e defende a novidade nunca a traz (e esse apelo soa sempre a objectivos comerciais e de destaque pessoal, quais vendedores de banha de cobra)

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