Exasperante, é o que é, esta selecção de obras que irá representar portugal na 7ª Bienal Ibero-Americana de Arquitectura.
Não é que não tivéssemos já desconfiado que a coisa não iria correr assim tão bem. Mas é que com essa lista corremos grande risco das obras nacionais nem sequer virem a ser votadas pelo nosso representante do jurado da BIAU, quanto mais toda aquela outra gente - coisa que, a acontecer, terá pelo menos a vantagem de dispensar algum embaraço aquando da inauguração da Exposição Panorama Ibero-Americano.
À primeira vista dir-se-ia que a responsabilidade de tão inócua escolha pertence por inteiro ao delegado nacional. Ele que outorgou a decisão de enviar tal embaixada à Colombia. Afinal é da responsabilidade de José Adrião pôr de fora da selecção uma ou duas ou três obras (auto-propostas pelos seus autores) com alguma dimensão arquitectónica, optando por outras que, independentemente das suas eventuais qualidades, ficam mesmo muito longe do "carácter excepcional (no panorama nacional e internacional)", dos "projectos tese" (sic), ou mesmo de especímenes "onde se verifique uma metodologia que evidencie uma clara investigação disciplinar." Como também o é o pretexto (teórico?) que explica a escolha de uma das obras: "uma estratégia delineada (que) permite resolver, para além de questões topográficas, os diferentes acessos a partir da envolvente e promove(r) uma relação franca do utente com o novo equipamento através de um percurso pedonal que atravessa e expõe o edifício à comunidade"; como se arquitectura não fosse sempre assim.
E no entanto, comparando-se a lista de projectos propostos pelo autores nacionais com a lista de Adrião, cruzando-as uma e outra com o tema geral da VII BIAU (qualquer coisa como: uma oportunidade par reflectir sobre a meneira de habitar e transformar o território onde a diversidade de agentes e o intercâmbio de valores constituam a base de conhecimento para conseguir porpostas urbanas que eliminem factores de exclusão) somos obrigados a aceitar que o trabalho do delegado português - tirando um ou outro caso de claro equívoco ou empenho pessoal - não poderia ter sido feito de outra maneira.
Podemos então concluir que a culpa da paupérrima representação portuguesa em Medellín cabe em primeiro lugar (em segundo, terceiro e quarto também) ao evidente desprezo com que todos aqueles que pensam, produzem e controem arquitectura em Portugal tratam a cultura arquitectónica nacional. Não participar, não propôr, não querer discutir nem comparar; equivale ao mais profundo desprezo por tudo o que não seja a vidinha de cada um.
Temos, de facto, aquilo que merecemos. Neste caso, uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma.
18 comentários:
é o marasmo (e as maroscas) da matrioskas cooperativas
prefiro os clubes de trabalhadores das cercanias de vladivastok (?) conforme posta anterior :)
Um dos problemas da Arquitectura em Portugal, é que toda a crítica feita por Arquitectos "praticantes" cai no saco da dor de cotovelo.
A qualidade dos projectos escolhidos é sempre discutível, agora o carácter excepcional das obras apresentadas é que realmente,salvo talvez uma ou duas excepções, não estou a ver.
Enfim...
uh, directa ao pedro? dá que pensar realmente, se lá constasse uma casa do tractor não teriamos posta às tantas. mas, eu voto no enfim também.
Enfim: há qualquer coisa de estranho nos comentários de FLF, de Ason, e também de um outro que entretanto desapareceu. Pode ser que sim: que não me tenha feito compreender. Ora, a ideia não era assim tanto pôr em causa qualquer tipo de escolha, mas antes a (fraca) qualidade dos projectos propostos a "concurso", que de algum modo não é coincidente com a produção nacional no último bienio, pelo que me foi dado a ver no HP, e no Yearbook.
Quer isso dizer que se lá constasse, por exemplo, a Casa do Tractor, isso quereria dizer que o a.s* se tinha proposto a concurso; coisa que não aconteceu. Tendo, no caso a.s*, algumas razões de monta que explicam a ausência de proposta vindas daí; observa-se de facto a falta de adesão de autores à BIAU, coisa em tudo lamentável. Só isso.
Precisamente, decidi "desaparecer" porque achei que o meu comentário era um pouco irreflectido.
Caro Pedro,
Perante estas "desgraças" não deixo de achar piada às arquitecturas e aos arquitectos colocados ao nível da modelo que agora faz uma perninha na novela das 21 e trinta?
E a profissional "vidinha de cada um" não poderá passar longe das bienais, revistas promocionais e outras coisas tais?
Acho que a arquitectura é em tudo mural e em nada moral!
Lindo, o teu Blog
RPinto
Caro RPinto,
A questão não é essa. É óbvio que cada um faz aquilo que bem entende e não necessitade de participar ou dar a conhecer o seu trabalho. Mas convenhamos que as coisas só evoluem (mesmo no percurso individual) com partilha, discussão e confronto de ideias. A arquitectura sem isso perde a sua relevância... Não creio que se cresça (permita-me esta expressão) fechado no escritório a olhar maravilhado para a sua própria obra.
O que falta é esta vontade de partilha para dinamizar a discussão sobre a arquitectura em Portugal e evitar uma apatia que apenas procura repetição de modelos testados e que pouco acrescentam ao nosso património arquitectónico e consequentemente riqueza intelectual.
Mas também é verdade que hoje em dia qualquer jovem (muito jovem) arquitecto tem um site com trabalhos académicos e meia dúzia de concursos numa clara vontade de afirmar um discurso que na maioria das vezes não tem qualquer consistência. E isso também me parece lamentável; esta necessidade de ter à força um lugar no mundo para dizer qualquer coisa... Às vezes, senão mesmo na maioria, chega a ser desesperante a falta de humildade... basta ler os currículos. Tem que se ser qualquer coisa à pressão, porque o importante é ser ou parecer que se é.
Ora bem Dionísio: é exactamente aí onde queremos chegar: o modo, algo perverso, com que se olham para as publicações e para os outros meios de divulgação; que deveriam ser menos vistos como trampolins (que, já agora, não são) e mais como forúns de debate. Lá iremos.
não percebo a bizantinisse da questão
é claro que as revistas e os outros meios de divulgação TAMBÉM são "trampolins"
porque é que não haveriam de ser?
O FLW e outros foram mestres na arte do trampolin :) (desculpem, não resisti)
foruns de debate quase não existem em lado nenhum
(alguns bons blogues em língua inglesa têm meia dúzia de comentários por posta)
o meio - mesmo o "internacional" - é pequeno
o archidose - que é banal - recebe milhares de visitas e quase nenhum comentário
o Catedrais aumentou as visitas, passou a receber mais comentários, depois dos link's no JA?
a verdade é que há o quê, 100, 200 pessoas que estão interessadas em "pensar" a arquitectura
o resto faz pela vida
e pula, muito
Não acho nada mal que as publicações sejam trampolins, muito pelo contrário. Para se conhecer autores e obras desconhecidas temos que começar por algum lado. Aliás, a história não é nova, basta recordar a Beatriz Colomina e a sua investigação sobre a grande aproximação de Corbusier à comunicação em geral (http://www.amazon.com/Privacy-Publicity-Modern-Architecture-Media/dp/0262531399/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1271278725&sr=8-1) .
Em todo o caso, e para não me desviar do essencial, a única coisa que critico com convicção é a emergência de pseudo-discursos que tentam dar/passar imagens arrojadas de um pensamento que geralmente peca por fragilidades básicas. Irrita-me ler currículos e mensagens da prática de alguns gabinetes de jovens arquitectos. É uma verdadeira debanda egocêntrica que não prescinde da teimosia de marcar a toda a força uma existência. E geralmente o resultado é sempre o mesmo, menos discussão e mais proliferação de alguma coisa que acaba por ser absolutamente nada.
completamente de acordo (embora dispense a colomina)
tentei postar sobre isso na minha posta que cita o texto do capela sobre os arquitectos anónimos
o mais engraçado é que o valor da obra dispensa bem toda aquela verborreia pseudo-intelectual do discurso das "novidades" e das coisas supostamente muito do seu (deles) tempo...
No decorrer desta discussão, veio-me a brilhante ideia de, doravante, me passar a chamar "marmota".
apesar de tender mais para ser tipo castor, etc..
gosto muito de ter os "media", etc, de ter amplos forus de discussão e publicação de projectos, ideias, etc...
Por toda a sorte de razões, porque vemos tudo o que se passa, porque temos acesso a tudo e mais alguma coisa, porque até os putos que andam na escola podem publicar os portfólios e achar que isso faz alguma diferença...
Qual é o probelema?
E qual éd o problema de não ter sido escolhido para uma @§@€££{ representação de uma suposta arquitetura (What so ever), não sei onde, nem para quê, etc...
Por acaso, até apaguei o meu comentário prévio por considerar que issso não era o cerne da questão.
Agora, é assim; eu vi a lista de projectos - eventualmente deveriam ter existido mais candidatos, mas não os houve. Já agora, aproveito para dizer, que aparte as pessoas conhecidas ou que desejam ser conhecidas, por acaso até existem pessoas a desenvolver muito trabalho, ou trabalho interessante e que se estão positivamente a borrifar no que diz respeito à divulgação do seu trbalho.
Isso, eventualmete, até pode ser considerado como desinteresse ou alguma falta de vontade em promover a Arquitectura.
Mas não sei. Se calhar é algum cepticismo. Ou mais que fazer - e até há pessoas, já conheci algumas, que de narcisistas, não têm nada. O que é raro, entre os arquitectos...
Ola
Antes de mais vao desculpar-me a falta de pontuacao no que vou escrever. A Lingua Portuguesa nao merece, mas esta porcaria deste teclado nao da para mais.
Sendo um jovem, dos muito jovens, arquitecto, pela saudosa e famosissima Escola do Porto (nao resisti a colocar ja o meu curriculo, a ver que reaccoes da, hehehe) e natural que o que va escrever possa nao fazer muito sentido, ou estar completamente ligado, mas isso tambem e porque a minha cabeca e um caos. Avante
Se calhar concordo com o discurso do Dionisio quando diz que o irrita quem tem a forca de ter um lugar no mundo para dizer qualquer coisa. Chamam-se charlatoes. Mas logo ai encontro uma substancia que ja desde os primeiros tempos de faculdade me causa confusao. E que o mundo vive, e sempre viveu, tambem de charlatoes.
Para alem da paixao, para quem a tiver, pela arquitectura, as vezes e conveniente pensar que e tambem e tao so uma profissao (cabe tao bem como qualquer outra na expressao "quando for grande quero ser..."), um ganha-pao, uma competicao, um mercado. E hoje cada vez mais existem nichos de mercado. E tambem que ha quem se esteja completamente nas tintas para a arquitectura, e que ache que somos todos uns tristes, que de facto somos, quando no nosso mundo nos degladiamos a ver quem tem maior consistencia de discurso.
Lembro-me de ler algo do Zevi, a respeito de Corbusier, que por palavras minhas citarei como "o seu objectivo e dar ao mundo obras com uma precisao matematica tao grande que deixaria todos com a boca aberta de espanto", ou coisa assim. E este "deixar todos com a boca aberta de espanto" que me interessa. Para mim a melhor destruicao de Corbusier que alguma vez se fez. E o discurso dos 5 principios, que mais foi senao o seu trampolim? Resultou, e muito. Nao estou a chamar charlatao ao Corbusier, para quem va fazer essa associacao e vir para aqui responder com violencia. Mas tambem nao anda longe disso.
Porque para alem dos arquitectos que podem ver para la destes discursos fantasticos, exixtem tantos outros que nao conseguem, e existe o "publico em geral", e e necessario deixa-los com a boca aberta de espanto, nao e?
As revistas sao parte desse mercado. Olhar para elas tambem como trampolins, meios de expansao, nao e perverso, e simplesmente natural. Para foruns de discussao existe tambem aqui a nossa internet, ou entao o muito melhor "vamos tomar um copo"?
Se calhar ja estou perdido, sem o fio do que queria dizer.
fico por aqui, a meio, por agora
Engracado
lembrei-me agora que, no CIAM X, quando o Team X fez a sua apresentacao e o seu discurso, Le Corbusier pediu uma interpelacao, apenas para dizer que nao tinha problemas nenhums com o discurso do Team X, porque eles eram "jovens e ainda nao tinham experiencia".
Certamente não fui claro.
Quando digo que a crítica feita por arquitectos "praticantes" cai no saco da dor de cotovelo, digo-o com pena. As críticas deste Blog são neste cenário uma excepção a esta regra; na realidade, lamento que possam ser confundidas com dor de cotovelo. E de facto, no que a este post diz respeito, não quis ser indelicado para com certo status quo vigente.
Obrigado a todos. É evidentemente bizantina (AM) a questão; e ninguém é assim tão ingénuo. Mas publicar por publicar ainda assim serve de pouca monta; sobretudo se o que publicarmos for de pouca monta.
Não que se ache por bem que apareçam à vista todos esses erros e essas tentativas mais ou menos falhadas. Mas, entenda-se, uma representação numa bienal ou coisa parecida deveria (aparentemente, Marmota) demonstrar mais do que apenas tentativas.
Em relação à dor de cotovelo: faz parte. Temos inveja dos que são melhores, dos que pensam melhor, dos que fazem melhor. É assim que sobrevivemos: alimentamo-nos de inveja. Resta-nos ser um pouco exigentes com a qualidade da nossa alimentação.
António (o do Porto): somos todos charlatões, pelo menos desde M. Duchamp. Espera-se, no entanto, um grau de intrujice que nos faça acreditar que de facto as coisas valem a pena ser feitas; coisa que aparentemente não se vai passando.
Dionísio,
Muito grato pelas palavras com as quais eu globalmente concordo. Interprete as minhas linhas como uma mera provocação; gosto de ruidosamente desaparafusar cadeiras e polas a voar, nem que seja pelo tecto destas catedrais.
Claro que me comovo quando vejo boas obras. Sejam elas na exposição, na revista ou, preferencialmente, ao vivo. Mas sabemos que os últimos anos têm sido marcados por um certo excesso de publicações, exposições e parca densidade teórica na defesa das mesmas. E tal tendência, só tende a desgastar ou a relativizar a prática arquitectónica, transformando, muitas vezes, bons exercícios em mais um subproduto de uma campanha qualquer, que apenas pretende vender ou aparecer.
Depois, temos ainda os inúmeros prémios e as obras alvo de qualquer convenção social de xaxa: nem tente contar o número de vezes em que a palavra “prémio” aparece associada a um trabalho ou a uma equipa. Até já o fabricante dos elevadores instituiu um prémio qualquer…Apesar da provocação, cultive-se a discrição e o aprofundamento da coisa.
RPinto
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