Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Quando as catedrais eram laranjas

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Orfanato [Actual Berlage Institut] , Amsterdam, Aldo Van Eyck, 1960 [via NY Times]

Se por um acaso, repentinamente, decidíssemos passar uns dias na arquitectura holandesa, provavelmente íamos desde logo a Roterdão, à Fábrica Van Nelle [Brinkman, 1931], que é o mais ortodoxo dos modernismos holandeses, e o mais belos deles todos. Haveria necessidade de espreitar essas outras pequeníssimas pérolas da ortodoxia moderna: a Casa Sonneveld, do mesmo Brinkman, em 1933, e aquilo que hoje em dia é chamado de Museu Chabot [G. Baas, 1938], sobretudo se aficionados fossemos do Corbusier.
Não seria mau passear umas horas pela zona comercial desenhada pela Bakema [há por lá uma excelente livraria], ir ao Boijmans Van Beuningen [o original, claro], para só depois descer ao NaI [o edifício é do J. Coenen, de 1993, mas nada de extraordinário], comprar aí um ou outro livro [na melhor livraria de arquitectura da cidade], atravessar o Museumpark [desenhado pelo Yves Brunier] e relembrar o Kunsthal [Oma, 1992], que é ainda o melhor Koolhaas dos Paises Baixos.
Com tempo sobrante tentaria um capuccino [senão uma dormida] no Hotel New York [que foi, durante os tempos da migração holandesa para a América, o ponto de partida de toda essa gente], bem na pontinha do Kop van Zuid [isto é: se tivesse paciência para atravessar a Ponte Erasmus e todo a parafernália arquitectónica dos finais de '90, onde o Siza esteve - quase quase - para construir aquelas torres revivalistas], seguindo logo a seguir viagem de barco Maas abaixo. Há pelo menos uma carreira comercial que atravessa o porto de Roterdão até Hoek van Holland, que nos leva à obra prima do J.J.P Oud: o Kiefhoak, dos anos 30.
Se houvesse tempo sobrante, não faria mal nenhum subir o Euromast [é feio, mas de lá de cima não o vemos], para o melhor bird-eye-view sobre a cidade.

Em Haia: o museu da cidade, chamado de Gemeentemuseum pelos habitantes locais [Berlage, 1935], seria paragem necessária. Do Berlage, ainda em Haia, há uma bela igreja [em inglês chama-lhe Christian Science Church] a não perder, antes mesmo de ir ao tal Bijenkorf. Evidentemente que não se dispensa uma volta lenta pelo Punkt em De Komma [Schilderswijk, Siza, 1988] e respectiva Casa das Bicicletas. Se quiséssemos [muito] ver o primeira grande salto em frente de Koolhaas [1987], bastar-nos-ia entrar pelo Dans Theater adentro [valeria sempre a pena: os espectáculos são muito bons], olhando, já agora, para o edifício em frente, do Hertzberguer [acho].
Em Haia há, claro, bizarrias pós-modernas pouco conhecidas: Grassi, Graves, Cezar Pelli, Rossi, Meier, etc; bem como uma daquelas experiências onde juntam uma data de arquitectos para fazer uma rua nova [projecto do Koolhaas, com experiências de Hadid e seus pares]; evidentemente dispensáveis à vista e ao gosto.

Em Amesterdão iríamos ao incontornável Sheepvaarthuis [que é agora uma hotel onde se deve passar pelo menos uma noite] do Van der May, do de Klerk e do Kramer [o arquitecto do Bijenkorf de Haia], de 1913, e ao mais do que obrigatório Het Schip [outra vez o de Klerk, em 1920] - que é agora o museu da Amsterdamse School, não havendo por isso sítio melhor para começar a viagem.
Em seguida, o Berlage Institut [que ocupa um antigo orfanato desenhado pelo Aldo van Eyck em 1960] saber dos doutoramentos. Não esquecendo evidentemente a Openluchtschool [Duiker, 1930], embora para ver Duiker não dispensasse nunca o Sanatório de Hillversun [1928]. E já que nos encontravamos em Hilversun, passavamos o resto do dia [mas não chega] para ver todo o Dudok.
Ainda em Amsterdam: o já referido De Dageraat [novamente de Klerk], e todo o restante manancial da Escola de Amesterdão. E aproveitava o dinheiro sobrante para uma visita à Architectura & Natura.

Por fim: Delft. Muito curto: a Aula Magna da TU Delft [van der Broke, Bakema, 1966] e, claro, a obra-prima de Hertzberger: Montessori.

Para lá dos clássicos, teríamos, claro, a nossa vida facilitada pelo Mimoa.
Mas provavelmente não era bem a mesma coisa.

4 comentários:

alma disse...

Se por acaso repentinamente decídessemos passar uns dias a Frankfurt provavelmente íamos ...?!
aceitam-se sugestões :)

AM disse...

parabéns Pedro (só de imaginar a trabalheira que isto deu)

as torres do Siza são revivalistas, os pós-modernos são bizarros, o kualhas... saltos em frente...
podia dizer que o kualhas é um revivalista bizarro, mas não digo, porque acho estas classificações completamente irrelevantes
o revivalismo, por exemplo, atirado à cara do cara, calculo que seja uma coisa péssima...
enfim
ando há uns tempos para escrever qualquer coisa sobre essa igreja do berlage (mas já tenho pouca paciência)

alma
em frankfurt não deve perder a famosa cozinha :)
não se esqueça de levar uma flor no cabelo :)))

Pedro Machado Costa disse...

Ob. pelas palavras. Ao revivalismo vejo-o de forma contrária. Mas admito que isso seja uma questão meramente pessoal.
Quanto à pretensa falta de paciência, diria que estaríamos exactamente no caminho oposto: cada dia que passa equivale ao ganho de um quinhão da mais pura paciência. Por outro lado, isto também é capaz de ser uma questão meramente pessoal.

Pedro Machado Costa disse...

Quanto a Frankfurt pouco ou nada poderia acrescentar.

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