Questiono-me acerca da popularidade da autores cuja complexidade da obra faria adivinhar uma difícil relação com aqueles que a procuram apreciar. Veja-se Lobo Antunes: a sua escrita não será propriamente consentânea com a aparente adesão massiva aos seus livros.
De facto a obra de Lobo Antunes tem vindo desde há muito a adensar-se. A abstractizar-se. Tornando a leitura cada vez mais exigente. Há, cada vez mais, frases cujo acabar só vai sendo encontrado por muita atenção, páginas à frente. Palavras deixadas a meio. Ou começadas desse meio para o fim; sendo a sua complitude alinhavada por uma frágil, brutal estrutura, cuja conjugação é tudo menos evidente.
Ao mesmo tempo que o desenvolvimento da obra nos vai embrenhando num mundo que não sabíamos existir, a escrita desprende-se da sua própria origem, libertando-se da referenciação inicial.
É nesse momento que percebemos estar perante algo único.
Acredito, evidentemente, que as Universidades onde se ensina literatura passem, a determinada altura, pelos lugares comuns; investindo só depois no único. Aprender literatura não é tarefa evidente, pelo que se impõe sabermos-lhe primeiro o óbvio, nem que seja para depois o deitar fora.
E no entanto há aqui uma dificuldade: como é que se ensina literatura pondo de parte a sua complexidade? O problema torna-se ainda mais evidente se falarmos de arquitectura: como é que se explica Lobo Antunes a um estudante de arquitectura?
O arquipélago da insónia
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Arquitectura
- ArchDaily
- Arquitectura Hoje
- Arquitextos
- a Barriga de um Arquitecto
- BldgBlog
- btbW architecture
- Coffee with an Architect
- a Daily Dose of Architecture
- Entschwindet und Vergeht
- Desconexo
- Design Observer
- Designboom
- o Desproposito
- Fantastic Journal
- Islas y Territorio
- Lebbeus Woods
- Metropolis Mag
- Noticias Arquitectura
- Plano Imprevisto
- Pedro Baía (Twitter)
- Shrapnel Contemporary
- Sub Real
- del Tirador a la Ciudad
e outras
Banalidades
Arquivo
-
▼
2009
(298)
-
▼
setembro
(28)
- Adenda à adenda anterior
- Adenda à entrada anterior
- Da ensaística generalizada
- A Montanha Mágica
- O arquipélago da insónia
- Anderson
- Adenda à entrada anterior
- Quando as catedrais eram laranjas
- Obra d'oiro
- We are the world
- A pergunta que [quase] todos fazem
- Elogia da filosofia para construir um mundo melhor
- Da evidente relação entre Bartleby e Bartlebooth
- Miami (Ad)Vice
- Adenda à entrada anterior
- Norte ao contrário
- [a]portoguese school
- Adenda à entrada anterior
- A nova arquitectura
- Possibilidades de terror
- Infra-estrutura
- Da geração que perdeu a curiosidade
- Princípio de Setembro
- Ora aí está
- Adenda à entrada anterior
- Try walking in my shoes
- Ressaca
- Do umbigo do mundo
-
▼
setembro
(28)
Tags
- [fev. 2009 - maio 2011]
- a.s*
- Aalto
- Adalberto Dias
- Adalberto Tenreiro
- Agostinho Ricca
- Aires Mateus
- Alexandre Alves Costa
- Alicia Guerrero Yeste
- Alison Smithson
- Alvaro Domingues
- Alvaro Leite Siza
- Alvaro Siza
- Ana Tostões
- Ana Vaz Milheiro
- Anatxu Zabalbeascoa
- André Tavares
- Angelo Invernizzi
- Anna Hering
- António Machado
- António Portugal e Manuel Reis
- Aravena
- Ariadna Cantis
- Arquitectura
- Arx
- Atelier Data
- Atelier do Corvo
- Baixa
- Bak Gordon
- Bakema
- banalidad
- Banalidades
- Barbosa e Guimarães
- Bernard Rudofsky
- Bernardo Rodrigues
- Bonet
- Braula Reis
- Bruno Baldaia
- Bruno Soares
- Buckminster Fuller
- Bunshaft
- Camilo Rebelo
- Candela
- Carlos Castanheira
- Carlos Couto
- Carlos Guimarães
- Carlos Marreiros
- Carlos Sambricio
- Carlos Sant'Ana
- Carlos Veloso
- Carrilho da Graça
- Cassiano Branco
- Charles Correia
- Charles Lee
- Chipperfield
- Cláudio Vilarinho
- Coderch
- Correia Ragazzi
- Correia Rebelo
- Cristina Diaz Moreno
- Cristino da Silva
- CvdB
- Daniel Carrapa
- David Adjaye
- de la Sota
- Delfim Sardo
- Didier Fiúza Faustino
- Diogo Aguiar
- Dulcineia Santos
- e Outras
- Efrén Garcia
- Egas José Vieira
- Eisenman
- Eládio Dieste
- Engelmann
- Enric Ruiz Geli
- Ettore Fagiuoli
- Falcão de Campos
- Federico Garcia Barba
- Fernando Guerra
- Fernando Martins
- Fernando Salvador
- Fernini
- Francisco Barata
- Francisco Castro Rodrigues
- Francisco do Vale
- Fredy Massad
- G. Byrne
- Galiano
- Gehry
- Gonçalo Afonso Dias
- Gonçalo Canto Moniz
- Gregotti
- Hasegawa
- Hejduk
- Hertzberger
- Herzog deMeuron
- Iñaki Ábalos
- Inês Lobo
- Inês Moreira
- Inquérito
- Jacinto Rodrigues
- Jean Nouvel
- João Amaro Correia
- João Belo Rodeia
- João Maia Macedo
- João Mendes Ribeiro
- João Paulo Cardielos
- João Santa Rita
- John Körmeling
- Jorge Figueira
- José Adrião
- José António Cardoso
- José Manuel Fernandes
- José Mateus
- José Miguel Rodrigues
- Judd
- Kahn
- Kaufmann
- Klerk
- Koening
- Kol de Carvalho
- Kramer
- Lautner
- Le Corbusier
- Livros
- Louis Arretche
- Machado Vaz
- Mackintosh
- Mangado
- Manuel Graça Dias
- Manuel Vicente
- Manuela Braga
- Marcos and Marjan
- Massimo Cacciari
- Melnikov
- Menos é Mais
- Mies
- Miguel Figueira
- Miguel Marcelino
- Miralles
- Moov
- Muf
- Nadir Bonaccorso
- Niemeyer
- Norman Foster
- Nuno Brandão Costa
- Nuno Grande
- Nuno Merino Rocha
- Nuno Portas
- Olgiati
- Paulo David
- Paulo Gouveia
- Paulo Mendes
- Paulo Mendes da Rocha
- Pedro Baía
- Pedro Bandeira
- Pedro Barreto
- Pedro Gadanho
- Pedro Jordão
- Pedro Jorge
- Pedro Maurício Borges
- Pedro Pacheco
- Pedro Reis
- Peter Smithson
- Pezo von Ellrichshausen
- Pietilä
- Portoghesi
- Prince Charles
- Quando as Catedrais
- Raul Martins
- Rem Koolhaas
- Ricardo Carvalho
- Richard Spence
- Rossi
- Rui Ramos
- Sáenz de Oiza
- Salgado
- Sami
- Sanaa
- Secil
- Sérgio Rodrigues
- Shulman
- Solano Benítez
- Souto de Moura
- Stefano Riva
- Steven Holl
- Stirling
- Sverre Fehn
- Teotónio Pereira
- Teresa Otto
- Tiago Mota Saraiva
- Toyo Ito
- Unidade
- Utzon
- Van den Broek
- Ventura Trindade
- Venturi
- Victor Figueiredo
- Vitor Mestre
- Vitor Piloto
- Zaha Hadid
- ZT Arq
2 comentários:
já tentei falar de Lobo Antunes a arquitectos (jovens, como eu) nao portugueses... e de Pessoa também..
há um equilibrio entre maturidade e interesse natural que tem que ser obtido. ninguem me explicou Lobo Antunes. primeiro tentaram explicar-me, com desenhos e palavras (q eu nao entendia), o que era arquitectura. demorou bastante, mas valeu a pena a insistencia...
coloco-me outra questao:
como se fala de arquitectura a quem nao é arquitecto?
Num dos muitos recortes de jornais que povoam esta casa, em entrevista, António Lobo Antunes exprime as suas inquietações. As mesmas que nos atravessam:
Maria Augusta Silva: A intensidade poética da sua prosa é para aliviar as tensões entre as personagens?
António Lobo Antunes: Não me é consciente. Uma coisa para mim é clara: tenho de proteger os meus ovos, que são os meus livros. Se racionalizar as coisas perco-as. Estaria a fechar as portas a mim mesmo e a essas coisas, que não sei bem se me pertencem, e emergem com essa força. Nos momentos felizes a mão anda sozinha. A cabeça está a ver ao longe e fica contente, porque são as palavras certas que a cabeça não encontraria. É a mão.
Maria Augusta Silva: Como dissocia o escritor da obra?
António Lobo Antunes: Não tenho bem a sensação de o livro nascer de mim. Faço a primeira versão, trabalho muito a segunda, no entanto, depois de entregar o livro, não vejo provas, não faço mais nada. Tudo o que quero é fazer outro. O livro só existe quando estou a escrever. E o tempo é-me muito curto. Se fizer mais dois ou três…
Maria Augusta Silva: Um autor acéfalo conseguirá realizar uma obra-prima?
Se tiver uma mão suficientemente grande… Prende-se com um conjunto de coisas: primeiro, é preciso ter lido muito. Aprende-se a escrever lendo. E também é necessária uma grande humildade face ao material de escrita. É a mão que escreve. A nossa mão é mais inteligente do que nós. Não é o autor que tem de ser inteligente, é a obra. O autor não escreve tão bem quanto os livros.
Maria Augusta Silva: Está a dizer-me que o livro, em relação ao autor, é uma mentira?
António Lobo Antunes: Estou a dizer que o livro é melhor do que eu. Não escrevo assim tão bem.
Enviar um comentário