Quando as Catedrais eram Brancas, notas breves sobre arquitectura e outras banalidades, por Pedro Machado Costa

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Da efemeridade da beleza e da fama

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Britney Spears, 2003, por James White, Esquire Nov. '03

Para quem estava à espera de uma espécie de Mike Tyson a puxar orelhas à dentada, a noite não foi propriamente espectacular .
Ainda assim Massad é criterioso na crítica que faz: não tanto ao starsystem mas sobretudo aos seus subprodutos que vão despontando como cogumelos aqui e ali. E isso é, na verdade, uma análise clara da produção arquitectónica na última década. Para lá dos lugares comuns - ainda assim uteis, sobretudo se pensarmos na composição da plateia- sobre a efemeridade da beleza e da fama que trespassa o discurso vagamente romântico e moralista de Massad, a pergunta, simples e directa, que o argentino lança não perde validade alguma: afinal esta arquitectura serve o quê?

No fundo Massad quer passar a ideia de que a instrumentalização da imagem não serve a arquitectura. Quer dizer: transfere o desejo, e torna-o em simples e banal objecto de trabalho da pornografia. O problema aqui é que a noite não terá sido suficientemente longa para percebermos qual será de facto a alternativa; isso se retirarmos as sugestões vagamente ecológicas ou neo-regionalistas - o típico erro dos românticos que me deixa arrepios na espinha- timidamente alinhavadas no seu discurso.

Bem sei que a responsabilidade da crítica pára nesse exacto momento em que a arquitectura começa. Embora Massad tenha procurado pôr o dedo na sua própria ferida, quando clama que as revistas devem assumir a sua quota-parte de culpa na desmoralização da arquitectura - ou seja, na transformação do objecto de desejo em pornografia -, ficou a ideia de não-retorno. Facto esse que nos torna a todos numa espécie de público-alvo da Hustler.

8 comentários:

João Amaro Correia disse...

dir-se-á que andamos todos aqui num imenso gang-bang.

j

AM disse...

de acordo
ouvimos a mesma conferência
mas... para além do "diagnóstico" o que é que sobra de... "propositivo"
a conferência tornou-se ela própria na vítima do "cul-de-sac" da starquitectura que procurou (com inteiro sucesso, diga-se) "acusar"
mais interessante poderia ter sido procurar outras práticas (injustamente) esquecidas
à maneira de "case studies" e "análises comparativas", por exemplo, como a que o Venturi faz no LLV
assim até parece que estamos condenados a escolher entre a "mui buena" arquitectura das starlets e a boa consciência "verde" dos muros de xisto...
e não estamos

Pedro Machado Costa disse...

É verdade, meu caro: ainda hoje, pela hora do café, concluia uma possivel conclusão das palavras da Massad: a validação dos regionalismos brancos. O que, sublinhe-se, seria uma péssima conclusão.

jraulcaires disse...

pelo contrário, acho que a responsabilidade crítica começa exactamente quando a Arquitectura começa...

Pedro Machado Costa disse...

não se trata de responsabilidade crítica; mas da responsabilidade da crítica: duas coisas distintas. Antagónicas por vezes

jraulcaires disse...

Eu optei por ignorar a responsabilidade da crítica, crítica que se tornou demasiadamanente corrente e a que falta tessitura e profundidade e a preferir a profundidade crítica.

Se formos bem a ver, nos nossos dias produz-se muito pouca crítica com conteúdo.

Tudo isto também me parece ser algo que caracteriza a produção arquitectónica nos nosos dias.

Depois de grandes utopias, depois de uma necessidade de resolver problemas, cada vez mais a arquitectura se situa no mesmo plano do mero Mrketing, é qualquer coisa que cada vez mais se prende mais com a mera imagem, algo dissociado da sociedade...

A arquitectura já nem faz parte do campo das artes visuais.

É apenas um "produto" que se vende como outro qualquer, com toda essa palafernália para encher o olho aos mais incautos, etc...

E que confusão. Tudo isto dava pano para mangas, mas fico-me por aqui. Porque tudo isto tem explicação e uma história.

Mas vivemos tempos complicados. Como dizia o outro, que vivas tempos interessantes...

Pedro Machado Costa disse...

Caro J Raul Caires: optar por ignorar a responsabilidade da crítica não invalida aceitar o facto que nunca se terá produzido tanta crítica como nos nossos dias. Trata-se aqui, como sempre, de seleccioná-la, à crítica.
Por outro lado parece-me que há aí um equívoco qualquer: se há coisa que define a sociedade actual, é exactamente a ideia de marketing: tudo é um produto para encher os olhos aos mais incautos.
Quanto a essa outra ideia na qual a arquitectura não faz parte do campo das artes (visuais?) fica por esclarecer.

patsp disse...

caro pmc: o último comentário deixou-me curiosa... faz-se muita crítica? onde? por quem? e estas perguntas não são uma armadilha!

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